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Crítica/"O Tigre e a Neve"
Populismo estraga filme de Benigni
Diretor de "A Vida É Bela" parece lutar para reconquistar sua popularidade em longa que se passa na Guerra do Iraque
CRÍTICO DA FOLHA
N
ão faz muito tempo, o
diretor e ator italiano
Roberto Benigni era
rei. Hoje, caiu em desgraça. A
quase unanimidade em torno
de "A Vida É Bela" (filme-rival
do brasileiro "Central do Brasil", de Walter Salles, na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro em 1999) e sua onipresença na mídia testaram os limites
da paciência do público.
Em 2002, a versão de Benigni
para a história de Pinóquio -o
filme leva o nome do boneco de
madeira- foi um grande estouro de bilheteria na Itália, mas,
por aqui, saiu direto em DVD.
Agora, "O Tigre e a Neve",
concluído em 2005, chega aos
cinemas brasileiros.
O último longa de Benigni é
um filme estranho, que, por um
lado, mais parece uma jogada
oportunista de reconquista da
popularidade, mas, por outro,
também parece refletir uma
preocupação muito sincera de
seu criador.
No filme, Roberto Benigni
defende pontos muito interessantes: se a linguagem constrói
o mundo, e se a linguagem permite a poesia, de onde vem tanta guerra e brutalidade? É uma
pergunta ingênua, mas muito
eficaz justamente pela ingenuidade que guarda. Desse ponto
de vista, a guerra se faz ainda
mais absurda.
Iraque
"O Tigre e a Neve" foi batizado de "A Vida É Bela no Iraque". Sua premissa, de fato,
permite essa comparação.
O ator e cineasta retoma a
mesma lógica do filme que lhe
deu fama mundial ao contar a
história de um homem apaixonado que vai ao Iraque, em plena guerra, para salvar a mulher
que ama, vítima de um ataque a
bomba. Benigni cria alguns momentos realmente tocantes e
divertidos.
O músico Tom Waits participa do curioso sonho felliniano
que abre e entrecorta o filme,
por exemplo. Em outros momentos, porém, o diretor apela
para um populismo desgraçado, que compromete a sua proposta e joga boa parte da poesia
por água abaixo.
O chato
Uma cena do filme é especialmente divertida. Preso por
engano pelos americanos, o
professor Attillio, personagem
interpretado pelo próprio Benigni, grita sem parar que é italiano. Grita tanto que provoca a
ira de um velhinho iraquiano
ao seu lado, que reage: "Cala a
boca!".
Trata-se, no mínimo, de uma
demonstração de plena consciência de sua chatice, ou, pelo
menos, de uma boa piada com
sua grande fama de chato.
No panorama desolador do
cinema italiano atual, é difícil
não reconhecer que Benigni, ao
menos, tem um universo próprio. Ele é um chato, está certo,
mas um chato com algum talento e domínio de linguagem.
Para quem tem afinidades com
seu universo, "O Tigre e a Neve" tem lá seu encanto.
(PEDRO BUTCHER)
O TIGRE E A NEVE
Direção: Roberto Benigni
Produção: Itália, 2005
Com: Roberto Benigni, Jean Reno e
Nicoletta Braschi
Quando: estréia hoje no Cine Bombril,
Frei Caneca Unibanco Arteplex, Kinoplex Itaim e circuito
Avaliação: regular
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