São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Venezuela recebe maior mostra já feita sobre Niemeyer

Exposição aberta no Museu de Arte Contemporânea de Caracas tem 40 projetos do arquiteto, dos anos 60 até hoje

Carro-chefe é reprodução em tamanho natural da escultura "A Grande Mão", que fica no Memorial da América Latina, em SP

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em 19/4/1990, em carta ao ministro da Cultura venezuelano da época, Oscar Niemeyer manifestava o desejo de realizar uma exposição sobre a sua obra em Caracas, no final daquele ano. "Dessa forma, teria tempo de organizá-la da maneira mais adequada, dando ênfase ao meu último projeto, o Memorial da América Latina".
A surpreendente longevidade de Niemeyer, 101, fez com que o Memorial ficasse atrás de projetos como o Auditório Ibirapuera. Mas é com a sua mais importante obra em São Paulo, escultura "A Grande Mão" à frente, que foi finalmente aberta a exposição sobre o arquiteto no Museu de Arte Contemporânea de Caracas, 19 anos depois daquelas conversas.
Reproduzida no seu tamanho natural (sete metros), a "Mão" está ali para mostrar que o arquiteto comunista tem lado: "A luta continua. Fidel, Chávez e Lula são os nossos líderes" é a frase de Niemeyer que se lê na parede, ao lado da escultura.
"A mostra é um apoio ao movimento político do qual a Venezuela faz parte. Ele acha que hoje alguns países estão compreendendo os aspectos da Revolução Cubana", afirma o curador Marcus de Lontra.

Recorde de projetos
Colaborador de Niemeyer há mais 30 anos, Lontra, 55, disse que a exposição é uma versão ampliada e mais "ideológica" de uma mostra feita em Washington (EUA) no ano passado. Trata-se, segundo ele, da maior já feita sobre o arquiteto, se levado em conta o número de projetos exibidos (cerca de 40).
Passado o recado ideológico da entrada, as demais cinco salas, montadas cronologicamente, mostram sete décadas de trabalhos de Niemeyer, desde o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, projeto de 1940, até o Centro Cultural de Valparaíso (Chile), desenhado em 2007, ano do seu centenário.
Além de maquetes e reproduções de desenhos de Niemeyer, há ainda um acervo de fotos de autoria de seu neto Kadu.
A exibição inclui ainda dois projetos de Niemeyer para a Venezuela que, separados por mais de 50 anos, não vingaram. O primeiro é o de um museu que seria construído numa montanha em Caracas -projeto que lembra o Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
Para concebê-lo, Niemeyer fez a sua única viagem à Venezuela, entre 1954 e 1955. Avesso a aviões, foi de navio até Trinidad, no Caribe, onde embarcou num iate do milionário Inocente Palácio, que lhe havia contratado. Em Caracas, trabalhou durante cerca de um mês, mas o projeto acabou engavetado.
O segundo projeto, Monumento a Bolívar, foi dado a Chávez em 2006 e deveria ser realizado dentro da cidade. Mas o presidente venezuelano, que quer construir uma homenagem ao seu maior herói em cima do Ávila, uma enorme montanha que desponta no horizonte de Caracas, já o descartou. Prefere uma estátua.
"Chávez imagina o Cristo do Corcovado, mas com a cabeça do Bolívar, montado na montanha", diz o arquiteto Domingo Álvarez, 73, amigo de Niemeyer que participou da montagem da exposição.

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