São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Cinemas/estréias - Crítica/"Pecados Inocentes"

Diretor é hábil ao criar drama intimista

"Pecados Inocentes", de Tom Kalin, conta história verídica de casal que se desestabiliza quando decide ter um filho

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Rodado em 2006 e exibido pela primeira vez no Festival de Cannes do ano passado, "Pecados Inocentes" só agora começa a fazer carreira nos cinemas e será lançado antes no Brasil do que nos EUA, onde participa neste final de semana do Festival Tribeca, em Nova York.
Todo longa tem sua história de contratempos, mas a demora é reveladora também do estado de coisas do mercado cinematográfico, orientado para produtos de grande apelo, especialmente os que se dirigem ao público juvenil, e pouco amistoso com o que parece mais "difícil", no jargão da área.
De fato, a experiência a que "Pecados Inocentes" convida o espectador não é fácil ou, no aspecto emocional, gratificante.
Em seu primeiro longa de ficção desde "Swoon - Colapso do Desejo" (1992), o diretor Tom Kalin faz a anatomia de uma família "disfuncional".
Baseado na história verídica de Brooks, Barbara e Tony Baekeland, reconstituída em livro por Natalie Robins e Steven Aronson, o argumento permite ao cineasta um elegante exercício de estilo no território do drama intimista, com ênfase na sexualidade dos personagens.
Supõe-se, quando o filme tem início, que havia em algum momento do passado um equilíbrio -ainda que precário- no casamento entre o herdeiro de um inventor (Stephen Dillane) e uma aspirante a estrela de Hollywood (Julianne Moore).
Lá se vai o equilíbrio quando nasce o filho do casal, interpretado por Barney Clark na infância e por Eddie Redmayne como adulto. As diferenças entre marido e mulher, por exemplo, deixam de ser silenciosas e se tornam, às vezes, explosivas.
A dinâmica do pequeno núcleo familiar é acompanhada ao longo de quase 40 anos, nos diferentes lugares onde eles viveram. Saltos no tempo condensam as relações entre os três a pequenos momentos significativos do que a ausência, a distância, a incomunicabilidade e a intolerância podem gerar.
Há também um bocado de amor em jogo, bem como modos desesperados de buscá-lo e afirmá-lo, culminando em um episódio-limite angustiado que lembra em chave inversa, mas com idêntica poesia, o que vivem Jill Clayburgh e Matthew Barry em "La Luna" (1979), de Bertolucci, com o qual "Pecados..." guarda semelhanças.


PECADOS INOCENTES
Produção:
EUA, 2006
Direção: Tom Kalin
Com: Julianne Moore, Stephen Dillane
Onde: a partir de hoje no Cinesesc e no Frei Caneca Unibanco Arteplex
Avaliação: bom

NO BLOG
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