São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA DRAMA Boas atuações não escondem tom datado de "Pterodátilos"
LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA Quando o drama tem vida curta. "Pterodátilos", peça de 1993 do dramaturgo norte-americano Nicky Silver, não resistiu ao tempo. A remontagem de Felipe Hirsch não esconde o caráter datado. Mesmo tratado numa chave pouco naturalista, em que se valoriza o desempenho dos atores e da cenografia, o texto soa artificial. A trama proposta por Silver, em que uma família hiperdisfuncional se desfaz enquanto os ossos de um animal pré-histórico emergem na sua sala de visitas, serviu como crítica aos anos dourados do neoliberalismo e como ataque aos preconceitos contra doentes de Aids. O anjo exterminador é o filho mais novo, que retorna à casa como portador de HIV para reencontrar a mãe alcoólatra e molestadora, o pai ausente e a irmã obesa e desencaminhada. Se há algo em comum entre os personagens, é o esquecimento, mecanismo que resguarda, mas que pode, também, ser fatal. Só sobreviverá quem não esquecer o passado. INSTABILIDADE Na atual encenação, em registro farsesco de humor negro, os personagens vão se despedaçando ao mesmo tempo em que o próprio chão em que pisam se desfaz e dificulta seus movimentos. A opção de Hirsch de radicalizar cenograficamente, evidenciando a instabilidade daquele núcleo familiar com um palco que oscila ao sabor de macacos hidráulicos, é pomposa e gera alguns efeitos interessantes. Os ganhos visuais, porém, não escondem a afetação dos diálogos corrosivos, focados em chocar pela sua brutalidade explícita. Quem sustenta o espetáculo são os atores, a começar do astro Marco Nanini (na última terça-feira, o ator recebeu o prêmio Shell no Rio de Janeiro. A peça levou ainda os prêmios de atriz, para Mariana Lima, e cenografia, para Daniela Thomas). Brilhando menos que em outras situações de risco, ele satisfaz à farta a expectativa de quem foi assistir ao seu desafio de encarnar os papéis de pai e de filha. A boa surpresa é Mariana Lima, criando uma mãe tarada e bêbada, cujo traço de humanidade é decisivo para um envolvimento mínimo com a cena. Atriz em processo, ela faz um trabalho maduro e consagrador. Felipe Abib e Álamo Facó completam o elenco. O primeiro, como o namorado da filha, corresponde à qualidade dos dois protagonistas, e o segundo, como o filho que busca o dinossauro no chão da sala, fica um pouco aquém dos demais. A direção de arte de Daniela Thomas, sempre decisiva nas produções de Hirsch, mantém a elegância discreta habitual, mas seu palco instável, pela gratuidade, é quase maneirista. "Pterodátilos" se pretende uma sátira aos descaminhos da família contemporânea, mas fica na superfície e, nessa medida, redunda em temas vencidos. Como dramaturgia não foi além da crônica e, como tal, quase 20 anos depois, revela-se mera caricatura. PTERODÁTILOS QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 18h; até 29/5 ONDE Faap (r. Alagoas, 903; tel. 0/xx/11/3662-7233) QUANTO R$ 60 (sex.) e R$ 80 (sáb. e dom.) CLASSIFICAÇÃO 16 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Crítica/Show: Filme pouco usa o 3D e serve como aperitivo para os shows Próximo Texto: Coleção Folha lança ópera inspirada em Pushkin Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |