SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

É possível ler a história da música a partir dos graus de interação entre estrutura e idiomatismo: de um lado, a ênfase na composição, criação e elaboração; de outro, o foco no intérprete, o efeito virtuoso como fim.
O recital do violinista israelense Itzhak Perlman com o pianista Rohan De Silva, nascido no Sri Lanka, anteontem na Sala São Paulo -última atração de 2010 da Sociedade de Cultura Artística- transitou de um lado a outro do pêndulo.
Três quartos do concerto foram ocupados por obras centrais do repertório para violino e piano: as sonatas "K.454" de Mozart (1756-1791), "Op.18" de Richard Strauss (1864-1949) e em sol menor de Claude Debussy (1862-1918), cada uma com três movimentos.
Elas resolvem de diferentes modos o equilíbrio entre os instrumentos, já que a dificuldade é evitar que o piano seja um mero acompanhamento ou que uma partitura pianística sofisticada torne o violino redundante.
A obra de Mozart é uma de suas mais bem-sucedidas experiências no gênero, enquanto a peça de Strauss revela um artista que ainda não havia encontrado a própria voz. Parecia-nos ouvir um impecável e perfeito CD -o que não seria pouco- , mas, no "Intermède" de Debussy, o duo Perlman-Silva atingiu o ponto em que não é mais possível separar a beleza da frase escrita da leitura dos intérpretes.
Daí em diante -em sua cadeira de rodas motorizada, com o Stradivarius de 1714- Perlman passou a anunciar do palco sete peças pirotécnicas, executadas de maneira assombrosa. Predominaram composições e arranjos de Fritz Kreisler (1875-1962), como "La Gitana", "Liebesleid" e um pastiche de Louis Couperin (1626-1661). Para deleite do público, eles voltaram para um bis "oficial": "La Ronde des Lutins", um "scherzo fantástico" escrito pelo italiano Antonio Bazzini (1818-1897).

ITZHAK PERLMAN COM ROHAN DE SILVA
AVALIAÇÃO ótimo


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