São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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Pesquisa avalia cem horas de "Malhação", "Altas Horas" e mais oito atrações para jovens

Superficial, TV teen vira exemplo

Estudo apoiado pelo Unicef afirma que o telespectador adolescente tem opções melhores do que adultos

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Malhação" passa a ser a novela das oito, no lugar de "Celebridade". Serginho Groisman vai para a Record e apresenta seu "Altas Horas" no horário do policial "Cidade Alerta". A Globo põe no ar os programas da MTV.
A Folha enlouqueceu? Não. O parágrafo acima dá algumas "notícias" do que seria uma TV de qualidade, segundo um estudo divulgado na quarta passada.
A pesquisa, realizada pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), concluiu que a televisão seria melhor se toda a programação seguisse os bons exemplos de atrações voltadas ao público jovem.
Em palavras menos otimistas, a tese do levantamento, batizado de "Remoto Controle", é a seguinte: ainda que superficiais e centrados em estereótipos -ricas mocinhas loiras e galãs fortões-, programas teens conseguem ser melhores do que a média da TV.
Foram avaliados dez do gênero, entre eles "Altas Horas", "Malhação" (Globo), "Meninas Veneno" (MTV), "Sobcontrole" (Band) e "Atitude.com", da TVE do Rio.
A seleção começou com as próprias emissoras, que informaram aos pesquisadores quais de seus programas são direcionados a teens. Duas indicações não foram aceitas: um quadro do "Curtindo uma Viagem", de Celso Portioli, do SBT, e o "É Show com Adriane Galisteu", da Record. De acordo com a pesquisa, eles não focam preferencialmente os jovens.
Ao todo, foram avaliadas cem horas de programação. Nove consultores -entre eles, a apresentadora Soninha e o sociólogo Laurindo Lalo Leal, da ONG TVer- assistiram a 15 episódios de cada um dos dez escolhidos. Decuparam as fitas, contaram segundos, viram e reviram, discutiram e tabularam os dados. A conclusão surpreendeu os pesquisadores.
"Percebemos que não são abobrinhas, assuntos irrelevantes. A pesquisa ajuda a desconstruir o mito de que a programação para jovens é vazia", diz Veet Vivarta, diretor-editor da Andi, uma ONG especializada em análises sobre mídia para jovens e crianças.
Para sustentar essa idéia, um dado: do conteúdo avaliado, 81,1% abordaram temas "socialmente relevantes", como prevenção à Aids, gravidez e emprego.
Outro ponto positivo: a programação jovem não costuma explorar gratuitamente a sexualidade e a violência. Só 21% mostraram cenas violentas, sendo que metade delas era contextualizada.
Mas será que uma TV teen, mesmo com seus problemas, poderia de fato influenciar positivamente a programação geral? "Seria sensacional se a programação da TV dos adultos tivesse a qualidade da TV das crianças e dos adolescentes", diz à Folha o apresentador Marcelo Tas, criador do repórter Ernesto Varela e um dos idealizadores de "Castelo Rá-Tim-Bum" e "Vitrine" (Cultura).
Ele, no entanto, acha difícil que isso ocorra na TV. "Adultos são seres cansados e se deixam enganar facilmente. São capazes de assistir a uma novela molenga por meses a fio sem reclamar. Com o público infantil e adolescente, não há meio termo. Quando não gostam de algo, mudam de canal ou trocam a TV pelo videogame, internet ou telefone", afirma.
Na opinião de Tas, a programação teen é melhor porque os jovens são "seres mais exigentes". "Não perdem tanto tempo com bobagens. São mais inteligentes e menos falsos do que os adultos."
O cientista político Guilherme Guerra, consultor da Andi, acredita que seja necessária uma nova regulamentação para que o lado bom dos programas jovens prevaleça em toda a TV. "As TVs sempre falam em censura quando se tenta interferir de alguma maneira na programação."
A pesquisa foi publicado no livro "Remoto Controle - Linguagem, Conteúdo e Participação nos Programas de Televisão para Jovens" (330 págs., R$ 33, editora Cortez, tel. 0/xx/11/3864-0111) e chegará nesta semana às livrarias.


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