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Crítica/"Escola do Riso"
Japonês alcança bom resultado com poucos elementos
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
D
esde que começou a
ressurgir internacionalmente, o cinema japonês ainda não tinha se dedicado à comédia. Mas será "Escola do Riso" uma comédia de
verdade?
Em certos momentos, parece
que sim, até se ri francamente.
Em outros, acompanhamos
com um sorriso as desventuras
de Taubaki (Goro Inagaki), um
escritor de comédias, às voltas
com o rigoroso censor Sakisaka
(o ótimo Kôji Yakusho). Por vezes, parece que tudo vai enveredar para o dramático -o que
por sinal não acontece. Em parte, o interesse do filme vem daí.
Estamos no Japão de 1940,
portanto, o militarismo está a
pleno vapor (o Japão ocupa
parte da China, prepara-se para
outras aventuras bélicas etc.), e
Sakisaka, encarnação desse espírito, é nomeado o novo censor. As companhias teatrais
sentirão o peso de sua tesoura.
Sua atenção volta-se especialmente para a paródia de
"Romeu e Julieta" escrita por
Taubaki. As restrições colocadas por Sakisaka são de várias
ordens. Desde o fato de Shakespeare ser um autor inglês (o
Reino Unido era inimigo na
época) até o fato de se tratar de
uma comédia. Sakisaka não vê
graça em nada e, sobretudo,
não vê graça alguma no humor.
A relação parece sem saída,
mas como Taubaki, obstinadamente, dispõe-se a reescrever
tudo que o censor exige, percebemos que duas coisas se transformam. A primeira, é que a peça começa a se aperfeiçoar. Podemos por um momento concordar com Borges, o argentino, quando argumenta que a
censura é uma ótima coisa, pois
estimula a imaginação dos escritores. Contudo, Sakisaka invade o "nonsense": a opressão à
obra torna-se insuportável.
A segunda é que entre o censor e o escritor começa, aos
poucos, a se desenvolver uma
relação de cumplicidade não
prevista originalmente. Graças
ao rigor com que o censor trata
as situações de humor, ele torna-se aos poucos um precioso
colaborador do autor.
"Escola do Riso" é um filme
que trabalha com poucos elementos. Basicamente, dois personagens e uma única situação
dramática. Dentro dela, no entanto, existem nuances a desenvolver: o crescendo do envolvimento entre os dois homens, o momento em que a
opressão começa a se transformar em colaboração, graças à
capacidade de observação de
Sakisaka para o humano (e a
sua intransigência quanto às
coisas dramáticas, que começa
por ser meramente repressora
para se tornar estética).
Por fim, o desenrolar do filme é pontuado por notações
que dão conta, com delicadeza,
do progressivo aprofundamento do militarismo.
Tanto a direção de Mamoru
Hosi como o texto (baseado numa peça teatral, fato que o filme
tem o mérito de não tentar esconder) sabem manejar o material dramático sumário proposto inicialmente com desenvoltura, chegando a um resultado extremamente eficaz e a um
filme em que, em vez de optar
pelos sentidos óbvios (pela
criação, contra a censura etc.),
opta pela dificuldade dos sentidos que se difundem.
Essa dificuldade é que nos
mantém tão relaxadamente interessados. Ela é a maior riqueza deste filme inesperado.
ESCOLA DO RISO
Direção: Mamoru Hosi
Produção: Japão, 2004
Com: Kôji Yakusho e Goro Inagaki
Quando: estréia hoje no Cinesesc
Avaliação: bom
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