São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Última Moda

Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br

A máquina de medir brasileiros

Com um "body scanner", equipe de pesquisadores no Rio planeja medir brasileiros de todas as regiões e estabelecer novos padrões para a indústria

Você chega na loja, pede a roupa com o seu número, mas descobre que a peça está pequena ou grande, agarrando aqui, sobrando ali. Você engordou? Você emagreceu? Pode ser. Mas é também provável que a roupa não esteja no tamanho certo.
"As medidas de roupas hoje são todas improvisadas pelas confecções, além de seguirem padrões antigos, de mais de dez anos atrás, e o corpo do brasileiro mudou bastante nesse período", afirma a designer Patrícia Dinis.
Patrícia é especializada em modelagem computadorizada e faz parte de uma equipe multidisciplinar de professores e pesquisadores do Rio que resolveu realizar uma tarefa titânica: medir os brasileiros de todas as regiões e estabelecer novos padrões para a indústria.
A equipe atua na faculdade Senai/Cetiqt (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/ Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil) e começou o trabalho em 2005, fazendo medidas à mão.
Agora, os pesquisadores ganharam um poderoso aliado: um ""body scanner" comprado nos Estados Unidos por US$ 120 mil (cerca de R$ 200 mil).

32 sensores
A medida manual de uma pessoa leva de 20 a 30 minutos. O "body scanner" dá as medidas completas em 20 segundos.
A máquina tem a aparência de uma cabine de provas de roupas, com 32 sensores que projetam luzes brancas e fazem uma varredura completa do corpo. A convite da Folha, a modelo Kat Torres, que veste nº 36 e tem 1,72m de altura, testou o aparelho.
O aparelho ainda está num período de testes e, até agora, 200 pessoas já foram escaneadas. Em breve, a equipe definirá uma metodologia para o seu uso. Em agosto, termina a fase experimental e começa a captação efetiva dos dados antropométricos atuais dos brasileiros, que durará dois anos.
De início, apenas do Rio e da região Sudeste. Em seguida, do resto do país. "Ainda não consolidamos parcerias efetivas nas demais regiões, mas há várias empresas interessadas", conta a professora Katia Pires, gerente do Instituto de Design do Senai/Cetiqt.
"Com base na pesquisa, as confecções deixarão de improvisar e perder dinheiro, porque terão medidas padrões corretas e atuais dos brasileiros. Por exemplo, já podemos constatar que os brasileiros estão mais altos, mais gordos e mais musculosos. Pequenas diferenças podem influir muito na vestibilidade da roupa", diz Katia.

Roupas pela internet
Para o professor Ariel Vicentini, coordenador de tecnologia do Senai/Cetiqt, a definição dos padrões antropométricos vai permitir que as pessoas tenham mais segurança a respeito do seu tamanho, caso queiram adquirir roupas pela internet. "Hoje, é um risco fazer compras assim, você nunca sabe que tamanho virá", diz.
Outra vantagem, segundo ele, é que diminuirá o desperdício de tecido. ""Pense, por exemplo, no que se perde na hora de ajustar uma barra."
Mas será que algumas grifes seguirão à risca os tamanhos padrões, abrindo mão do tamanho magro que domina tanto as araras das lojas?
"Quando se verificar cientificamente que o brasileiro não é tão magro como querem os estilistas, deverá haver resistência ao uso dos novos padrões. A grife, então, terá que optar por fazer roupas para uma minoria magra, perdendo clientes, ou adotará as novas medidas como referência", prevê Katia.
O trabalho da equipe será tanto mais difícil porque eles não pretendem definir apenas um padrão para todo o país, mas um conjunto de dez biótipos diferentes -e só de adultos entre 18 e 70 anos.
"Depois, valeria a pena fazer também a medição das crianças, porque a indústria não acompanhou o desenvolvimento delas. Hoje, uma criança de quatro anos às vezes veste roupa para tamanho seis anos", diz Patricia.
A pesquisa do Senai/Cetiqt não interessa só à moda. De posse das medidas científicas dos brasileiros, outras áreas do design também podem se beneficiar. Segundo Ariel, os padrões podem, por exemplo, ajudar a redefinir o tamanho dos assentos em aviões e carros, sem falar na altura e no comprimento dos móveis.


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