São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

SAPUCAÍ


O jogador Raí no desfile da Estação Primeira de Mangueira na segunda noite de Carnaval no Rio

Samba, criança e cerveja

Nenhum astro internacional deu as caras no camarote da Brahma na segunda. Sylvester Stallone estava em Angra na véspera, ficou preso no trânsito e desistiu. Voltou para os EUA. Jean Claude Van Damme sequer veio ao Brasil. Um boato de que Sharon Stone estava no Rio e pintaria no camarote também correu à boca pequena. Ficou só nisso. Kevin Spacey, que foi no domingo, não reapareceu.

 

A AmBev jura que a ausência dos estrangeiros não chega a ser um prejuízo, já que não teria pagado cachê para os convidados (as informações, negadas pela cervejaria, eram de que Rodrigo Santoro recebeu por volta de R$ 80 mil, e Spacey, R$ 120 mil). "Imagina se eu vou pagar cachê!", diz o organizador do camarote da Brahma, José Victor Oliva. "Se o Carnaval do Rio não for suficiente para atrair alguém, eu paro tudo e vou fazer futebol." Para ele, pagar cachê é "a mesma coisa que abordar uma mulher sem confiar nos meus atributos e já chegar oferecendo dinheiro". Pagamento mesmo, só para a musa do camarote, Grazi Massafera, que recebeu R$ 40 mil.

 


A empresa admite que bancou passagem, hospedagem e translado para Spacey, Matthew McConaughey e para o ex-tenista Gustavo Kuerten, por exemplo. "Mandei buscar o Guga em Florianópolis. É uma pessoa muito querida pelo público e eu queria muito que estivesse aqui", diz Oliva. Em julho do ano passado, ele apresentou uma lista para a AmBev, sugerindo 2.000 pessoas de "boas práticas, trabalho bacana" ou que estivessem "despontando". A cervejaria fez um corte para mil.

 


Sem os astros hollywoodianos, coube a Daniella Cicarelli agitar o camarote, acompanhada do novo namorado, o banqueiro Luis Octavio Indio da Costa, do banco Cruzeiro do Sul. Sempre atenta, Piny Montoro, amiga da modelo, tira o rótulo do isotônico que Daniella bebe antes de ela ser fotografada. "A Gatorade não está pagando nada", diz. "É uma foto que vocês querem?", diz Piny aos jornalistas. Ela conversa com Daniella, mas a modelo não se move.

 


Com poucas celebridades "disponíveis" e evitando pagar cachê de presença às celebridades para não criar uma, digamos, "demanda artística" excessiva que inviabilize financeiramente os camarotes, as cervejarias usaram das armas mais variadas para atrair estrelas dispostas a vestir a camiseta da marca em troca de entrada gratuita e boca-livre para ver o desfile.

 


A Nova Schin, por exemplo, liberou a presença de crianças no camarote, o que atraiu atrizes como Giulia Gam, que levou o filho, Theo, e Fernanda Torres, que levou Joaquim.

 


Fernanda, por sinal, quebrou as regras até da própria cervejaria, que estabelece idade mínima de 12 anos para que a criança possa entrar no meio da madrugada num ambiente repleto de propaganda de bebida: Joaquim tem só nove anos. "Não vejo problema nenhum!", respondeu, irritada, depois de segurar a repórter pelos ombros e dar nela uma leve chacoalhada. "Você está com raiva de mim porque não respondi às suas perguntas [feitas em outro momento, e sobre outro assunto], né?". A repórter insiste. "Ah, não!", diz Fernanda, virando as costas e saindo apressada.

 


Deixar uma estrela levar o número de convidados que quiser também faz parte do arsenal. A promotora Liège Monteiro, por exemplo, disponibilizou 38 convites do camarote da escola de samba Grande Rio para Sharon Stone. Mas ela não apareceu no sambódromo.

 


A crise econômica já assombra os camarotes. O publicitário Roberto Justus, da Nova Schin, diz que "se a situação piorar, as companhias terão que rever o patrocínio". Em meio à folia, artistas também se diziam assustados. "O público da minha peça diminuiu. E diminuiu bem", diz Luana Piovani, em cartaz com "Pássaro da Noite", no Rio. Giulia Gam está com dificuldades para montar o infantil "Pedro e o Lobo". Mas vê um lado bom. "Estamos na Era de Aquário e [a recessão] pode nos trazer novas propostas de sobrevivência. A humanidade está num ponto "X". Transformamos o nosso "modus vivendis". Ou tudo será exterminado."


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