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Governo vai indicar programas infantis
Ministério da Justiça começa a conceder selo "especialmente recomendado" a atrações para crianças e adolescentes
Novo manual lista valores como respeito e honestidade para que pais orientem os filhos; associação de TVs critica: "É dirigismo cultural"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
As "Meninas Superpoderosas", diariamente, salvam o planeta da ameaça de terríveis vilões. O desenho, sucesso entre
o público infantil, tem classificação livre, ou seja, não tem
restrição a crianças de nenhuma idade.
No entanto, mesmo com todos os seus superpoderes, as
meninas Florzinha, Docinho e
Lindinha dificilmente convenceriam os classificadores do
Ministério da Justiça a lhes
concederem o selo de programa Especialmente Recomendado para Crianças e Adolescentes (ER), novidade que
consta da nova portaria de
classificação indicativa do
governo.
A explicação para isso é dada
pelo diretor-adjunto do Departamento de Justiça e Classificação Indicativa do ministério,
Tarcízio Ildefonso.
"No tempo em que eu era
criança, o local de confraternização dos Superamigos era o
Palácio da Justiça. Hoje, a confraternização das meninas heroínas acontece, muitas vezes,
em um shopping. Isso não torna, de maneira nenhuma, o desenho inadequado. Mas, na minha opinião, ele também dificilmente seria considerado recomendado, porque esse gesto
é segregacionista, já que nem
todos podem fazer compra em
shopping, além de ser um estímulo ao consumismo", avalia o
diretor.
Prazo para adequação
A nova portaria de classificação indicativa já foi publicada
no "Diário Oficial" da União e
deu um prazo até 13 de maio
para que as televisões se adaptem a ela.
Uma das novidades é que,
além de classificar como livre
determinados programas infantis, o ministério passará
também a indicar aos pais programas que sejam especialmente recomendados por trazer mensagens de solidariedade, honestidade, respeito aos
demais e por estimular as habilidades cognitivas, entre outras
características positivas listadas no novo manual de classificação indicativa.
O objetivo do novo selo, de
acordo com o Ministério da
Justiça, é oferecer mais um instrumento aos pais para que
orientem seus filhos no momento de assistir à televisão.
Nenhuma emissora será obrigada a veicular programas recomendados, mas elas terão de
informar ao telespectador qual
a classificação de cada
um deles. O aviso terá de aparecer, durante cinco segundos, no
início de cada programa.
O modelo é inspirado em experiências dos países nórdicos
e de nações desenvolvidas como Inglaterra e Canadá, mas
foi recebido com severas críticas pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão).
"Isso é discriminatório. Entendemos que não deve existir
um conteúdo livre e outro recomendado. Quem vai definir
quem será recomendado e
quem será apenas livre serão
classificadores do Ministério
da Justiça. Na nossa opinião, isso é dirigismo cultural", afirma
Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Abert.
José Eduardo Elias Romão,
diretor do departamento de
classificação indicativa, discorda, argumentando que os critérios para definir a classificação
são objetivos e constam do novo manual.
"Os critérios que definimos
não são de governo. Eles estão
contemplados na Constituição
e, por isso, não estão sujeitos a
determinações partidárias ou
ideológicas. Isso é uma tradi-
ção em países democráticos",
afirma.
Para Slaviero, da Abert, os
países que inspiraram a portaria do Brasil não servem como
referência. "A cultura desses
lugares é diferente. É outra
educação, e a formação também é diferente. No Brasil, a
imensa maioria da população
se informa pela televisão aberta, o que nem sempre acontece
nessas nações."
Pioneiros
Apesar da polêmica, o Ministério da Justiça já concedeu a
13 obras audiovisuais o selo de
especialmente recomendado
(veja quadro ao lado).
A primeira a receber foi a série "Juro que Vi", produzida pela MultiRio (Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro)
a partir de roteiros elaborados
por alunos de escolas municipais cariocas.
Por enquanto, ainda são poucos os programas que passam
na TV aberta a receber o selo,
mas, para Regina de Assis, presidente da MultiRio, é uma
questão de tempo.
"As experiências de países
que premiaram bons programas infantis mostra que, a partir do momento em que eles são
reconhecidos, há um estímulo
para a produção de outros produtos com qualidade. No Brasil,
aos poucos, as grandes emissoras vão acabar se sensibilizando
e reconhecendo que é preciso
oferecer uma programação de
qualidade para o público infantil, e não apenas nos horários
considerados para crianças",
diz a presidente da MultiRio.
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