São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2005

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MERCADO EDITORIAL

Efeméride paulistana, que termina hoje com 451º aniversário, rende 10 mil páginas sobre a cidade

"SP, 450 anos" deixa "arranha-céu" de livros

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando acordar amanhã, com a ressaca do aniversário da véspera, a capital paulista vai lavar o rosto cantarolando alguma coisa no estilo "é que São Paulo acha feio o que não é espelho".
A cidade, que ontem terminou seu ciclo de comemorações de 450 anos, pode não ter mudado significativamente seu visual, mas nunca viu tantos reflexos de si mesma quanto em 2004. E os livros foram os principais espelhos.
"Nunca se publicou tanto sobre São Paulo quanto em 2004", afirma Elias Thomé Saliba, professor de história da USP.
De 25 de janeiro de 2004 até hoje, quando serão lançados duas publicações paulistanas, foram impressas mais de 10 mil páginas sobre o tema.
Tem São Paulo para todos os escaninhos. A pilha de lançamentos inclui publicações iconográficas, reedições de livros de história ou ficção, coletâneas de artigos e pesquisas sobre pontos específicos da vida da cidade.
Organizadora do trabalho de mais peso (de mais volume e de outros "mais"), "História da Cidade de São Paulo" (Paz e Terra), a historiadora Paula Porta destaca do pacotão de lançamentos os que reúnem iconografia, especialmente fotografia, da cidade.
"Livros como o do Instituto Moreira Salles ["São Paulo, 450 Anos" (Cadernos de Literatura Brasileira)] deixaram disponíveis fotografias importantes da cidade que já eram conhecidas, mas só podiam ser encontradas em arquivos", afirma.
Apesar de elogiar algumas publicações, a historiadora, que ao longo da pesquisa para sua obra elencou uma lista de significativas 1.800 teses sobre a cidade, diz que o número de livros sobre São Paulo ainda é pequeno e que esperava que os 450 anos trouxessem mais lançamentos.
O outro "surto" de publicações paulistanas, nas comemorações do quarto centenário, deixou um número mais restrito de livros, afirma ela, mas obras de grande importância, como "A Formação Histórica de São Paulo", de Richard Morse (que seria reeditada em 2004 pela editora 34).
Testemunha das duas histórias, Hernâni Donato, 83, concorda com sua colega. O historiador, que foi chefe do Setor de Festejos Populares do Comitê dos 400 Anos de São Paulo, em 1954, aponta dois perfis diferentes nos pacotões de lançamentos gerados pelos dois oba-obas paulistanos.
"Em 1954 a preocupação foi oficializada e altamente cultural. A Comissão do Quarto Centenário contratou grandes historiadores, incluindo o português Jaime Cortesão e o brasileiro Ernani da Silva Bruno, para produzir publicações de peso. Eram trabalhos mais voltados para a universidade, não se pensava no público", afirma.
A literatura de 54 era também muito mais "de exaltação". "São Paulo vivia sua apoteose." Esse clima também se refletia nos festejos que Donato ajudou a organizar, como a famosa "chuva de prata" ou um desfile por toda a cidade de um conjunto de 21 circos.
"Já em 2004, o mais importante foi o volume de publicações sobre a cidade. O que não se pôde fazer nas ruas fez-se nos prelos", crava.
Thomé Saliba expressa dúvidas sobre a penetração popular dos diversos lançamentos recentes sobre a cidade. Ele destaca como uma das obras de mais ressonância um livro de 2003: "A Capital da Solidão" (Objetiva, R$ 62,90, 560 págs.), "biografia" da cidade até 1900 feita pelo jornalista Roberto Pompeu de Toledo.
Dos demais títulos, Saliba chama a atenção ainda para a recuperação de esquecidas vozes paulistanas. "O afã de publicar sobre São Paulo foi tamanho que duas editoras publicaram o mesmo livro de um autor como Sylvio Floreal, que quatro anos atrás não era lembrado por ninguém."
O historiador, que está para publicar um volume com textos de um "primo" de Floreal, o cronista José Agudo, na coleção Paulicéia, afirma que lançamentos sobre a cidade ainda continuarão nos próximos meses -entre as próximas publicações cita um número especial da "Revista da USP".
A "identidade paulistana", um dos temas principais estudados por Saliba, porém, não foi dos mais contemplados pela bibliografia dos 450 anos.
Do ponto de vista temático, as áreas de história e urbanismo foram as que orientaram os principais lançamentos, casos de "São Paulo: Três Cidades em um Século", de Benedito Lima de Toledo, ou "São Paulo - Vila/Cidade/Metrópole", de Nestor Goulart Reis.
Balanço geral dos lançamentos? Saliba, Porta e Donato concordam que a digestão vai levar um tempo. Antes de 2054 saberemos.


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