São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Crítica/"Como Eu Festejei o Fim do Mundo"

Sem convencer, longa romeno reconstitui tempo de ditadura

CRÍTICO DA FOLHA

Se existe uma coisa digna de admiração, em um filme, é não usar a música para criar climas emocionais artificialmente. E se existe uma virtude indiscutível em "Como Eu Festejei o Fim do Mundo" é essa. Ela não é a única, é verdade, mas, como as demais, corre o risco de sucumbir à finalidade central do filme, que é fazer a celebração do fim do comunismo e, por conseguinte, da ditadura Ceaucescu na Romênia.
Existe algo de fácil nesse tipo de filmes, que é seu aspecto político, e, como está fora de questão criar uma nova dramaturgia ou algo assim, seu apoio principal consiste no aspecto informativo: como se vivia no tempo de Ceaucescu, que tipo de problema era possível ter com a polícia, de que estratagemas se valiam as pessoas para sobreviver a um Estado repressivo? Ou ainda: como era possível se dar bem, por oportunismo ou imbecilidade, tomando partido do Partido. Coisas, enfim, que conhecemos.
"Como Festejei..." narra a história da jovem Eva Matei (Doroteea Petre), rebelde quase por acaso, que, depois de romper o namoro com o filho de um policial e ser expulsa da Juventude Comunista, é transferida para uma escola técnica (quase um reformatório), onde encontra um rapaz disposto a fugir do país. Entraremos em contato com sua família, cujos conflitos e vidas estão diretamente vinculados ao poder do Partido e sua respectiva polícia. Filmes dessa categoria dependem em grande medida da capacidade de seus autores de criar histórias pessoais suficientemente interessantes para dar estofo ao segmento político um tanto óbvio. Se "Como Festejei..." não chega a convencer inteiramente, é menos por apelar a artifícios um tanto elementares (exemplo: a Romênia de Ceaucescu é sempre cinzenta e chuvosa; a pós-Ceaucescu, sempre quente e colorida) do que por apostar no trabalho em tons baixos, coisa que só diretores de primeiro time dominam. Ou seja, sua maior virtude e seu principal problema são, no fundo, o mesmo. (INÁCIO ARAUJO)

COMO EU FESTEJEI O FIM DO MUNDO
Produção:
Romênia/França, 2006
Direção: Catalin Mitulescu
Com: Doroteea Petre, Ionut Becheru
Onde: a partir de hoje no HSBC Belas Artes
Avaliação: regular


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