São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Daniela Dacorso/Folha Imagem
A figurinista Emília Duncan, que explica a cultura indiana por meio das roupas

Um passeio pelas araras do guarda-roupa que deve virar moda no país pelas mãos de lojistas que apostam alto na influência da novela e já começam a formar estoques para oferecer à clientela

O indiano Sarabjeep Singh Bedi acaba de embarcar para Nova Déli para comprar 40 caixas de bijuterias. Os acessórios são a grande aposta de sua importadora de artigos orientais, a Goa Internacional, loja de atacado na rua 25 de Março. "Vai ser igual na época do "Clone" [novela de 2001-02, ambientada no Marrocos]. Vira febre, mas depois da novela, passa", diz Felipe Augusto Franco, gerente da loja de Bedi.

 

Ele diz que, com a estreia de "Caminho das Índias", na última segunda, espera ter um aumento de 60% no movimento de "fregueses da moda". "São os lojistas que agora buscam lenços, batas e muita bijuteria, embalados pela TV." A loja é uma das fornecedoras da figurinista Emília Duncan, 50, que cuida das roupas da novela.

 

"No começo, o excesso de cores que os indianos usam choca até nós, brasileiros", diz Emília. "O choque da miséria é muito atenuado pela cor. Você vê a mulher pobre, f..., vestindo rosa-choque. Vê uma criança remelenta cheia de [acessórios] dourados nos braços. É incrível. Acho que quem inventou o psicodelismo tomou um ácido e viu aquelas cores todas da Índia", afirma ela, enquanto almoça, às 15h, um salgado de frango e um copo de chá gelado, num camarim no Projac (complexo de estúdios da TV Globo no Rio de Janeiro).

 

Formada em história, filosofia e moda, Emília diz que a concepção do figurino levou quase nove meses de pesquisas em viagens para o Oriente e consultas bibliográficas, que viraram um glossário. O livrinho, que explica com fotos o nome e um pouco da história das peças e acessórios, foi distribuído ao elenco da nova novela, a camareiras e a costureiras. Todos tiveram que decorar o que é, por exemplo, o "choli", uma espécie de miniblusa como a que a atriz Juliana Paes usa na foto. Ou o "petticoat", tipo de anágua usada por baixo do sari.

 

"É claro que as brasileiras não vão começar a usar sari pelas ruas, mas a moda é adaptável", diz Emília. "Tradicionalmente, os ombros e as pernas são áreas de muito pudor para as indianas", explica. "Já a barriga pode ser mostrada sem constrangimentos. Ao contrário do Brasil." As brasileiras, acredita a figurinista, devem ser arrebatadas pelas calças, batas, acessórios e lenços.

 

Mesmo a novela sendo gravada em alta definição, técnica que capta melhor as cores, não houve restrições na palheta de tons. "No começo as pessoas vão estranhar. Até porque estamos vindo de uma novela mais "dark" ["A Favorita']", diz, enquanto caminha pela "gaiola das loucas", um pavilhão do Projac onde são produzidas e guardadas as roupas da novela. "É muito louco participar desse universo, é muito aprendizado", diz a costureira Lu Fernandes, 41, enquanto ajeita o sari no manequim que está perto de sua máquina de costura.

 

Há fotos de indianos pregadas em todas as paredes, por onde passam costureiras e fashionistas apressados. Eles têm de abastecer as dezenas de araras abarrotadas. Em cada uma, há um papel sulfite com o nome do ator e do personagem. Juliana Paes, a protagonista, é a campeã de looks: 80 antes da estreia da trama. Há também saletas onde são estocados aviamentos e cortes de panos importados do Oriente, que vão ganhando contornos muitas vezes pré-montados, como os "saris automáticos" dobrados e presos com colchetes, para ajudar a vida das atrizes.

Reportagem DÉBORA BERGAMASCO


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