São Paulo, segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

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Crítica

Embalagem não compensa falhas da trama

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Cinema industrial é sempre negócio. Filmes vindos desse espectro respeitam obrigatoriamente a uma lógica comercial que busca prever, entre outros aspectos, o melhor caminho para atingir seu nicho de público. Mas, quando a preocupação com o negócio é hipertrofiada, como em "A Bússola de Ouro", quem padece é o cinema, o que compromete, no fim das contas, o próprio negócio.
Responsável pela trilogia "O Senhor dos Anéis" (2001-2003), a produtora New Line embalou para a mídia a adaptação do primeiro romance da trilogia "Fronteiras do Universo", de Philip Pullman, como se tivesse em mãos algo tão rico, prestigioso e sedimentado no tempo quanto a obra de J.R.R. Tolkien. Não tinha.
Ainda assim, anunciou que contratos já haviam sido fechados para as filmagens de mais dois longas e tratou "A Bússola de Ouro" como primeiro capítulo, com final inconcluso. A decepcionante bilheteria nos EUA talvez encerre tudo por aí mesmo ou force brutal revisão de planos.
Além da diferença de matéria-prima, o diretor e roteirista Chris Weitz ("American Pie", "Um Grande Garoto") não é Peter Jackson, o obstinado arquiteto de "O Senhor dos Anéis". O registro imposto por Weitz se pretende épico, mas não contempla adequadamente pré-requisitos do gênero, como construção laboriosa de personagens e de suas missões.
Lorde Asriel (Daniel Craig), tio da menina Lyra (Dakota Blue Richards), e Sra. Coulter (Nicole Kidman), interpretados pelos maiores astros do elenco, são apenas rabiscados pelo filme, mais empenhado nas gratificações do parque de diversões dos efeitos especiais do que nas recompensas de uma boa dramaturgia.
A opção gera problemas costumeiros em superproduções contemporâneas, com destaque, aqui, para a limitação de público: não se trata, como gostaria a New Line, de produto para "todas as idades", e sim de um longa de férias para crianças que pais serão obrigados a assistir para acompanhá-las. Universos de características visuais rebuscadas e criaturas extraordinárias, como o de "A Bússola de Ouro", puderam chegar ao cinema nos últimos anos graças a processos digitais de realização, mas só ampliam seu público se têm algo mais sólido a oferecer.


A BÚSSOLA DE OURO
Direção:
Chris Weitz
Com: Nicole Kidman, Daniel Craig, Dakota Blue Richards
Produção: Inglaterra/EUA, 2007
Onde: Bristol 1 e circuito
Avaliação: regular


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