São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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MÚSICA

"Quero algo que seja de grande escala e underground", diz Hawtin

Dj canadense lança coletânea com álbuns experimentais que o consagraram nos anos 1990

Músico fez os trabalhos com o codinome de Plastikman; novo CD está disponível apenas na internet, até 31/12

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

O canadense Richie Hawtin é um velho conhecido das principais casas de música eletrônica do Brasil.
Bem menos divulgado por aqui é o projeto Plastikman, que o consagrou em meados dos anos 90, quando a cena brasileira de tecno era micro.
Sob a alcunha Plastikman, Hawtin criou um som inconfundível. Lento, dark e cerebral. Ao mesmo tempo complexo e ultraminimalista.
Engavetado desde 2003, quando ele passou a se dedicar só à discotecagem, o projeto foi relançado. Uma coletânea da obra de Plastikman, "Arkives", está disponível(apenas no site www.m-nus.com) até 31/ 12.
Hawtin conversou com a Folha em São Paulo, no último dia 15, após apresentar-se pela primeira vez no Brasilcomo Plastikman.

Folha - Por que ressuscitar o projeto Plastikman?
Richie Hawtin-É um projeto que volta toda vez que sinto que tenho algo para dizer. Um ano atrás, após longa observação da cena de música eletrônica, senti que estava faltando algo em termos de live [apresentações nas quais os músicos tocam suas próprias composições por meio de computadores].
Há muitos shows de fundo de quintal com laptop, e, no outro extremo, há gente como Fatboy Slim, Chemical Brothers, Underworld, que é, antes de tudo, comercial.
Percebi que me encontro a meio caminho entre os dois lados. Quero algo que possa ser ao mesmo tempo de grande escala e underground.
Quando comecei a trabalhar no show, me dei conta de que há uma geração de jovens que não conhecem Plastikman. Hoje posso ter 20 mil pessoas que vêm me ver tocar como DJ, mas muitos deles nem tinham nascido quando lancei Plastikman.

Como explicaria a um leigo a diferença entre as suas facetas DJ e Plastikman?
Como DJ, sempre uso música de outras pessoas para criar uma experiência. Isso supõe limitações. Já o show do Plastikman é a experiência Richie Hawtin em sua plenitude. Tudo é meu, conectado a mim. É mais profundo, mais dark, mais louco. É um som mais underground que o dos meus sets.

Por que colocar "Arkives" à venda só na internet?
Não acho que tudo deva estar disponível para todo mundo. Gosto da ideia de que alguns objetos são parte de uma edição limitada, destinada a pessoas que realmente os querem. Por isso, só vamos produzir os "Arkives" que forem pedidos. No fundo, esse é o caminho para a indústria musical.
Muita gente reclama de tempos ruins, mas acho que o setor só está em dificuldade comercial por ter reduzido tudo a um grande negócio. A indústria não foi honesta com o consumidor: preços altos, música de merda e muitas coletâneas vazias.

De onde vem o nome Plastikman?
A ideia inicial era criar um álbum para se ouvir no fim da noite. É quando as pessoas estão mais livres e abertas, como se fossem elásticas e maleáveis. Aí é onde entra Plastikman.

As drogas influenciam sua criação?
Boa parte da obra Plastikman é inspirada em viagens de ácido. A música em geral é uma área onde as pessoas experimentam coisas, vestem novas roupas e peles, descobrem quem elas são na noite.
A música eletrônica leva essa lógica ao extremo. Depois de ouvir um álbum, as pessoas pensam: "Meu Deus, algo maravilhoso acaba de ocorrer". Isso pode rolar por meio de uma viagem de ácido ou por uma intensa viagem puramente musical, completamente sóbrio.


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