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MÚSICA
Cantora inicia hoje série de três espetáculos no teatro Cultura Artística
Ute Lemper mescla cabaré alemão com Broadway
Associated Press
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Ute Lemper durante concerto em Los Angeles, em abril de 2000 |
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Tradicionalmente voltada para
a mais ortodoxa música erudita, a
Sociedade de Cultura Artística
abre as portas hoje para uma artista "crossover". A cantora alemã
Ute Lemper vem ao Brasil pela
primeira vez.
Estrela de musicais de sucesso
na Europa e nos EUA (como "Cabaret" e "Chicago"), Lemper tem
habilidades de atriz e bailarina:
trabalhou com Pina Bausch e
Maurice Béjart e apareceu nos filmes "Prêt-a-Porter", de Robert
Altman, e "A Última Tempestade", de Peter Greenaway.
Tornou-se uma cantora "cult"
ao abordar, com grande sucesso
de crítica e público, as canções de
Kurt Weill, parceiro musical de
Bertolt Brecht. A partir daí, seu repertório abarcou canções de cabaré até chegar ao último álbum,
"Punishing Kiss", a autores contemporâneos, como Elvis Costello, Nick Cave e Tom Waits.
No Brasil, acompanhada por
um trio de piano, contrabaixo e
bateria, ela interpreta, nas três
noites, o mesmo repertório.
De Nova York, onde mora,
Lemper falou à Folha por telefone, em meio aos ensaios para um
novo show, que estréia em Londres na semana que vem, e a gravação de mais um disco, com canções de sua autoria.
Folha - Que repertório você vai fazer no Brasil?
Ute Lemper - Vai ser um "one-woman-show", uma espécie de
balanço geral de todo o repertório, incluindo Kurt Weill, canções
de cabaré, Jacques Brel e o novo
álbum, "Punishing Kiss", com
canções de Nick Cave, Elvis Costello e Tom Waits.
Folha - Como você escolheu esse
repertório?
Lemper - Como eu nunca estive
no Brasil, resolvi fazer um pouquinho de cada coisa.
Folha - Como será o espetáculo?
Você atua parada como uma cantora lírica ou há elementos cênicos?
Lemper - Ah, sim, vai ser bastante teatral, porque é o que eu mais
gosto de fazer. Haverá um trio tocando comigo e um tratamento
de luz bem legal. O espetáculo todo é moldado como uma narração de histórias, como se cada
canção fosse uma história que eu
conto. Não há cenário, mas a
apresentação inteira tem uma dimensão teatral.
Folha - Você é bastante identificada como intérprete de Kurt Weill.
Como começou sua relação com a
música dele ?
Lemper - Comecei a cantar Weill
há mais de 20 anos. Era um repertório político, forte, satírico, avançado, que eu adorava cantar em
alemão. A época de Weill era uma
época perigosa, e o repertório tem
essa dimensão de tentação e perigo político, de consciência política e despertar político. Ele também fala de coragem, de senso de
emancipação, de liberação da sexualidade, de liberdade de expressão. Todos esses elementos me faziam achar que elas eram mais do
que simplesmente belas canções,
eram como uma asserção. Como
uma alemã de outra geração, era
estimulante para mim mexer com
esse material, porque os anos entre as guerras mundiais são uma
espécie de época perdida e esquecida -todo esse repertório foi depois banido pelos nazistas.
Folha - Como você chegou às canções de seu último álbum, "Punishing Kiss"? É uma entrada no repertório pop, não?
Lemper - Sim, quer dizer, eu
sempre achei que meu estilo de
interpretação, mesmo em Kurt
Weill ou canções de cabaré, é bem
contemporâneo. Acho que, provavelmente, as canções de Tom
Waits e Elvis Costello foram bastante inspiradas em Brecht e pelo
lado escuro de seu teatro. Achei
que era uma evolução natural para mim entrar nesse repertório.
UTE LEMPER - Quando: hoje, amanhã e
dia 27, às 21h. Onde: teatro Cultura
Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/
xx/11/258-3616). Quanto: R$ 50 a R$ 120
(estudantes pagam R$ 10 meia hora
antes dos concertos).
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