São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

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No Rio, Norman Foster e Niemeyer defendem vãos

Conversa de britânico com brasileiro foi gravada e deve integrar trilogia de documentários sobre design

Inglês idealizou cidade nos Emirados Árabes a partir de conceitos diferentes daqueles aplicados em Brasília

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

É o vazio o que os une.
Se quase três décadas separam Norman Foster, 75, e Oscar Niemeyer, 103, a arquitetura de um encontra eco na de outro nos amplos espaços abertos que ambos buscam.
A admiração comum pelos vãos esteve no centro do encontro entre arquitetos, na última sexta (20), no escritório de Niemeyer no Rio. A conversa integra um documentário de Gary Hustwit, produtor e diretor independente que vive entre Londres e Nova York.
"Urbanized" completa uma trilogia de documentários sobre design que já abordou a tipografia ("Helvetica", 2007) e o desenho industrial ("Objectified", 2009).
No Twitter, Hustwit expressou sua satisfação em ter filmado Niemeyer no Rio.
Foster aproveitou a vinda ao Brasil para visitar a contribuição máxima de Niemeyer à história das cidades. Em Brasília, viu "fontes de inspiração" saídas da prancheta de Niemeyer: os palácios do Planalto e da Alvorada.
O dedo de Niemeyer esteve na escolha profissional de Foster. O inglês contou à Folha que o palácio Gustavo Capanema pesou na decisão de ser arquiteto.
O edifício no centro do Rio, marco inicial do modernismo brasileiro, desenvolvido sob a batuta do franco-suíço Le Corbusier e concluído em 1947, foi o primeiro projeto importante de que Niemeyer participou.
E, de novo, nesse ponto, surge a ideia de vazio.
"Fiquei impressionado como as publicações não mostram o espaço vazio do prédio. O entorno permanece dentro do espaço", disse Foster a Niemeyer, que respondeu afirmando ser preciso "recusar os vãos pequenos. Com vãos maiores, temos liberdade de criação."

ASPECTO SOCIAL
Questionado por Foster sobre a construção de Brasília, Niemeyer preferiu discutir o aspecto social do projeto.
"Quando arquitetos vêm de fora para falar comigo, eu levo a conversa mais para o social. A arquitetura é importante, mas a vida é mais", disse o brasileiro, repetindo um discurso que lhe é caro.
"Mais importante do que os prédios são os espaços públicos que eles criam", complementou Norman Foster.
Como outro ponto (ou vazio) comum, os dois arquitetos têm no currículo a criação de cidades no meio do nada.
Mas enquanto Brasília privilegia os carros, Masdar - concebida por Foster em 2007 como modelo de sustentabilidade nos Emirados Árabes- favorece o pedestre e veta os automóveis.
A diferença conceitual, talvez o maior dos vazios entre os dois, Foster diz ser sinal dos tempos. E contemporiza, dizendo que as duas cidades unem as pessoas "num sentimento comunitário".


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