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ARTES PLÁSTICAS
Primeira grande exposição da obra em papel do carioca reúne 200 trabalhos a partir de hoje no CCBB do Rio
Desenhos revelam metamorfoses de Cildo Meireles
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Em 1969, Cildo Meireles parou
de desenhar. Mergulhou na chamada arte conceitual -expressão
pela qual não morre de amores-
e iniciou a construção de uma das
mais importantes carreiras de artista plástico do país.
Em 1973, ele voltou a desenhar e
nunca mais parou. É a porção
mais constante de seu trabalho e a
menos conhecida. Esse paradoxo
pode começar a ser desmontado a
partir de amanhã, quando é aberta para o público, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, "Cildo Meireles Algum Desenho
[1963-2005]", a primeira grande
exposição de sua obra em papel.
"Eu fui pueril quando parei. O
desenho é muito revelador para
mim, pois permite expressar imediatamente o que está na minha
cabeça, e com um mínimo de materialidade. É uma espécie de escrita automática, feita sem bloqueio", diz Meireles, 57, que não
usa pincel nos desenhos para ter
mais contato com a superfície.
A exposição deixa claro que, em
nenhum sentido, essa é uma produção menor na trajetória do artista. Além da qualidade, há quantidade: ele estima ter feito cerca de
4.000 desenhos profissionalmente. A mostra do CCBB conta com
200 originais e outros 800 trabalhos apresentados em fotografias.
"Em 99, surgiu a idéia de reunir
a minha obra gráfica. Ela é muito
dispersa porque nem sempre eu
sabia para quem vendia. Funcionava como a minha subsistência,
o dinheiro para pagar o aluguel. O
projeto é reunir tudo num raisonné", conta Meireles, referindo-se
ao tipo de catálogo que documenta a produção completa, pelo menos em um suporte, de um artista.
A primeira etapa dessa extensa
pesquisa localizou 1.200 desenhos, dos quais o curador Frederico Moraes escolheu 200. É, segundo Moraes, "uma produção
respeitável que ainda não foi considerada criticamente".
"A partir dessa exposição, não
se poderá mais descartar os desenhos nas reflexões sobre a obra de
Cildo. Eles servem como referência para explicar as gêneses e metamorfoses de obras tridimensionais importantes como "Desvio
para o Vermelho" e "Espaços Virtuais: Cantos'", afirma o curador,
que também selecionou alguns
objetos e a instalação "La Bruja".
Os desenhos vão dos expressionistas da adolescência aos delicados dos últimos anos.
"O que tenho feito são desenhos
de bolso, em hotéis e aviões, porque no ateliê tem sido mais difícil", diz Meireles, que passa boa
parte de seu tempo no exterior.
Entre as mostras internacionais,
há duas participações na Documenta de Kassel, na Alemanha, e
duas na Bienal de Veneza, da qual
também participa neste ano, convidado do pavilhão da Itália.
Mesmo feitos em épocas, estilos
e técnicas bem diferentes, os desenhos têm pontos de contato entre
si, como o personagem de chapéu
e óculos escuros, sem nome, que é
uma obsessão do artista.
Bocas expressivas são outra
marca, assim como imagens dos
anos 60 e 70 que permitem alguma interpretação política. "Sempre tive ojeriza instintiva ao panfletarismo. Parte da produção
permite uma leitura política, mas
não a resume. Estou falando desse
medo indefinível e abstrato que
pertence à condição humana."
Cildo Meireles Algum Desenho
[1963-2005]
Quando: ter. a dom., das 10h às 18h; até
3/7
Onde: CCBB-RJ (r. Primeiro de Março, 66,
Rio, tel. 0/xx/21/ 3808-2020)
Quanto: entrada franca
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