São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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Música - Crítica/"Piano Music of Brazil"

Monteiro interpreta brasileiros com excelência

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nem só de Villa-Lobos vive a música erudita brasileira. Em "Piano Music of Brazil", álbum lançado no Reino Unido, Eduardo Monteiro faz um brilhante panorama de nossa produção para piano no século 20.
Villa, claro, está lá, com as "Impressões Seresteiras" que Monteiro tão bem vem tocando em seus recitais. Mas há muito mais -um "Noturno" romântico de Leopoldo Miguez (1850-1902); o lirismo pré-bossa nova dos "Prelúdios" de Cláudio Santoro (1919-89); e um "Tango" de Marlos Nobre, 68.
Obras que já apareceram em disco, mas que soam aqui quase como primeiras gravações, tamanho o salto de qualidade que ganham nas mãos de Monteiro, um pianista que combina agilidade, potência, requinte na produção do som, meticulosidade para detalhes e extremo bom gosto no uso dos pedais.
Porque não é raro o artista que grava música brasileira se lançar a esse repertório como um "prêmio de consolação", por não ter cacife para registrar os grandes nomes internacionais. Resultam discos sem convicção, para "cumprir tabela". Convicção, aqui, não falta.
Mestre de uma promissora geração de novos pianistas, Monteiro trata os compositores brasileiros com a mesma seriedade com que aborda, digamos, Beethoven e Debussy, e, em vez dos registros apressados e descuidados com os quais esse repertório é periodicamente massacrado, oferece leituras sérias e aprofundadas das partituras.
Veja, por exemplo, seu cuidado em caracterizar de maneira bastante distinta cada um dos "Três Estudos em Forma de Sonatina", de Lorenzo Fernandez (1897-1948). Ou, ainda, o extremo vigor com que ataca a "Sonata nº 1" de Francisco Mignone (1897-1986).
Para não falar na coragem em incluir as "Cartas Celestes nº 1", de um Almeida Prado que, às vésperas de completar 65 anos de idade, se consolida como o compositor brasileiro atual que melhor conhece o piano.
Escritas em 1974, as "Cartas" empregam um idioma arrojado, despido de concessões ou "macumba para turista". São 19 minutos de complexidades rítmicas e contrastes dinâmicos, de caráter sugestivo e assertivo.
Difíceis de ouvir e de tocar, elas se transformam, graças a Monteiro, no item mais atraente do disco e estabelecem um novo paradigma de excelência para a interpretação de música contemporânea brasileira.


PIANO MUSIC OF BRAZIL
Artista:
Eduardo Monteiro
Gravadora: Meridian Records
Quando: 11,75 libras (cerca de R$ 42, mais taxas, em www.meridian-records.co.uk)
Avaliação: ótimo


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