São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Amazonas Filarmônica atinge esplendor sonoro de Wagner

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Amazonas Filarmônica pode até não ser a melhor orquestra de ópera do Brasil -mas, no último domingo, soou como tal.
No 15º Festival Amazonas de Ópera, em Manaus, o maestro Luiz Fernando Malheiro transformou-a em protagonista de uma montagem intensa e arrebatadora de "Tristão e Isolda", de Richard Wagner (1813-1883).
Criada em 1997, por Júlio Medaglia, com músicos de Belarus e Bulgária, a Filarmônica foi assumida por Malheiro em 2000. De lá para cá, perdeu diversos integrantes, que se mudaram para outras capitais brasileiras em busca de climas mais amenos.
Entre as inevitáveis oscilações, o nível de alguma forma se manteve. Em "Tristão", a orquestra é muito mais do que uma acompanhadora. Wagner urde uma teia instrumental sofisticada, que faz dela a verdadeira narradora dos desejos irrefreáveis de uma das partituras mais sensuais do repertório.
Ao longo de quatro horas e 30 minutos de música, Malheiro jamais deixou o interesse e a concentração se esvaírem. A suntuosidade sonora que se espera de Wagner estava toda lá, mas, em um teatro de dimensões relativamente pequenas foi possível também trazer elementos de intimismo e refinamento nem sempre possíveis em casas maiores.

SUPERAÇÃO
Assim, o clímax da ópera, o gigantesco dueto do segundo ato, que é visto como a expressão em música dos maiores êxtases amorosos, recebeu não só a habitual e esperada carga de veemência e assertividade mas também foi lido com matizes ricas, sutilezas de dinâmica e delicadezas de fraseado.
A soprano carioca Eliane Coelho teve que superar uma crise de bronquite para encarnar a dificílima parte de Isolda. Soube se poupar no primeiro ato para se entregar sem reservas ao dueto do segundo, fazendo de sua morte, no terceiro ato, um daqueles momentos inesquecíveis.
A seu lado, o tenor norte-americano John Charles Pierce foi um Tristão sólido e vigoroso, construindo um arco de intensidade cujo ápice foi o terceiro ato.
O barítono Leonardo Neiva revelou-se um Kurwenal seguro e consciente do estilo wagneriano, enquanto a promissora mezzosoprano Andreia Souza foi uma Brangäne de notável volume vocal. Chamado para assumir a direção do espetáculo em cima da hora, André Heller-Lopes construiu sua encenação em volta de Isolda, com um enorme espelho no centro do palco funcionando como principal elemento cênico.
Ora refletindo o que tinha diante de si, ora deixando entrever o que estava por detrás, o espelho foi bastante decisivo na criação da atmosfera onírica que permeou todo o espetáculo.

TRISTÃO E ISOLDA

AVALIAÇÃO ótimo

O jornalista IRINEU FRANCO PERPETUO viajou a Manaus a convite do festival.


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