|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Stoklos saúda o século 21
em "Desobediência Civil"
ERIKA SALLUM
enviada especial a Curitiba
Vanguarda, a autora, diretora e
atriz paranaense Denise Stoklos já
comemora a chegada do ano 2000.
Seu mais novo espetáculo, "Desobediência Civil", se passa exatamente nos momentos que antecedem a meia-noite do dia 31 de dezembro de 1999.
Concebida a partir de textos do
escritor e filósofo Henry David
Thoreau, a montagem, que será
exibida hoje e amanhã no Festival
de Teatro de Curitiba, estreou em
novembro passado no Rio. Mas só
deve entrar em cartaz em São Paulo no próximo mês de agosto.
Antes, "Desobediência Civil" segue para Brasília, São Carlos e
África do Sul, entre outros lugares, prosseguindo com a tradição
da artista de se apresentar em várias partes do mundo (suas peças
já visitaram mais de 30 países).
Leia a seguir trechos da entrevista que Denise Stoklos concedeu,
por fax, à Folha:
Folha - Como você teve a idéia de
montar um texto de Thoreau?
Denise Stoklos - Toda passagem, seja de uma noite para o dia,
de um ano, de um aniversário, oferece a oportunidade de um balanço. A virada de milênio sugere uma
peneirada do que a humanidade
tem elaborado para si mesma.
Resta celebrar os critérios que
conseguiram escapar da trama
obediente yuppie, cuja ordem é seguir o mestre do sucesso, quanto
mais aparente melhor: o financeiro, o de visibilidade na mídia, o de
lugares comuns.
Num planeta poluído de supérfluos, parece uma boa ocasião rememorar o pensamento de Thoreau, que clama por simplicidade.
Folha - O espetáculo é baseado
em que textos de Thoreau?
Stoklos - Os principais que uso
são seu manifesto "Desobediência
Civil" e o texto "Walden", sobre
sua retirada aos bosques para reflexão. É o resultado de minha admiração pelos pensadores mais
responsáveis e libertários desta
nossa época, como o geógrafo Milton Santos e Noam Chomsky.
Colocar no palco uma maneira
de pensar o mundo que prioriza o
embate com as grandes questões
da existência e recusa a mefistotélica estabilidade do conforto superficial. Uma desautorização às
máquinas da servidão, às não tão
visíveis corporações manipuladoras da economia, da informação.
Folha - Como transpor essas
idéias para o palco?
Stoklos - Thoreau foi um naturalista. Conhecia inúmeras espécimes de insetos, de plantas, cultivava a terra. E escrevia um jornalismo poético. Pareceu teatral o contraste de um espaço sofisticado visualmente.
Então, já que eu havia obtido patrocínio de montagem, pude chamar alguns profissionais com
quem já tinha tido experiência anterior e com quem me interessava
desenvolver parceria.
Rebecca Nassauer, artista inglesa, foi a figurinista de meu primeiro espetáculo solo, quando eu ainda morava em Londres. Gringo
Cardia teve uma participação em
minha primeira temporada solo
no Rio. Maneco Quinderé fez dois
trabalhos anteriores comigo.
Esse trio ficou encarregado do figurino, cenário e iluminação. São
pontos marcantes na peça. Como
atriz, eu faço menos. Eu mais compartilho o espetáculo com eles.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|