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De pires na mão
Teor do novo edital do Programa Municipal de Fomento ao Teatro de São Paulo opõe grupos e prefeitura
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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Laerte Késsimos e Soraya Saide (dir.) em ‘A Vida na Praça Roosevelt’, d’Os Satyros, montada em 2005 com verba do Fomento
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Programa Municipal de
Fomento ao Teatro, principal
mecanismo de financiamento
do teatro de grupo em São Paulo desde 2002, está diante de
um impasse.
O edital da 16ª edição, finalizado em dezembro passado pela Secretaria Municipal de Cultura, mas ainda não publicado,
está sendo contestado pelo movimento teatral, sob a alegação
de que desvirtua a letra da lei de
oito anos atrás, que instituiu o
programa. Por conta disso, as
inscrições (que normalmente
acontecem em janeiro) ainda
não foram sequer abertas.
O principal objeto de questionamento é a proibição da inclusão da taxa administrativa
na previsão de gastos apresentada pelos projetos que pleiteiam incentivo.
Até hoje, os coletivos ligados
à Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) destinam 2,5% dos
valores recebidos via fomento à
instituição -que atua como representante jurídica deles e
lhes oferece serviços de contabilidade e administração, laboratórios de formatação de projetos e cursos. É a previsão dessa taxa no orçamento submetido pelos grupos que o edital de
agora veta.
Sem esse repasse, apontam
os artistas, seria difícil manter a
CPT funcionando. "Os grupos
teriam de se desmembrar em
personalidades jurídicas, empresas próprias. É um excesso
burocrático", diz o presidente
da cooperativa, Ney Piacentini.
A Secretaria Municipal de
Cultura afirma que "a vedação
da taxa de administração está
fundamentada no parecer da
assessoria jurídica da PGM
[Procuradoria-Geral do Município]", ligada à Secretaria de
Negócios Jurídicos.
O parecer a que a secretaria
se refere, datado do fim de
2009, entende que a transferência de recursos municipais
para grupos por meio do Programa de Fomento constitui
um convênio. Por isso, a iniciativa deve se enquadrar no decreto de 2008 do prefeito Gilberto Kassab que dispõe sobre
tal tipo de contrato. Esse texto
tem um artigo que impede a
"realização de despesas a título
de taxa de administração".
Os grupos entregaram na semana passada aos secretários
de Negócios Jurídicos, Cláudio
Lembo, e de Cultura, Carlos
Augusto Calil, um parecer alternativo, apoiado primordialmente no artigo da lei de 2002
que determina que ela "dispensa regulamentação prévia para
sua aplicação". O documento
está sendo analisado pelo Executivo. De acordo com Piacentini, "tudo indica que um acordo se avizinha".
Outros problemas
Além da queda de braço
quanto à inclusão ou não da taxa administrativa nos orçamentos, artistas e secretaria de
Cultura divergem no que se refere a outros dois tópicos.
A lei de oito anos atrás fixa
um limite para cortes, por parte
da comissão julgadora do Fomento, nos orçamentos dos
projetos vencedores: os grupos
escolhidos não podem receber
menos do que 50% do pedido.
O texto do edital da 16ª edição
só diz que "os valores que cada
projeto receberá serão decididos pela comissão julgadora".
O temor dos grupos é o de
que os jurados, valendo-se da
brecha, destinem a eles menos
do que a metade do total pleiteado -no caso de uma radicalização de posições na comissão, o lado nomeado pela prefeitura está em maioria (quatro
integrantes, contra três indicados pelos grupos). A secretaria
de Cultura diz que esse risco
não existe (leia mais ao lado).
Outro ponto em disputa é a
determinação de que os projetos apoiados entreguem prestações de contas financeiras
(com recibos e notas fiscais).
"Queremos que a comprovação [do uso da verba] se dê por
um relatório das atividades realizadas -juntando relatos de
oficinas, filmagens e matérias
de jornais-, e não pela notinha
fiscal; tem muita empresa fantasma aí que vende", diz o ator
Pedro Pires, da Cia. do Feijão,
contemplada em cinco das 15
edições já realizadas.
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