São Paulo, Sexta-feira, 24 de Dezembro de 1999


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Banco oferece Rede TV! ao capital estrangeiro


Divulgação
João Kléber, do humorístico "Te Vi na TV", maior ibope da rede



Relatório diz que emissora, que já corta gastos, é "oportunidade de se adquirir a última rede de TV disponível no Brasil"
DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Com novos donos desde maio deste ano, as cinco concessões da antiga TV Manchete, hoje Rede TV!, já estão sendo oferecidas a investidores dentro e fora do país.
Documento obtido pela Folha, um "business plan" (plano comercial) feito pelo banco de investimentos Lehman Brothers, dos EUA, confirma que a Rede TV! está procurando parceiros.
Logo na introdução, o relatório de 50 páginas diz em língua inglesa que "o investimento racional para a aquisição das concessões da TV Manchete" é a "oportunidade de adquirir a última rede nacional de TV do Brasil, a décima maior economia do mundo, onde não haverá mais concessões para redes abertas, que foram limitadas ao número de cinco".
Apesar do tom de anúncio de classificado, o "business plan" não está necessariamente colocando a Rede TV! à venda, até mesmo porque a Constituição brasileira veta sócios estrangeiros em empresas de televisão.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o mais provável é que o documento sirva para seduzir investidores a comprar títulos de dívida conversíveis, no futuro, em cotas ou ações da emissora.
Esses títulos funcionam como empréstimos, e as cotas ou ações, como garantia.
Em maio, quando as concessões foram transferidas para os empresários Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho Fragali, do grupo TeleTV, o Lehman Brothers apresentou ao ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, um documento em que se comprometia a captar no exterior US$ 50 milhões para a rede.
Em nenhum momento o relatório do banco, que assessorou a TeleTV na compra das concessões, informa que a legislação brasileira impede sócios estrangeiros em empresas de radiodifusão.
Há uma proposta de emenda à Constituição, em tramitação na Câmara dos Deputados, que permite a participação de até 30% de capital internacional nesse tipo de empresa, mas só deve ser apreciada pelos deputados em 2000.
Marcelo de Carvalho Fragali, vice-presidente da TV Ômega Ltda. (a razão social da Rede TV!), confirma a autenticidade do relatório e diz que o documento está sendo analisado apenas por investidores brasileiros.
Fragali nega que seu grupo esteja passando por uma crise financeira, mas afirma que, dos R$ 100 milhões que está investindo na Rede TV!, cerca de R$ 40 milhões vêm de linhas de financiamentos nacionais. Um empresário brasileiro, no entanto, recebeu por telefone do Lehman Brothers a informação de que a "rede está à venda no mercado mundial".
O relatório do Lehman Brothers, ao oferecer as concessões da Manchete como "uma oportunidade" de adquirir a última rede de TV "disponível no Brasil", e o fato de a Rede TV! admitir que tomou emprestados cerca de R$ 40 milhões estimulam as suspeitas do mercado em torno da capacidade econômico-financeira dos compradores da Manchete.
O próprio documento afirma que o grupo TeleTV (que inclui empresas de tecnologia de informação e que promovia telessorteios) faturou R$ 460 milhões no ano passado.
No entanto, em agosto deste ano, a Folha publicou reportagem, baseada em balanços, que comprovava que o faturamento do grupo no ano passado foi R$ 79,536 milhões -e não R$ 460 milhões. Na época, Amilcare Dallevo Jr. admitiu que suas empresas movimentaram "cerca de R$ 400 milhões", mas que faturaram, de fato, R$ 79,536 milhões.
Outros sintomas de que o grupo TeleTV passa por crise financeira vieram à tona nas últimas semanas. Primeiro, a Rede TV! deixou de pagar, em 28 de novembro, a sétima parcela dos salários atrasados dos antigos funcionários da TV Manchete, uma das condições para a transferência das concessões.
A Rede TV! afirma que o dinheiro poderia ser sequestrado por credores da TV Manchete, mas a Consolidação das Leis Trabalhistas protege os empregados.
Neste mês, a Rede TV! teve problemas com empresas que alugavam equipamentos para gravações. Três fornecedores confirmaram à Folha que, por falta de pagamentos, retiraram equipamentos (câmeras, principalmente) entre os dias 8 e 10.
Em seguida, no dia 15, a Rede TV! anunciou que não iria mais pagar os salários de cerca de 1.300 dos 1.600 funcionários que herdara da Manchete. Os funcionários não foram demitidos, simplesmente deixaram de trabalhar e de receber salários.
Outro indicador da falta de dinheiro na nova rede de televisão são os números de títulos protestados em cartórios.
Até novembro, a TV Ômega Ltda., fundada em 97, nunca tinha sido protestada.
Em 10 de dezembro, no entanto, já acumulava 24 protestos, que totalizavam R$ 65,8 mil. No dia 17, os protestos já eram 33 (R$ 96,1 mil). Na última terça, o total de títulos subiu para 50, e a dívida, para R$ 143,6 mil.


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