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Glória Pires estreia em "filme de autor"
Depois de "Lula, o Filho do Brasil", atriz volta à tela do Cine Brasília com longa "É Proibido Fumar", de Anna Muylaert
Comédia refinada traz no elenco Paulo Miklos e marca estreia de Pires em festivais e em cinema feito sem apoio de grandes produtoras
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
É como dona Lindu, a "mãe
guerreira" de "Lula, o Filho do
Brasil" que Glória Pires será
vista, nas próximas semanas,
em outdoors e comerciais de
TV país afora. Mas é como
Baby, a professora de violão de
"É Proibido Fumar", que ela vive seu grande papel.
Pelas mãos da diretora Anna
Muylaert, de "Durval Discos", a
atriz foi colocada num outro
trilho do cinema: aquele dos filmes de autor, feitos com dinheiro contado e pouco alarde.
"Nunca tinha feito filme assim.
Por ser uma produção menor,
não imaginava que pudesse ser
tão organizada", confessa.
Glória Pires, rosto dos blockbusters "Se Eu Fosse Você" e "A
Partilha", tampouco havia participado de uma mostra competitiva num festival de cinema. "Sempre trabalhei com
Luiz Carlos Barreto, Daniel Filho e a Total [produtora de "Se
Eu Fosse...']. Os festivais não se
interessam por esses filmes."
À margem do mainstream,
ela descobriu não só o empolgado público do festival como o
buffet de fim de noite do antigo
Hotel Nacional, onde produtores, jornalistas e curta-metragistas se reúnem. Após a aplaudida exibição de "É Proibido
Fumar", no domingo, a atriz estava visivelmente feliz com os
elogios e com a tardia estreia
nesse cinema que, feito sem as
subsidiárias de Hollywood ou a
Globo, tem um quê de lado B.
Também os personagens de
Muylaert são, um pouco, o lado
B de uma sociedade que vende
sucesso, beleza e amores ideais
como valores supremos. Baby é
a quarentona que vive sozinha
no apartamento herdado da
mãe, decorado à anos 50, ensina violão para alunos pouco talentosos e leva a vida sem maiores emoções ou dramas.
Max, vivido por um Paulo
Miklos de ar malandro, é o músico que se muda para o apartamento vizinho e engata um romance com ela. Como sua nova
paixão detesta cigarro, Baby
passa a frequentar um grupo de
autoajuda e, um gole de água
mineral aqui, um mantra ali,
para de fumar. A partir desse
enredo, Muylaert soube armar
diálogos e cenas que, entre o
absurdo e a ironia afiada, guardam boa dose de afeto.
"O filme era uma espécie de
crítica ao casamento, àquilo
que você perde quando casa",
define a cineasta. "Mas o Paulo
e a Glória entenderam aquilo
como um amor que, mesmo
não sendo uma grande história,
é o amor possível. Deixaram
minha ironia mais amorosa."
Para Pires, "É Proibido Fumar" trata, sobretudo, da rede
invisível de proteções que criamos ao nosso redor. "O cigarro
é uma dessas proteções", diz ela
que, como a diretora, começou
a fumar aos 12 anos. Ambas são
ex-fumantes. Cabe anotar que,
piadas à parte, o filme não ergue a bandeira antitabagista.
A exemplo de "Durval Discos", o longa-metragem, que
entra em cartaz no próximo dia
4, lança mão da música, da solidão e do tempo meio fora de lugar para rir do estado de coisas
de mundo. Mas, desta vez,
Muylaert surge não só mais engraçada como mais terna. "Eu
não queria perder a potência,
mas também tinha vontade de
chegar mais perto do público",
diz. Conseguiu.
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