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Crítica
Diretor acerta ao optar por ritmo de game
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Quando Mel Gibson
anunciou que faria
um filme sobre o fim
do império maia, depois de
ter cometido o infame "Paixão de Cristo", muitos esperaram algo ainda pior. Imaginava-se que o diretor levaria
mais longe a imposição da
violência obscena, tal como
vista nas imagens do martírio cristão, em nome de uma
suposta autenticidade.
Quem esperar isso de
"Apocalypto" não se enganará, mas aqui o diretor submete suas fixações a outro modelo de cinema, e o resultado
não decepciona.
Pois a busca por uma autenticidade (lotada de equívocos históricos, segundo especialistas em culturas pré-colombianas) não visa aqui a
uma suposta verdade original. É o investimento monumental na direção de arte e
no desenho de produção que
leva "Apocalypto" a alcançar
seu principal objetivo: ser
um espetáculo de ação de tirar o fôlego.
Nessa história de martírio,
o que interessa a Gibson é
menos transitar pelo terreno
da espiritualidade. O modo
como constrói o filme, remetendo-o a uma estrutura do
cinema americano clássico
dominante desde que Griffith estabeleceu os códigos
da ação e da emoção há quase
um século, entrega ao público aquilo que ele mais procura: entretenimento.
Apesar de o diretor alegar
ter feito uma crítica à lógica
de dominação dos impérios
(tendo as atitudes bélicas de
George W. Bush na mira), isso pouco importa. O que Gibson de fato realizou tem a ver
com sua fixação no martírio
do herói, tema que o persegue desde os tempos de ator,
quando se tornou célebre na
série "Mad Max".
Em vez de um épico histórico sobre povos extintos ou
uma reinterpretação metafísica da chegada do homem
branco às Américas (como
"O Novo Mundo", de Terrence Malick), Gibson optou por
um espetáculo em ritmo de
game passado na selva. E
conseguiu plenamente.
APOCALYPTO
Direção: Mel Gibson
Produção: EUA, 2006
Com: Rudy Youngblood, Dalia Hernandez, Jonathan Brewer
Quando: em cartaz a partir de hoje no Espaço Unibanco e circuito
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