|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Eu faria isso pelo resto da minha vida"
Sarah Jessica Parker afirma que sentiu náusea ao reviver personagem para filme, mas que Carrie "voltou por conta própria"
"Há situações que não são próprias para ninguém com menos de 30", diz a atriz, surpreendida com o sucesso da série entre adolescentes
Divulgação
|
|
Chris Noth e Sarah Jessica Parker em cena do filme
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Assim que ela chega à suíte
do hotel Ritz Carlton, em Nova
York, com um vestido bege sob
um blazer cinza e um sapato altíssimo de uma cor entre o bege
e o cinza, é impossível não se
espantar com o tanto que Sarah
Jessica Parker é pequena. Baixinha, magrinha, miúda.
Ela diz que sofre para manter
o peso e que tem de ficar atenta
para não emagrecer demais.
Tem o cabelo lindo, comprido,
brilhante, e olhos azuis-turquesa. E tem tanto carisma que, ao
fim da entrevista, a repórter
mal se lembra da mão enrugada
que entrega os 43 anos que ela
tem -e que não faz questão nenhuma de esconder.
Veja, a seguir, trechos da conversa de Sarah com a Folha.
FOLHA - Desde o fim da série, você
virou empresária, seu filho cresceu,
você passou de uma mulher de 30 e
poucos anos para uma de 40 e poucos. Foi difícil voltar a viver a Carrie?
SARAH - Meu marido e eu conversamos muito sobre isso.
Tanto ele como eu já saímos de
uma peça na Broadway e voltamos. No começo, parece que
você nunca vai conseguir lembrar as falas, mas, aos poucos,
tudo volta. Com o perdão do clichê, é como andar de bicicleta,
você usa a memória muscular,
algo que não parece estar disponível, mas que está quando
você volta a praticar. Fizemos
esses papéis por muito tempo.
Não houve nenhum ensaio para o filme, só teve uma leitura
de texto, porque não tínhamos
tempo. No começo, eu tinha
náuseas, achava que estava fazendo tudo errado. Aos poucos,
fui relaxando e deixando a Carrie voltar por conta própria.
FOLHA - Você estava feliz com o
fim de Carrie na série?
SARAH - Achei maravilhoso.
Aliás, toda a última temporada
foi emocionante, a gente sabia
que estava caminhando para a
conclusão, e cada episódio era
ao mesmo tempo um a mais e
um a menos, a gente ria e chorava, foi uma montanha russa
emocional. Não troco aquela
experiência por nada. Se um dia
eu disser que cansei da Carrie
ou de "Sex and the City", pode
saber que estou mentindo. Eu
faria isso pelo resto da vida.
FOLHA - A série teve poucos personagens negros, mas, no filme, Jennifer Hudson participa como sua assistente. Foi uma opção por causa das
críticas que a série recebia por isso?
SARAH - Mais ou menos. Durante a série a gente prestava
atenção a essas críticas, mas o
[diretor] Michael Patrick King
dizia que não adiantava tentar
consertar uma situação forçando a barra. Era preciso um personagem que tivesse a ver com
aquele universo. Ao fazer o filme, ele escreveu a personagem
e disse que queria a Jennifer
Hudson. Falei: "Entre na fila".
Porque todos querem a Jennifer Hudson. Mas ela aceitou fazer um teste e foi uma surpresa
para todos. Ela é linda, o que
não dá para ver bem no filme
"Dreamgirls", porque ela faz a
não-linda da banda. E queria o
papel, então deu tudo certo.
FOLHA - Já tem gente especulando
que o filme terá uma continuação. O
quanto há de verdade nisso?
SARAH JESSICA PARKER - Não existe nenhum plano de fazer outro
filme, mas existe o sonho. Não
gostaria de deixar para sempre
de viver essa personagem nem
de deixar para sempre de trabalhar com essas pessoas. Se o público gostar desse filme, se o
Michael Patrick tiver uma idéia
tão boa quanto essa para um
novo roteiro, tenho certeza de
que ninguém vai dizer "não". É
raro um ator ter um trabalho
tão prazeroso e relevante quanto "Sex and the City". Mas, se tiver que acabar agora, terá sido
uma trajetória maravilhosa.
FOLHA - O seriado é muito mais
popular hoje do que no começo [os
episódios foram vendidos a vários
canais do mundo, que os reprisam].
Acredita que o filme sai na hora certa por causa disso?
SARAH - É assustador que a série tenha mais público agora.
Antes, o público era muito selecionado, a gente falava quase de
igual para igual. Agora, a série é
vista por adolescentes, meninas que me reconhecem na rua
e pedem autógrafo. Fico feliz e
constrangida. Não fizemos uma
série para adolescentes, há situações lá que acho que não são
próprias para ninguém com
menos de 30 anos, mas o público de hoje em dia tem 16, 18, 20
anos. Sou muito mais reconhecida hoje em dia do que quando
gravava o seriado. Só agora entendi a dimensão de ser uma
atriz famosa por uma série de
TV. É ótimo. Não reclamo do
sucesso, mas fico ressabiada.
FOLHA - Por que você acha que os
gays gostam tanto da série?
SARAH - Não sei explicar racionalmente. Meus amigos gays
adoram a série, quase tanto
quanto minhas amigas, que se
viam naquelas mulheres até
mais do que eu. Acho que a mistura do diálogo muito franco e
bem-humorado, somado à busca de um amor verdadeiro, com
ótimo sexo e roupas incríveis,
tem a ver com o estilo de vida
dos gays. E a relação de uma
mulher com seus amigos gays é
tão profunda quanto a amizade
com outras mulheres. Às vezes
até mais, já que quase nunca
entre uma mulher e um gay há
a competição por outro homem. A maioria dos meus amigos é gay. Eles têm o dom de fazer uma mulher se sentir uma
dama nos piores momentos.
FOLHA - Qual é a maior diferença
entre você e a Carrie?
SARAH - Há milhões de diferenças, fizemos escolhas quase
opostas na vida e temos histórias diferentes. Venho de uma
família enorme, trabalhei desde criança, tenho um filho, sou
casada há 16 anos. Antes disso
tive só um relacionamento sério, por sete anos [com o ator
Robert Downey Jr.]. Mas há semelhanças também, e a mais
óbvia delas é a paixão por Nova
York. A maior lição de Carrie
para mim foi como ser uma
amiga melhor. Adoro o tipo de
amiga que ela é, gostaria de ser
mais como ela nisso. Não sei como essas mulheres encontram
tanto tempo para dedicarem às
amigas. Acho invejável.
FOLHA - Você reconheceu em Carrie uma grande personagem assim
que leu o roteiro do piloto da série?
SARAH - É engraçado e meio
constrangedor ver aquele piloto. Mas aquela última cena, dela e do Mr. Big no carro, quando
os dois têm uma longa conversa
sobre o amor, me fez querer saber mais a respeito daquelas
pessoas. Aquele final era tão rico, tão cheio de potencial, era
irresistível. Mesmo assim, tive
que ser convencida a aceitar o
papel. Estava morrendo de medo de fazer uma série na TV.
FOLHA - O que deu tanto medo?
SARAH - Eu achava minha carreira maravilhosa antes da série [risos]. Fazia mais teatro,
mas conseguia papéis em um
filme ou outro, ganhava um dinheiro decente, o que poderia
ser melhor? Tinha tempo de
ver os amigos, jantava fora quase todas as noites... Era outro
estilo de vida, mas eu adorava.
Texto Anterior: Qu4teto fantástico Próximo Texto: Frase Índice
|