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Crítica
Embalagem não compensa falhas da trama
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Cinema industrial é
sempre negócio. Filmes vindos desse espectro respeitam obrigatoriamente a uma lógica comercial que busca prever, entre outros aspectos, o melhor caminho para atingir
seu nicho de público. Mas,
quando a preocupação com o
negócio é hipertrofiada, como em "A Bússola de Ouro",
quem padece é o cinema, o
que compromete, no fim das
contas, o próprio negócio.
Responsável pela trilogia
"O Senhor dos Anéis" (2001-2003), a produtora New Line
embalou para a mídia a adaptação do primeiro romance
da trilogia "Fronteiras do
Universo", de Philip Pullman, como se tivesse em
mãos algo tão rico, prestigioso e sedimentado no tempo
quanto a obra de J.R.R. Tolkien. Não tinha.
Ainda assim, anunciou que
contratos já haviam sido fechados para as filmagens de
mais dois longas e tratou "A
Bússola de Ouro" como primeiro capítulo, com final inconcluso. A decepcionante
bilheteria nos EUA talvez
encerre tudo por aí mesmo
ou force brutal revisão de
planos.
Além da diferença de matéria-prima, o diretor e roteirista Chris Weitz ("American Pie", "Um Grande Garoto") não é Peter Jackson, o
obstinado arquiteto de "O
Senhor dos Anéis". O registro imposto por Weitz se
pretende épico, mas não
contempla adequadamente
pré-requisitos do gênero, como construção laboriosa de
personagens e de suas missões.
Lorde Asriel (Daniel
Craig), tio da menina Lyra
(Dakota Blue Richards), e
Sra. Coulter (Nicole Kidman), interpretados pelos
maiores astros do elenco, são
apenas rabiscados pelo filme, mais empenhado nas
gratificações do parque de
diversões dos efeitos especiais do que nas recompensas de uma boa dramaturgia.
A opção gera problemas
costumeiros em superproduções contemporâneas,
com destaque, aqui, para a limitação de público: não se
trata, como gostaria a New
Line, de produto para "todas
as idades", e sim de um longa
de férias para crianças que
pais serão obrigados a assistir para acompanhá-las.
Universos de características visuais rebuscadas e criaturas extraordinárias, como
o de "A Bússola de Ouro", puderam chegar ao cinema nos
últimos anos graças a processos digitais de realização,
mas só ampliam seu público
se têm algo mais sólido a oferecer.
A BÚSSOLA DE OURO
Direção: Chris Weitz
Com: Nicole Kidman, Daniel
Craig, Dakota Blue Richards
Produção: Inglaterra/EUA, 2007
Onde: Bristol 1 e circuito
Avaliação: regular
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