|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Venezuela recebe maior mostra já feita sobre Niemeyer
Exposição aberta no Museu de Arte Contemporânea de Caracas tem 40 projetos do arquiteto, dos anos 60 até hoje
Carro-chefe é reprodução em tamanho natural da escultura "A Grande Mão", que fica no Memorial da América Latina, em SP
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em 19/4/1990, em carta ao
ministro da Cultura venezuelano da época, Oscar Niemeyer
manifestava o desejo de realizar uma exposição sobre a sua
obra em Caracas, no final daquele ano. "Dessa forma, teria
tempo de organizá-la da maneira mais adequada, dando
ênfase ao meu último projeto, o
Memorial da América Latina".
A surpreendente longevidade de Niemeyer, 101, fez com
que o Memorial ficasse atrás de
projetos como o Auditório Ibirapuera. Mas é com a sua mais
importante obra em São Paulo,
escultura "A Grande Mão" à
frente, que foi finalmente aberta a exposição sobre o arquiteto
no Museu de Arte Contemporânea de Caracas, 19 anos depois daquelas conversas.
Reproduzida no seu tamanho natural (sete metros), a
"Mão" está ali para mostrar que
o arquiteto comunista tem lado: "A luta continua. Fidel,
Chávez e Lula são os nossos líderes" é a frase de Niemeyer
que se lê na parede, ao lado da
escultura.
"A mostra é um apoio ao movimento político do qual a Venezuela faz parte. Ele acha que
hoje alguns países estão compreendendo os aspectos da Revolução Cubana", afirma o curador Marcus de Lontra.
Recorde de projetos
Colaborador de Niemeyer há
mais 30 anos, Lontra, 55, disse
que a exposição é uma versão
ampliada e mais "ideológica"
de uma mostra feita em Washington (EUA) no ano passado.
Trata-se, segundo ele, da maior
já feita sobre o arquiteto, se levado em conta o número de
projetos exibidos (cerca de 40).
Passado o recado ideológico
da entrada, as demais cinco salas, montadas cronologicamente, mostram sete décadas de
trabalhos de Niemeyer, desde o
Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, projeto de 1940,
até o Centro Cultural de Valparaíso (Chile), desenhado em
2007, ano do seu centenário.
Além de maquetes e reproduções de desenhos de Niemeyer, há ainda um acervo de fotos de autoria de seu neto Kadu.
A exibição inclui ainda dois
projetos de Niemeyer para a
Venezuela que, separados por
mais de 50 anos, não vingaram.
O primeiro é o de um museu
que seria construído numa
montanha em Caracas -projeto que lembra o Museu de Arte
Contemporânea de Niterói.
Para concebê-lo, Niemeyer
fez a sua única viagem à Venezuela, entre 1954 e 1955. Avesso
a aviões, foi de navio até Trinidad, no Caribe, onde embarcou
num iate do milionário Inocente Palácio, que lhe havia contratado. Em Caracas, trabalhou
durante cerca de um mês, mas
o projeto acabou engavetado.
O segundo projeto, Monumento a Bolívar, foi dado a
Chávez em 2006 e deveria ser
realizado dentro da cidade.
Mas o presidente venezuelano,
que quer construir uma homenagem ao seu maior herói em
cima do Ávila, uma enorme
montanha que desponta no horizonte de Caracas, já o descartou. Prefere uma estátua.
"Chávez imagina o Cristo do
Corcovado, mas com a cabeça
do Bolívar, montado na montanha", diz o arquiteto Domingo
Álvarez, 73, amigo de Niemeyer
que participou da montagem
da exposição.
Texto Anterior: Mondo Cannes Próximo Texto: Frase Índice
|