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CDS
MÚSICA
Com poucas cópias e lançados de maneira independente, CDs mixados ajudam artistas a divulgar seus trabalhos
DJs, MCs e produtores investem em "mixtapes"
ADRIANA FERREIRA
DO GUIA DA FOLHA
Entre os mais divertidos passatempos dos adolescentes de décadas passadas estava o de gravar fitas cassetes para presentear amigos, conquistar pretês ou arrasar
em festinhas. Entre os DJs nova-iorquinos de hip hop nos anos 70,
a mania tinha uma função a mais:
registrar rimas e as habilidades
nos toca-discos para divulgar o
ritmo e a poesia numa época em
que o rap ainda não tinha ido parar nas prateleiras de megastores.
Nasciam então as mixtapes, fitas
-substituídas hoje por CDs-
criadas para funcionar como
portfólio dos artistas de hip hop.
Trinta anos depois, DJs como
Whoo Kid, o produtor das mixtapes do rapper 50 Cent, chegam a
fazer 100 mil cópias, o que torna
as mix mais rentáveis que discos
lançados por grandes gravadoras.
Enquanto lá as mixtapes são
consideradas quase um quinto
elemento do hip hop -com MC,
break, grafite e DJ-, no Brasil a
cultura dos CDs mixados não pegou. Numa explicação bem rasteira, as mixtapes podem ser definidas como CDs mixados, lançados
de maneira independente, em pequena tiragem e com preços baixos.
"Não é uma coisa para ganhar
dinheiro", explica o rapper e produtor Parteum, 29, que já pôs na
praça duas mixtapes -além de
um CD oficial, "Raciocínio Quebrado" (Trama)- e está preparando outras duas. "Pelo menos
foi assim que começou lá fora,
com DJs e b-boys [dançarinos de
break] fazendo fitinhas com músicas mixadas para os bailes."
Qual é o objetivo? "Divulgar os
trabalhos", responde o MC Paulo
Napoli, 28, que acaba de lançar a
mix "Raps de Verão", em parceria
com a marca de roupas Most.
"É uma forma de democratizar,
de mostrar a nova cena a um público que só tem o Dogão para ouvir", alfineta Napoli. "Quero apresentar uma coisa menos óbvia."
Napoli reuniu material, na
maioria inédito, de artistas de
Goiás, Rio de Janeiro, Paraná, São
Paulo e Santa Catarina. "Juntei tudo pelo messenger [programa de
troca de mensagens] e mixei no
computador de casa", explica. O
resultado é uma coletânea caprichada, com artistas pouco conhecidos, como A Filial (RJ), com o
samba-rap "A Cartilha"; Mocambo (PR), autor da bossa-rap "Invadir Co Moh Calor"; e Testemunha Ocular (GO), que usa sample
de forró em "Frutos da Rua".
Outro insatisfeito com a cena, o
produtor Tiago Munhoz, 27, estréia no circuito das mixtapes
com "Beats e Rimas - Vol. 1". "Estou num momento muito parecido com o da época em que lancei
o disco do Ascendência Mista
[grupo que ele integra], achava
tudo um saco. Não tinha um disco
de rap que gostasse de ouvir", diz.
"Essa é uma forma de registrar
músicas novas, divulgar meu trabalho e mostrar artistas que as
pessoas não conhecem", afirma.
"Beats e Rimas" tem 21 faixas
com participação de MCs como
Parteum, Kamau, Shawlin e Lurdez da Luz, entre outros, que rimam sobre bases produzidas por
Munhoz. "Além de tocar instrumentos, usei samples de muitas
épocas: sambas antigos, jazz e
música brega."
O CD também foi a deixa para
Munhoz mostrar quatro faixas do
projeto Professor M. Stereo, em
que faz música instrumental no
computador, com influências dos
anos 60 e 70.
No forno
"Fiz porque não tinha certeza de
que a Trama ia bancar o disco",
diz o rapper Parteum, que lançou
a segunda mixtape, "Patrocínio
Quebrado", em 2004, pouco antes
de sair seu álbum solo.
"Na mix, você faz coisas que não
pode no disco oficial", afirma Parteum. "Tem sample que, se tivesse
que pedir a liberação, nunca iria
conseguir, mas vende em um circuito tão fechado que ninguém
sabe do que se trata."
Parteum está produzindo duas
mixtapes para o segundo semestre. Uma delas é a prévia do próximo CD de seu grupo, o Mzuri Sana. Outra que deve sair logo é a do
MC e produtor fluminense Iky,
25. "Tinha um excedente muito
grande de produção e resolvi juntar tudo e mostrar numa mix."
No total, 35 pessoas estão envolvidas na produção da "Iky'x Tape
- Vol. 1", entre DJs, MCs e grafiteiros. "Aqui tem muito MC bom,
mas só a gente conhecia, então resolvi botar a galera na rua."
Cartão de visita
Ainda que a mixtape não tenha
produções próprias, ser um bom
"mixtaper" pode render prestígio.
O DJ Nuts, 27, que desde os tempos de colégio faz fitinhas para os
amigos, recebeu convites para tocar em Los Angeles e Nova York
graças à repercussão de "Cultura
Cópia", que circulou com a revista californiana "Wax Poetics".
"Este CD mudou minha vida,
me colocou no mundo inteiro.
Eles fizeram 4.000 cópias que estão esgotadas", comemora Nuts.
O disco é o resultado de suas pesquisas sobre a black music brasileira, das décadas de 60 e 70.
Como fazer fitinhas é um costume que não é exclusividade do
rap, o DJ Gustavo Abreu, o Guab,
28, fez duas edições de sua "rockmixtape" -e prepara mais
duas- para distribuir para os
amigos. "Também usei para divulgar o meu set, mas, até agora,
não adiantou nada!", reclama
bem-humorado.
Onde ouvir: Funhouse (r. Bela
Cintra, 567, Consolação, tel. 0/xx/
11/ 7109-7144)
Folha promove evento sobre sexualidade femininaParteum (6/4), Enganjaduz
(13/4), Paulo Napoli (20/4) e Munhoz
(27/4)
Quanto: R$ 6
Beats e Rimas- Vol. 1
Artista: Munhoz e Prof. M. Stereo
Quanto: R$ 15
Onde comprar: lojas das galerias da r.
24 de Maio ou pelo e-mail
tiagomunhoz77@gmail.com
Iky'x Tape - Vol. 1 (previsão de
lançamento: abril)
Artista: MC Iky e convidados
Quanto: R$ 10
Onde comprar: mc_iky@bol.com.br
Raps de Verão
Artista: MC Paulo Napoli e convidados
Quanto: R$ 18 (preço sugerido)
Onde comprar: lojas das galerias da r.
24 de Maio e na Most da galeria Ouro
Fino (r. Augusta, 2.690)
rockmixtape 1 e 2
Artista: DJ Guab
Quanto: R$ 10
Onde comprar: www.peligro.com.br
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