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Música - Crítica/"Piano Music of Brazil"
Monteiro interpreta brasileiros com excelência
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nem só de Villa-Lobos
vive a música erudita
brasileira. Em "Piano
Music of Brazil", álbum lançado no Reino Unido, Eduardo
Monteiro faz um brilhante panorama de nossa produção para piano no século 20.
Villa, claro, está lá, com as
"Impressões Seresteiras" que
Monteiro tão bem vem tocando
em seus recitais. Mas há muito
mais -um "Noturno" romântico de Leopoldo Miguez (1850-1902); o lirismo pré-bossa nova
dos "Prelúdios" de Cláudio
Santoro (1919-89); e um "Tango" de Marlos Nobre, 68.
Obras que já apareceram em
disco, mas que soam aqui quase
como primeiras gravações, tamanho o salto de qualidade que
ganham nas mãos de Monteiro,
um pianista que combina agilidade, potência, requinte na
produção do som, meticulosidade para detalhes e extremo
bom gosto no uso dos pedais.
Porque não é raro o artista
que grava música brasileira se
lançar a esse repertório como
um "prêmio de consolação",
por não ter cacife para registrar
os grandes nomes internacionais. Resultam discos sem convicção, para "cumprir tabela".
Convicção, aqui, não falta.
Mestre de uma promissora geração de novos pianistas, Monteiro trata os compositores brasileiros com a mesma seriedade
com que aborda, digamos, Beethoven e Debussy, e, em vez dos
registros apressados e descuidados com os quais esse repertório é periodicamente massacrado, oferece leituras sérias e
aprofundadas das partituras.
Veja, por exemplo, seu cuidado em caracterizar de maneira
bastante distinta cada um dos
"Três Estudos em Forma de
Sonatina", de Lorenzo Fernandez (1897-1948). Ou, ainda, o
extremo vigor com que ataca a
"Sonata nº 1" de Francisco Mignone (1897-1986).
Para não falar na coragem em
incluir as "Cartas Celestes nº
1", de um Almeida Prado que, às
vésperas de completar 65 anos
de idade, se consolida como o
compositor brasileiro atual que
melhor conhece o piano.
Escritas em 1974, as "Cartas"
empregam um idioma arrojado, despido de concessões ou
"macumba para turista". São 19
minutos de complexidades rítmicas e contrastes dinâmicos,
de caráter sugestivo e assertivo.
Difíceis de ouvir e de tocar, elas
se transformam, graças a Monteiro, no item mais atraente do
disco e estabelecem um novo
paradigma de excelência para a
interpretação de música contemporânea brasileira.
PIANO MUSIC OF BRAZIL
Artista: Eduardo Monteiro
Gravadora: Meridian Records
Quando: 11,75 libras (cerca de R$ 42, mais taxas, em www.meridian-records.co.uk)
Avaliação: ótimo
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