São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

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MOSTRA

Pela primeira vez, estúdio londrino onde os Beatles gravaram receberá visitantes

Abbey Road abre as portas e recebe festival de cinema

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Cerca de 120 mil pessoas repetem todos os anos um mesmo ritual. Atravessam a rua sobre as listras brancas da faixa de pedestres e tiram fotos. Depois, param em frente ao muro da casa que abriga os famosos estúdios, escrevem mensagens no concreto e fazem mais poses para as câmeras. Algumas arriscam uma tentativa indo até a recepção e pedindo um tour ou apenas a chance de dar uma espiadinha. Invariavelmente, ouvem não como resposta.
Essas cenas se repetem exatamente assim há quase 40 anos na Abbey Road, rua de Londres onde ficam os estúdios de mesmo nome. Elas refletem, principalmente, a idolatria dos "peregrinos" por uma banda de clientes ilustres que usaram a casa para gravar alguns dos seus maiores sucessos, os Beatles.
Mas no curto período iniciado no último sábado e que vai até o próximo dia 3, o ritual tem tido um final diferente para muitos. Pela primeira vez, a direção dos estúdios resolveu promover um grande evento comercial para torná-los acessíveis ao público. Durante 16 dias, a casa está aberta para um festival de cinema que exibirá filmes famosos que tiveram suas trilhas sonoras gravadas ali.
"As milhares de pessoas que vêm até aqui pensam nos Beatles. Acho que isso sempre será assim, mas queremos mostrar a elas os outros trabalhos que fazemos e fizemos aqui", disse David Holley, diretor dos estúdios, a jornalistas estrangeiros um dia antes da abertura oficial do festival.
O "Estúdio 1"-que tem espaço para acomodar uma orquestra de cem peças e um coro de 120 pessoas- foi transformado em sala de cinema. É nele que 21 filmes, como "A Hard Day's Night", "Yellow Submarine", "Os Caçadores da Arca Perdida", a trilogia "O Senhor dos Anéis", "Brazil", "O Útlimo Imperador" e "Shrek" serão exibidos.
Os ingressos, que custam de 15 libras a 20 libras (entre R$ 75 e R$ 100), também dão direito a mais do que uma espiada no "Estúdio 2", imortalizado pelos Beatles, que gravaram ali faixas de discos como "Sgt Pepper's" e "Abbey Road" (que traz a famosa foto do quarteto atravessando a faixa de pedestres da rua).
O "Estúdio 2", cuja decoração não mudou nada desde a década de 60, também abrigará uma mostra de fotografias, muitas inéditas, de personalidades famosas que passaram pela casa, como Earth Kitt, Dirk Bogarde, Shirley Bassey, Bette Davis e Beatles.

História
Para muita gente, Abbey Road é sinônimo de música. O estúdio é o mais antigo do gênero. Foi comprado pela gravadora EMI em 1929 e inaugurado em 1931, com a gravação histórica de "Land of Hope and Glory" por Edward Elgar. Em setembro de 1944, Glenn Miller fez suas últimas gravações em Abbey Road, dias antes de morrer em um acidente de avião. Na década de 60, vieram os Beatles, nos anos 70, Pink Floyd, Simple Minds e Jeff Beck. Esse fluxo só aumenta e, mais recentemente, grupos como o Radiohead e o Oasis também passaram por ali.
Em 1981, foram feitos investimentos que ampliaram a capacidade dos estúdios para a gravação de trilhas sonoras. Desde então, quase 200 produções cinematográficas nasceram em Abbey Road. O diretor Anthony Minghela e o compositor Gabriel Yared, parceiros em filmes como "O Paciente Inglês" e "O Talentoso Ripley"-que estão na mostra-, são clientes fixos da casa.
"Abbey Road é como uma família para mim. É muito inspirador estar aqui", disse Yared.
Holley explica que esse festival de filmes tem sido planejado há algum tempo. Antes, o Abbey Road só havia recebido o público em 1982, durante uma semana de obras na casa, quando as pessoas puderam entrar e dar uma olhada no interior dos estúdios.
Mas essa é a primeira vez que há um grande evento organizado com a intenção de promover o trabalho feito nos estúdios e contar um pouco da sua história. Estão sendo esperadas 16 mil pessoas -a maior parte dos ingressos já está esgotada.
Questionado se essa será uma oportunidade única, Holley sorriu e disse que ainda não sabe se ocorrerão outros eventos assim no futuro.


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