|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO/ESTRÉIA
Abujamra "rege" tragédia feminina
DANIELA ROCHA
da Reportagem Local
Antonio Abujamra lançou a si
próprio um desafio: montar "Fedra", de Jean Racine, apenas com
atrizes.
Buscou mulheres com quem está
atuando na TV e com quem já havia trabalhado em outras peças e
colocou no palco Imara Reis no
papel de Fedra, Tânia Bondezan
no de Teseu e a novata Ana Paula
Arósio no de Hipólito. São as três
personagens centrais da tragédia
grega "Fedra".
Mas, além delas, participam da
montagem Mika Lins, no papel de
Arícia, Bárbara Bruno, como Enone, Selma Egrei, como Terâmeno,
e Leila Garcia, como Corifeu, além
de um coro de seis mulheres.
A razão para chamar apenas mulheres para o elenco é explicada
por Abujamra. "As mulheres levaram 2.000 anos para descobrir o
orgasmo. Agora que descobriram
ficam enchendo o saco. Na época
shakespeariana, atores homens faziam personagens femininos. Por
que não, neste final de século, optar por fazer um espetáculo com
elas?! E eu sou um bom treinador
de éguas, melhor que treinador de
cavalos", satiriza.
Para o diretor, a personagem Fedra vai além de ser um emblema
feminista. "Fedra é uma potência,
candidata a bárbara e apaixonada
que é invejada por toda a classe
masculina. A violência que ela tem
de se apaixonar pela paixão e ir até
o fim é invejável. Ela foi até o fim
da sua opção, com todas as manhas das mulheres, todas as riquezas e `filhas-da-putice' das mulheres, essas canalhas. Ela é grandiosa."
A peça foi escrita originalmente
por Eurípides e reescrita por vários
autores, entre eles Racine. Fedra,
casada com o guerreiro e herói Teseu, torna-se incestuosa porque se
apaixona por Hipólito, belo guerreiro e filho de Teseu.
Hipólito, por sua vez, é apaixonado por Arícia, um amor vetado
por Teseu porque ela é inimiga.
A tragédia se desencadeia porque Fedra resolve revelar seu amor
por Hipólito e trama contra ele.
"Fedra pensava que Hipólito era
insensível ao amor até descobrir
que ele gostava da Arícia. Aí ela fica louca de ciúmes", afirma Ana
Paula Arósio, que faz Hipólito.
Para Imara Reis, que interpreta
Fedra, a peça traz à tona a arte da
palavra: "A tragédia mostra que a
palavra vai além do fato, porque o
fato mesmo não existe, não está
consumado. O que existe é a paixão desmedida de Fedra".
Tânia Bendezan interpreta Teseu, que está no outro vértice do
triângulo, composto também por
Hipólito e Fedra.
Interpretando um papel masculino, ela diz que existem diferenças
por essa montagem ser feita apenas por mulheres. "As mulheres
são multifacetadas. Sou uma mulher interpretando um homem que
é um guerreiro. Ele aparece na minha voz, na postura mais forte."
Peça: Fedra
De: Jean Racine
Direção: Antonio Abujamra
Elenco: Imara Reis, Tânia Bendezan, Ana
Paula Arósio e outras
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)
Quando: estréia hoje, às 21h30; qui a sáb,
às 21h30, e dom, às 20h30
Quanto: R$ 8
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|