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Código do barulho
No meio da ficção do filme "O Código Da Vinci", há temas que estão no debate da igreja hoje, diz teólogo
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Muito barulho por nada."
Foi com o nome de uma famosa
comédia de Shakespeare
("Much Ado about Nothing")
que o "L'Osservatore Romano",
o jornal do Vaticano, deu o título à resenha do filme "O Código
Da Vinci", que publicou anteontem. Assim, parece que a
própria igreja, que num primeiro momento havia atacado o filme, está percebendo que tratá-lo pelo que ele realmente é
-uma ficção rocambolesca de
segunda linha, confusa e inverossímil- pode ser a melhor
estratégia para minar a propagação de temas e interpretações indigestos.
Baseado no livro homônimo
de Dan Brown, "O Código Da
Vinci", que está lotando bilheterias pelo mundo e causando
intensas reações de religiosos, é
um thriller apoiado em evangelhos apócrifos e outros documentos deixados à parte pela
igreja. Seu sucesso deve-se
muito a um calculado tratamento pseudo-científico que
dá a sua trama novelesca.
A principal controvérsia do
livro está no fato de afirmar que
Jesus Cristo e Maria Madalena
teriam tido uma filha e que toda
a história posterior do cristianismo teria sido um esforço para ocultar essa "verdade".
A Folha assistiu a
uma sessão do filme
com o teólogo e historiador da Igreja
Católica Oscar Beozzo, que chamou a
atenção para outros
pontos que o filme
toca e que ele considera atuais. A saber:
a batalha pela interpretação dos textos
(o que é apócrifo e o
que é autêntico), a
importância da mulher no Novo Testamento e a sexualidade de Cristo. "Não
acho ruim as pessoas
irem assistir. É bom
que saibam quais
problemas preocupam a igreja hoje."
Para Juan José Tamayo, professor de teologia da Universidade Carlos 3 de Madri, o interesse recente em revitalizar o
papel de Maria Madalena surgiu por conta de um revisionismo feminista. "Mostrar que ela
era mais importante do que
deixam crer os textos supostamente oficiais tem a ver com
nosso ambiente cultural de hoje, que valoriza as perspectivas
de gênero", diz.
Já para dom Antonio Dias
Duarte, bispo auxiliar do Rio de
Janeiro, a revisão das ações de
Maria Madalena não é prioridade. "A igreja de cada época
tem suas questões. Na atualidade, a questão não é Madalena, mas assuntos mais relevantes, como a justiça social e a defesa da vida humana", diz.
Outro aspecto que Beozzo vê
o filme apontar é a necessidade
que o contexto atual tem de pedir transparência às organizações religiosas. "Tem razão o
filme em denunciar o lado violento e condenável das Cruzadas, da Inquisição, da exclusão
das mulheres, da falta de transparência institucional e de
abrir um debate sobre estas
questões", diz o teólogo. "O lado problemático do filme",
acrescenta, "é o de passar a
imagem de uma vasta operação
histórica de ocultação de verdades e de atribuir um caráter
mafioso e violento
a instituições como
a Igreja Católica, a
Opus Dei etc."
Com relação ao
retrato da Opus
Dei, d. Duarte, que
é membro da prelazia, rechaça a maneira como esta e a
igreja são mostradas. "O "Código"
não diz a verdade.
Tanto o filme como
o livro mostram
uma imagem distorcida de Jesus
Cristo. Uma imagem que não corresponde à verdade
histórica e que,
dessa maneira, distorce também a
imagem da igreja",
conclui.
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