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MERCADO EDITORIAL
Efeméride paulistana, que termina hoje com 451º aniversário, rende 10 mil páginas sobre a cidade
"SP, 450 anos" deixa "arranha-céu" de livros
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando acordar amanhã, com a
ressaca do aniversário da véspera,
a capital paulista vai lavar o rosto
cantarolando alguma coisa no estilo "é que São Paulo acha feio o
que não é espelho".
A cidade, que ontem terminou
seu ciclo de comemorações de 450
anos, pode não ter mudado significativamente seu visual, mas
nunca viu tantos reflexos de si
mesma quanto em 2004. E os livros foram os principais espelhos.
"Nunca se publicou tanto sobre
São Paulo quanto em 2004", afirma Elias Thomé Saliba, professor
de história da USP.
De 25 de janeiro de 2004 até hoje, quando serão lançados
duas publicações paulistanas, foram impressas mais de
10 mil páginas sobre o tema.
Tem São Paulo para todos os escaninhos. A pilha de lançamentos
inclui publicações iconográficas,
reedições de livros de história ou
ficção, coletâneas de artigos e pesquisas sobre pontos específicos da
vida da cidade.
Organizadora do trabalho de
mais peso (de mais volume e de
outros "mais"), "História da Cidade de São Paulo" (Paz e Terra),
a historiadora Paula Porta destaca
do pacotão de lançamentos os
que reúnem iconografia, especialmente fotografia, da cidade.
"Livros como o do Instituto
Moreira Salles ["São Paulo, 450
Anos" (Cadernos de Literatura
Brasileira)] deixaram disponíveis
fotografias importantes da cidade
que já eram conhecidas, mas só
podiam ser encontradas em arquivos", afirma.
Apesar de elogiar algumas publicações, a historiadora, que ao
longo da pesquisa para sua obra
elencou uma lista de significativas
1.800 teses sobre a cidade, diz que
o número de livros sobre São Paulo ainda é pequeno e que esperava
que os 450 anos trouxessem mais
lançamentos.
O outro "surto" de publicações
paulistanas, nas comemorações
do quarto centenário, deixou um
número mais restrito de livros,
afirma ela, mas obras de grande
importância, como "A Formação
Histórica de São Paulo", de Richard Morse (que seria reeditada
em 2004 pela editora 34).
Testemunha das duas histórias,
Hernâni Donato, 83, concorda
com sua colega. O historiador,
que foi chefe do Setor de Festejos
Populares do Comitê dos 400
Anos de São Paulo, em 1954,
aponta dois perfis diferentes nos
pacotões de lançamentos gerados
pelos dois oba-obas paulistanos.
"Em 1954 a preocupação foi oficializada e altamente cultural. A
Comissão do Quarto Centenário
contratou grandes historiadores,
incluindo o português Jaime Cortesão e o brasileiro Ernani da Silva
Bruno, para produzir publicações
de peso. Eram trabalhos mais voltados para a universidade, não se
pensava no público", afirma.
A literatura de 54 era também
muito mais "de exaltação". "São
Paulo vivia sua apoteose." Esse
clima também se refletia nos festejos que Donato ajudou a organizar, como a famosa "chuva de
prata" ou um desfile por toda a cidade de um conjunto de 21 circos.
"Já em 2004, o mais importante
foi o volume de publicações sobre
a cidade. O que não se pôde fazer
nas ruas fez-se nos prelos", crava.
Thomé Saliba expressa dúvidas
sobre a penetração popular dos
diversos lançamentos recentes
sobre a cidade. Ele destaca como
uma das obras de mais ressonância um livro de 2003: "A Capital
da Solidão" (Objetiva, R$ 62,90,
560 págs.), "biografia" da cidade
até 1900 feita pelo jornalista Roberto Pompeu de Toledo.
Dos demais títulos, Saliba chama a atenção ainda para a recuperação de esquecidas vozes paulistanas. "O afã de publicar sobre
São Paulo foi tamanho que duas
editoras publicaram o mesmo livro de um autor como Sylvio Floreal, que quatro anos atrás não era
lembrado por ninguém."
O historiador, que está para publicar um volume com textos de
um "primo" de Floreal, o cronista
José Agudo, na coleção Paulicéia,
afirma que lançamentos sobre a
cidade ainda continuarão nos
próximos meses -entre as próximas publicações cita um número
especial da "Revista da USP".
A "identidade paulistana", um
dos temas principais estudados
por Saliba, porém, não foi dos
mais contemplados pela bibliografia dos 450 anos.
Do ponto de vista temático, as
áreas de história e urbanismo foram as que orientaram os principais lançamentos, casos de "São
Paulo: Três Cidades em um Século", de Benedito Lima de Toledo,
ou "São Paulo - Vila/Cidade/Metrópole", de Nestor Goulart Reis.
Balanço geral dos lançamentos?
Saliba, Porta e Donato concordam que a digestão vai levar um
tempo. Antes de 2054 saberemos.
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