São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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Stoklos saúda o século 21 em "Desobediência Civil"

ERIKA SALLUM
enviada especial a Curitiba

Vanguarda, a autora, diretora e atriz paranaense Denise Stoklos já comemora a chegada do ano 2000. Seu mais novo espetáculo, "Desobediência Civil", se passa exatamente nos momentos que antecedem a meia-noite do dia 31 de dezembro de 1999.
Concebida a partir de textos do escritor e filósofo Henry David Thoreau, a montagem, que será exibida hoje e amanhã no Festival de Teatro de Curitiba, estreou em novembro passado no Rio. Mas só deve entrar em cartaz em São Paulo no próximo mês de agosto.
Antes, "Desobediência Civil" segue para Brasília, São Carlos e África do Sul, entre outros lugares, prosseguindo com a tradição da artista de se apresentar em várias partes do mundo (suas peças já visitaram mais de 30 países).
Leia a seguir trechos da entrevista que Denise Stoklos concedeu, por fax, à Folha:

Folha - Como você teve a idéia de montar um texto de Thoreau?
Denise Stoklos -
Toda passagem, seja de uma noite para o dia, de um ano, de um aniversário, oferece a oportunidade de um balanço. A virada de milênio sugere uma peneirada do que a humanidade tem elaborado para si mesma.
Resta celebrar os critérios que conseguiram escapar da trama obediente yuppie, cuja ordem é seguir o mestre do sucesso, quanto mais aparente melhor: o financeiro, o de visibilidade na mídia, o de lugares comuns.
Num planeta poluído de supérfluos, parece uma boa ocasião rememorar o pensamento de Thoreau, que clama por simplicidade.
Folha - O espetáculo é baseado em que textos de Thoreau?
Stoklos -
Os principais que uso são seu manifesto "Desobediência Civil" e o texto "Walden", sobre sua retirada aos bosques para reflexão. É o resultado de minha admiração pelos pensadores mais responsáveis e libertários desta nossa época, como o geógrafo Milton Santos e Noam Chomsky.
Colocar no palco uma maneira de pensar o mundo que prioriza o embate com as grandes questões da existência e recusa a mefistotélica estabilidade do conforto superficial. Uma desautorização às máquinas da servidão, às não tão visíveis corporações manipuladoras da economia, da informação.
Folha - Como transpor essas idéias para o palco?
Stoklos -
Thoreau foi um naturalista. Conhecia inúmeras espécimes de insetos, de plantas, cultivava a terra. E escrevia um jornalismo poético. Pareceu teatral o contraste de um espaço sofisticado visualmente.
Então, já que eu havia obtido patrocínio de montagem, pude chamar alguns profissionais com quem já tinha tido experiência anterior e com quem me interessava desenvolver parceria.
Rebecca Nassauer, artista inglesa, foi a figurinista de meu primeiro espetáculo solo, quando eu ainda morava em Londres. Gringo Cardia teve uma participação em minha primeira temporada solo no Rio. Maneco Quinderé fez dois trabalhos anteriores comigo.
Esse trio ficou encarregado do figurino, cenário e iluminação. São pontos marcantes na peça. Como atriz, eu faço menos. Eu mais compartilho o espetáculo com eles.




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