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Crítica
Panahi tem olhar aberto para infância iraniana
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Houve um momento em que
o cinema do Irã era, essencialmente, um cinema da infância.
Os motivos são vários.
Um deles, que não me parece
nada secundário: era um país
que se olhava como infância,
depois da violenta mudança de
orientação política no fim dos
anos 1970.
Infância como a da menina
de "O Balão Branco" (Futura,
1h30; livre), que pede dinheiro
à mãe para comprar um peixe,
mas perde o dinheiro.
Nada mais justo: a infância é
como uma deficiência, é incapacidade de se gerir plenamente, é se sentir incapaz diante de
um mundo que não compreende e que não a compreende
também.
Ao mesmo tempo, a infância
é o tempo em que o corpo ainda
instável se constrói, busca a estabilidade, procura o crescimento. Todas as portas estão
abertas, tudo ainda se pode
aprender.
Esse é o espírito do filme, o
primeiro de Jafar Panahi, de
1995, escrito por Abbas Kiarostami, de que fora assistente.
Agora Panahi já foi preso e o cinema iraniano tende a ser esmagado pela repressão.
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