São Paulo, terça-feira, 24 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Glória Pires estreia em "filme de autor"

Depois de "Lula, o Filho do Brasil", atriz volta à tela do Cine Brasília com longa "É Proibido Fumar", de Anna Muylaert

Comédia refinada traz no elenco Paulo Miklos e marca estreia de Pires em festivais e em cinema feito sem apoio de grandes produtoras


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

É como dona Lindu, a "mãe guerreira" de "Lula, o Filho do Brasil" que Glória Pires será vista, nas próximas semanas, em outdoors e comerciais de TV país afora. Mas é como Baby, a professora de violão de "É Proibido Fumar", que ela vive seu grande papel.
Pelas mãos da diretora Anna Muylaert, de "Durval Discos", a atriz foi colocada num outro trilho do cinema: aquele dos filmes de autor, feitos com dinheiro contado e pouco alarde. "Nunca tinha feito filme assim. Por ser uma produção menor, não imaginava que pudesse ser tão organizada", confessa.
Glória Pires, rosto dos blockbusters "Se Eu Fosse Você" e "A Partilha", tampouco havia participado de uma mostra competitiva num festival de cinema. "Sempre trabalhei com Luiz Carlos Barreto, Daniel Filho e a Total [produtora de "Se Eu Fosse...']. Os festivais não se interessam por esses filmes."
À margem do mainstream, ela descobriu não só o empolgado público do festival como o buffet de fim de noite do antigo Hotel Nacional, onde produtores, jornalistas e curta-metragistas se reúnem. Após a aplaudida exibição de "É Proibido Fumar", no domingo, a atriz estava visivelmente feliz com os elogios e com a tardia estreia nesse cinema que, feito sem as subsidiárias de Hollywood ou a Globo, tem um quê de lado B.
Também os personagens de Muylaert são, um pouco, o lado B de uma sociedade que vende sucesso, beleza e amores ideais como valores supremos. Baby é a quarentona que vive sozinha no apartamento herdado da mãe, decorado à anos 50, ensina violão para alunos pouco talentosos e leva a vida sem maiores emoções ou dramas.
Max, vivido por um Paulo Miklos de ar malandro, é o músico que se muda para o apartamento vizinho e engata um romance com ela. Como sua nova paixão detesta cigarro, Baby passa a frequentar um grupo de autoajuda e, um gole de água mineral aqui, um mantra ali, para de fumar. A partir desse enredo, Muylaert soube armar diálogos e cenas que, entre o absurdo e a ironia afiada, guardam boa dose de afeto.
"O filme era uma espécie de crítica ao casamento, àquilo que você perde quando casa", define a cineasta. "Mas o Paulo e a Glória entenderam aquilo como um amor que, mesmo não sendo uma grande história, é o amor possível. Deixaram minha ironia mais amorosa."
Para Pires, "É Proibido Fumar" trata, sobretudo, da rede invisível de proteções que criamos ao nosso redor. "O cigarro é uma dessas proteções", diz ela que, como a diretora, começou a fumar aos 12 anos. Ambas são ex-fumantes. Cabe anotar que, piadas à parte, o filme não ergue a bandeira antitabagista.
A exemplo de "Durval Discos", o longa-metragem, que entra em cartaz no próximo dia 4, lança mão da música, da solidão e do tempo meio fora de lugar para rir do estado de coisas de mundo. Mas, desta vez, Muylaert surge não só mais engraçada como mais terna. "Eu não queria perder a potência, mas também tinha vontade de chegar mais perto do público", diz. Conseguiu.


Texto Anterior: Bob Dylan para vovós
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.