São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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MÚSICA

Cantora inicia hoje série de três espetáculos no teatro Cultura Artística

Ute Lemper mescla cabaré alemão com Broadway

Associated Press
Ute Lemper durante concerto em Los Angeles, em abril de 2000


IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Tradicionalmente voltada para a mais ortodoxa música erudita, a Sociedade de Cultura Artística abre as portas hoje para uma artista "crossover". A cantora alemã Ute Lemper vem ao Brasil pela primeira vez.
Estrela de musicais de sucesso na Europa e nos EUA (como "Cabaret" e "Chicago"), Lemper tem habilidades de atriz e bailarina: trabalhou com Pina Bausch e Maurice Béjart e apareceu nos filmes "Prêt-a-Porter", de Robert Altman, e "A Última Tempestade", de Peter Greenaway.
Tornou-se uma cantora "cult" ao abordar, com grande sucesso de crítica e público, as canções de Kurt Weill, parceiro musical de Bertolt Brecht. A partir daí, seu repertório abarcou canções de cabaré até chegar ao último álbum, "Punishing Kiss", a autores contemporâneos, como Elvis Costello, Nick Cave e Tom Waits.
No Brasil, acompanhada por um trio de piano, contrabaixo e bateria, ela interpreta, nas três noites, o mesmo repertório.
De Nova York, onde mora, Lemper falou à Folha por telefone, em meio aos ensaios para um novo show, que estréia em Londres na semana que vem, e a gravação de mais um disco, com canções de sua autoria.

Folha - Que repertório você vai fazer no Brasil?
Ute Lemper -
Vai ser um "one-woman-show", uma espécie de balanço geral de todo o repertório, incluindo Kurt Weill, canções de cabaré, Jacques Brel e o novo álbum, "Punishing Kiss", com canções de Nick Cave, Elvis Costello e Tom Waits.

Folha - Como você escolheu esse repertório?
Lemper -
Como eu nunca estive no Brasil, resolvi fazer um pouquinho de cada coisa.

Folha - Como será o espetáculo? Você atua parada como uma cantora lírica ou há elementos cênicos?
Lemper -
Ah, sim, vai ser bastante teatral, porque é o que eu mais gosto de fazer. Haverá um trio tocando comigo e um tratamento de luz bem legal. O espetáculo todo é moldado como uma narração de histórias, como se cada canção fosse uma história que eu conto. Não há cenário, mas a apresentação inteira tem uma dimensão teatral.

Folha - Você é bastante identificada como intérprete de Kurt Weill. Como começou sua relação com a música dele ?
Lemper -
Comecei a cantar Weill há mais de 20 anos. Era um repertório político, forte, satírico, avançado, que eu adorava cantar em alemão. A época de Weill era uma época perigosa, e o repertório tem essa dimensão de tentação e perigo político, de consciência política e despertar político. Ele também fala de coragem, de senso de emancipação, de liberação da sexualidade, de liberdade de expressão. Todos esses elementos me faziam achar que elas eram mais do que simplesmente belas canções, eram como uma asserção. Como uma alemã de outra geração, era estimulante para mim mexer com esse material, porque os anos entre as guerras mundiais são uma espécie de época perdida e esquecida -todo esse repertório foi depois banido pelos nazistas.

Folha - Como você chegou às canções de seu último álbum, "Punishing Kiss"? É uma entrada no repertório pop, não?
Lemper -
Sim, quer dizer, eu sempre achei que meu estilo de interpretação, mesmo em Kurt Weill ou canções de cabaré, é bem contemporâneo. Acho que, provavelmente, as canções de Tom Waits e Elvis Costello foram bastante inspiradas em Brecht e pelo lado escuro de seu teatro. Achei que era uma evolução natural para mim entrar nesse repertório.

UTE LEMPER - Quando: hoje, amanhã e dia 27, às 21h. Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/ xx/11/258-3616). Quanto: R$ 50 a R$ 120 (estudantes pagam R$ 10 meia hora antes dos concertos).



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