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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
A máquina de medir brasileiros
Com um "body scanner", equipe de pesquisadores no Rio planeja medir brasileiros de todas as regiões e estabelecer novos padrões para a indústria
Você chega na loja, pede a
roupa com o seu número, mas
descobre que a peça está pequena ou grande, agarrando
aqui, sobrando ali. Você engordou? Você emagreceu? Pode
ser. Mas é também provável
que a roupa não esteja no tamanho certo.
"As medidas de roupas hoje
são todas improvisadas pelas
confecções, além de seguirem
padrões antigos, de mais de dez
anos atrás, e o corpo do brasileiro mudou bastante nesse período", afirma a designer Patrícia Dinis.
Patrícia é especializada em
modelagem computadorizada
e faz parte de uma equipe multidisciplinar de professores e
pesquisadores do Rio que resolveu realizar uma tarefa titânica: medir os brasileiros de todas as regiões e estabelecer novos padrões para a indústria.
A equipe atua na faculdade
Senai/Cetiqt (Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial/
Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil) e começou o trabalho em 2005, fazendo medidas à mão.
Agora, os pesquisadores ganharam um poderoso aliado:
um ""body scanner" comprado
nos Estados Unidos por US$
120 mil (cerca de R$ 200 mil).
32 sensores
A medida manual de uma
pessoa leva de 20 a 30 minutos.
O "body scanner" dá as medidas completas em 20 segundos.
A máquina tem a aparência
de uma cabine de provas de
roupas, com 32 sensores que
projetam luzes brancas e fazem
uma varredura completa do
corpo. A convite da Folha, a
modelo Kat Torres, que veste
nº 36 e tem 1,72m de altura,
testou o aparelho.
O aparelho ainda está num
período de testes e, até agora,
200 pessoas já foram escaneadas. Em breve, a equipe definirá uma metodologia para o seu
uso. Em agosto, termina a fase
experimental e começa a captação efetiva dos dados antropométricos atuais dos brasileiros, que durará dois anos.
De início, apenas do Rio e da
região Sudeste. Em seguida, do
resto do país. "Ainda não consolidamos parcerias efetivas
nas demais regiões, mas há várias empresas interessadas",
conta a professora Katia Pires,
gerente do Instituto de Design
do Senai/Cetiqt.
"Com base na pesquisa, as
confecções deixarão de improvisar e perder dinheiro, porque
terão medidas padrões corretas e atuais dos brasileiros. Por
exemplo, já podemos constatar
que os brasileiros estão mais
altos, mais gordos e mais musculosos. Pequenas diferenças
podem influir muito na vestibilidade da roupa", diz Katia.
Roupas pela internet
Para o professor Ariel Vicentini, coordenador de tecnologia
do Senai/Cetiqt, a definição
dos padrões antropométricos
vai permitir que as pessoas tenham mais segurança a respeito do seu tamanho, caso queiram adquirir roupas pela internet. "Hoje, é um risco fazer
compras assim, você nunca sabe que tamanho virá", diz.
Outra vantagem, segundo
ele, é que diminuirá o desperdício de tecido. ""Pense, por
exemplo, no que se perde na
hora de ajustar uma barra."
Mas será que algumas grifes
seguirão à risca os tamanhos
padrões, abrindo mão do tamanho magro que domina tanto as
araras das lojas?
"Quando se verificar cientificamente que o brasileiro não é
tão magro como querem os estilistas, deverá haver resistência ao uso dos novos padrões. A
grife, então, terá que optar por
fazer roupas para uma minoria
magra, perdendo clientes, ou
adotará as novas medidas como
referência", prevê Katia.
O trabalho da equipe será
tanto mais difícil porque eles
não pretendem definir apenas
um padrão para todo o país,
mas um conjunto de dez biótipos diferentes -e só de adultos
entre 18 e 70 anos.
"Depois, valeria a pena fazer
também a medição das crianças, porque a indústria não
acompanhou o desenvolvimento delas. Hoje, uma criança
de quatro anos às vezes veste
roupa para tamanho seis anos",
diz Patricia.
A pesquisa do Senai/Cetiqt
não interessa só à moda. De
posse das medidas científicas
dos brasileiros, outras áreas do
design também podem se beneficiar. Segundo Ariel, os padrões podem, por exemplo, ajudar a redefinir o tamanho dos
assentos em aviões e carros,
sem falar na altura e no comprimento dos móveis.
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