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POESIA
Compositor prepara CD com dez textos da escritora
Zeca Baleiro busca voz e música para versos de amor de Hilda Hilst
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Como leitor voraz de poesia,
sempre tenho livros de cabeceira", diz o músico Zeca Baleiro, 35,
enquanto tenta explicar, em frente a uma xícara de cappuccino, a
relação que sua música encontra
nos versos de outras pessoas.
"Musiquei muito poema, às vezes só por exercício. Alguns ficaram muito bons. Por exemplo, esse do cummings eu não titubeei
em gravar ["Nalgum Lugar", versão de Augusto de Campos para o
poema "somewhere i have never
travelled, gladly beyond", de e.e.
cummings, gravado no CD "Líricas", de 2000"."
Pois a próxima a migrar de um
lugar cativo em seu criado-mudo
para a prateleira de CDs é brasileira: a poeta Hilda Hilst, 71.
"Quando saiu meu primeiro
disco, eu o mandei, com uma dedicatória e um poema que eu havia feito para ela. Minha avó se
chamava Hilda, tenho uma irmã
que se chama Hilda. Eu falava no
poema da familiaridade que eu tenho com o nome dela, a mesma
que eu tenho com a literatura dela, que eu sempre curti muito."
Depois de ouvir "Por Onde Andará Stephen Fry" (97) e se encantar com a faixa "Bandeira", a autora de "O Caderno Rosa de Lori
Lamby" (90) ligou para agradecer
e propôs-lhe o desafio de musicar
poemas seus. Baleiro recebeu, por
meio de Edson Duarte, 34, amigo
e estudioso da escritora, um disquete com a obra poética de Hilst.
"Ela ouve mais música clássica e
faz uma separação muito nítida:
letra é uma coisa, poesia é outra",
conta Duarte. "Mas achou que ele
podia, de alguma forma, fazer alguma coisa com a obra dela. O Zeca faz músicas populares, mas que
têm um refinamento", diz Duarte,
da casa que divide com a poeta,
perto de Campinas (SP).
Duarte fala à Folha por Hilst, a
seu pedido ("ele conhece bem minha obra e tenho um pouco de dificuldade de falar"), mas conta
que, enquanto responde às perguntas ao telefone, a escritora, à
sua frente, assente com a cabeça.
Os poemas eleitos por Zeca Baleiro estão no livro "Júbilo Memória Noviciado da Paixão" (editora
Massao Ohno, 1974, esgotado), na
parte intitulada "Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé.
De Ariana para Dionísio".
"São dez poemas, superlíricos,
com uma atmosfera meio medieval", diz o compositor, justificando a escolha pelo capítulo.
"Quero fazer um disco com dez
cantoras, piano e voz basicamente", diz, citando Verônica Sabino,
Nana Caymmi, Maria Bethânia,
Ceumar e Ná Ozzetti entre os nomes que gostaria de arrebanhar.
O próximo passo do projeto,
que espera ver finalizado até agosto, diz Baleiro, é "mandar tudo
para ela", Hilst, aprovar. "Ela é
exigente, né?"
A idéia do compositor é que os
participantes abram mão dos direitos, e toda a renda fique para a
poeta. Baleiro ainda não tem
quem encampe a idéia, mas vê como saída viável encartar o CD em
uma revista cultural, "porque popularizaria". "Tem de ser vendido
por um preço acessível." "Mas
vou fazer de qualquer jeito."
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