São Paulo, sexta, 25 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO/ESTRÉIA
Abujamra "rege" tragédia feminina

DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

Antonio Abujamra lançou a si próprio um desafio: montar "Fedra", de Jean Racine, apenas com atrizes.
Buscou mulheres com quem está atuando na TV e com quem já havia trabalhado em outras peças e colocou no palco Imara Reis no papel de Fedra, Tânia Bondezan no de Teseu e a novata Ana Paula Arósio no de Hipólito. São as três personagens centrais da tragédia grega "Fedra".
Mas, além delas, participam da montagem Mika Lins, no papel de Arícia, Bárbara Bruno, como Enone, Selma Egrei, como Terâmeno, e Leila Garcia, como Corifeu, além de um coro de seis mulheres.
A razão para chamar apenas mulheres para o elenco é explicada por Abujamra. "As mulheres levaram 2.000 anos para descobrir o orgasmo. Agora que descobriram ficam enchendo o saco. Na época shakespeariana, atores homens faziam personagens femininos. Por que não, neste final de século, optar por fazer um espetáculo com elas?! E eu sou um bom treinador de éguas, melhor que treinador de cavalos", satiriza.
Para o diretor, a personagem Fedra vai além de ser um emblema feminista. "Fedra é uma potência, candidata a bárbara e apaixonada que é invejada por toda a classe masculina. A violência que ela tem de se apaixonar pela paixão e ir até o fim é invejável. Ela foi até o fim da sua opção, com todas as manhas das mulheres, todas as riquezas e `filhas-da-putice' das mulheres, essas canalhas. Ela é grandiosa."
A peça foi escrita originalmente por Eurípides e reescrita por vários autores, entre eles Racine. Fedra, casada com o guerreiro e herói Teseu, torna-se incestuosa porque se apaixona por Hipólito, belo guerreiro e filho de Teseu.
Hipólito, por sua vez, é apaixonado por Arícia, um amor vetado por Teseu porque ela é inimiga.
A tragédia se desencadeia porque Fedra resolve revelar seu amor por Hipólito e trama contra ele.
"Fedra pensava que Hipólito era insensível ao amor até descobrir que ele gostava da Arícia. Aí ela fica louca de ciúmes", afirma Ana Paula Arósio, que faz Hipólito.
Para Imara Reis, que interpreta Fedra, a peça traz à tona a arte da palavra: "A tragédia mostra que a palavra vai além do fato, porque o fato mesmo não existe, não está consumado. O que existe é a paixão desmedida de Fedra".
Tânia Bendezan interpreta Teseu, que está no outro vértice do triângulo, composto também por Hipólito e Fedra.
Interpretando um papel masculino, ela diz que existem diferenças por essa montagem ser feita apenas por mulheres. "As mulheres são multifacetadas. Sou uma mulher interpretando um homem que é um guerreiro. Ele aparece na minha voz, na postura mais forte."

Peça: Fedra De: Jean Racine Direção: Antonio Abujamra Elenco: Imara Reis, Tânia Bendezan, Ana Paula Arósio e outras Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611) Quando: estréia hoje, às 21h30; qui a sáb, às 21h30, e dom, às 20h30 Quanto: R$ 8

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã