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DVDs
Crítica/"Saudações"
Jovem De Palma ri dos anos 60
Segundo longa do cineasta, de 1968, traz clima anárquico da contracultura, além de Robert De Niro
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Brian De Palma ganhou
notoriedade pelos thrillers fortemente hitchcockianos que dirigiu, como
"Vestida para Matar" (1980) e
"Dublê de Corpo" (1984).
Mas quando começou a carreira, nos anos 60, antes de
emular o mestre do suspense,
De Palma parecia mais influenciado pela nouvelle vague de
Godard e Truffaut e pelo clima
anárquico da contracultura
americana do que pelo cinema
clássico de Hollywood.
Uma prova viva disso é "Saudações" (1968), o segundo longa que realizou, mas o primeiro
a chegar aos cinemas. Traz
também sua segunda colaboração com Robert De Niro.
Agora em DVD, "Saudações"
revela um De Palma sintonizado com o efervescente espírito
da época. Em Nova York, três
amigos se veem às voltas com
dois problemas: como escapar
da guerra do Vietnã e como levar garotas para a cama.
Jon Rubin (De Niro) é um voyeur e cineasta amador que
acaba fundindo esses dois interesses, inesperadamente, nas
matas vietnamitas. Lloyd Clay
(Gerrit Graham) é um paranoico obcecado pelo assassinato
de John Kennedy. Paul Shaw
(Jonathan Warden), por sua
vez, busca encontrar a parceira
sexual ideal por meio de um
programa de computador décadas antes da internet.
A narrativa é episódica, saltando de um a outro protagonista, o tom é satírico e a linguagem, ligeiramente anárquica. Amor livre, drogas, arte pop,
tudo é visto com ironia e frescor, num andamento que às vezes lembra os filmes que Richard Lester realizara anos antes com os Beatles.
Energia juvenil
Longas sequências silenciosas, com muita movimentação
de câmera, já sugerem um procedimento que se tornaria marca registrada do De Palma posterior, mas falta aqui, de modo
flagrante, a perícia artesanal
que o cineasta viria a desenvolver. Algumas cenas parecem
mal filmadas, outras chegam
quase a aborrecer.
Mas há uma energia juvenil,
um amor ao cinema que contamina cada plano. Numa época
em que ainda não tinha transformado seus filmes em mecanismos diabólicos de manipulação das emoções do espectador, De Palma se permitia experimentar, brincar e, ocasionalmente, errar.
Cortes no interior de um
mesmo enquadramento, aceleração do movimento, descompasso eventual entre imagem e
som, mistura de gêneros: o próprio cinema americano, mesmo em seu ramo "independente", dificilmente comportaria
hoje uma experiência do tipo.
Algumas passagens são antológicas, como as das transas de
Paul com as mulheres indicadas pelo computador, ou a da
cantada que Jon lança para cima de uma garota: "Você já ouviu falar em "pop art'? Pois bem:
eu estou no ramo da "peep art"
[arte de espiar]".
Pensando bem, o que há de
mais característico de De Palma nesse ensaio juvenil é justamente a ênfase no voyeurismo,
no trânsito entre o espiar e o espionar, tema que perpassa todo
o cinema do diretor, de seus filmes mais pessoais, como "Um
Tiro na Noite" (1981), a uma encomenda como "Missão Impossível" (1995).
Os extras do DVD incluem
duas preciosidades: um pequeno documentário/entrevista,
de produção francesa, sobre De
Palma nos anos 60 e o curta documental "O Olho Responsável", que o cineasta realizou em
1966 em torno de uma exposição de "op art" em Nova York.
Em tempo: "Saudações" teve
uma continuação rodada em
1970, "Hi, Mom!", igualmente
estrelada por De Niro. Bem que
a Lume poderia lançá-la também por aqui.
SAUDAÇÕES
Lançamento: Lume
Quanto: R$ 40, em média
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
Avaliação: bom
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