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LIVROS
FILOSOFIA
Para autor de "Desejo de Status", desamor é uma causa, e cristianismo, solução
Alain de Botton investiga o mal da busca por ser alguém
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Toda vez que um amigo faz sucesso, eu morro um pouco." A
frase, reputada ao escritor Gore
Vidal, sintetiza uma das causas de
um mal moderno: quando o assunto é a ansiedade por posição
social, o inferno são os outros. Este mal é analisado em "Desejo de
Status", 12º livro do escritor Alain
de Botton (editora Rocco), que
chega às livrarias na segunda-feira. Novamente com o tom ensaísta, Botton recorre do pensamento
de Aristóteles às idéias do escritor
de auto-ajuda Anthony Robbins
("Desperte o Gigante Interior") e
divide seu livro em duas partes:
entre as causas, ele cita a falta de
amor; entre as soluções, a arte e o
cristianismo.
Leia a entrevista que o autor deu
à Folha, por e-mail, de Londres.
Folha - O que o levou a escrever
"Desejo de Status"?
Alain de Botton - Queria pensar
no modo como nos importamos
com o que pensam de nós. A razão é simples: a maioria das pessoas tende a ser legal conosco de
acordo com a dimensão de nosso
status -se descobrem que fomos
promovidos, há mais energia em
seu sorriso. Se despedidos, fingem que não nos viram. Nós nos
importamos de não termos status
porque perdemos a autoconfiança se as outras pessoas não parecem gostar ou nos respeitar. Nosso ego ou conceito que temos de
nós mesmos poderia ser retratado
como um balão furado, sempre
precisando de amor externo para
ficar inflado, e vulnerável ao menor espinho da rejeição...
Folha - Até que ponto esse desejo
é um sentimento universal?
Botton - Ter fome e desejo de
status é algo pouco comum, mas a
história mostra que tão logo as sociedades ultrapassam a subsistência básica, vem o desejo de status.
No mundo moderno, ele começa
quando comparamos nossas realizações com as de nossos pares.
Podemos nos preocupar com
nossa posição ao lermos um perfil
entusiasmado de um conhecido
no jornal, quando um amigo nos
revela inocentemente (ou por puro sadismo) uma boa novidade,
como ter sido promovido, ter se
casado ou chegado à lista de best-sellers. Ou quando, numa festa,
alguém que acabou de abrir seu
próprio negócio aperta nossa
mão e pergunta o que fazemos.
Folha - Como reage à pergunta?
Botton - Digo que sou um escritor. Aí as pessoas me olham com
pena e medo. Escrever não é uma
ocupação muito popular na Inglaterra, ao contrário, digamos,
da França, onde ser escritor é um
dos trabalhos mais glamourosos
que existem. Muitas vezes as pessoas me dizem: "Então, você espera ser publicado algum dia?". Momento em que eu dou uma de
Hugh Grant e digo, bem, já fui publicado. Tudo fica muito constrangedor para todos...
Folha - Você menciona causas e
soluções para o desejo de status.
Elas podem ser seguidas como um
manual para uma vida melhor?
Não tem medo do rótulo de escritor
de "auto-ajuda chique"?
Botton - Não acho que haja nada
de errado com a idéia de um livro
cujo objetivo seja melhorar a sua
vida. O problema é que a maioria
dos livros que hoje em dia fazem
isso explicitamente é um tanto
ruim (freqüentemente americanos, superotimistas e com capas
cor-de-rosa). Então, se podemos
dizer que Epicuro e Aristóteles
também eram ao seu modo escritores de auto-ajuda, eu ficaria feliz
de fazer parte desse grupo...
Folha - Já sentiu desejo de status?
Botton - Claro, porque me comparo aos meus pares, os outros escritores. Todos fazemos isto e, por
isso, acabamos sentindo falta de
coisas mesmo quando temos uma
situação melhor do que outros.
Não é que sejamos ingratos, apenas não nos julgamos tendo em
vista quem está distante. Não nos
alegramos por nossa prosperidade em termos geográficos ou históricos. Somente nos sentiremos
afortunados quando tivermos
tanto, ou mais, do que as pessoas
com quem crescemos, trabalhamos, temos como amigos ou nos
identificamos na esfera pública.
Daí que a melhor maneira de se
sentir alguém de sucesso é escolher amigos que tenham um pouco menos de êxito.
Folha - O que dizer daqueles que
enfrentam filas para comprar peças
de luxo em liqüidação? Quão afetadas estão pelo desejo de status?
Botton - Em vez de uma questão
de cobiça, a história do vício pelo
luxo deveria ser lida como um registro de trauma emocional. É a
herança daqueles que reconhecem que suas chances de serem
tratadas com respeito em círculos
esnobes vão aumentar se eles têm
a precaução extra de também
comprar uma bolsa ou duas bolsas Louis Vuitton.
Folha - Tomar partido do cristianismo como solução para o mal não
é um tanto perigoso atualmente?
Botton - A questão não é a tendência religiosa, mas ver o que o
cristianismo sempre teve a dizer
sobre status. Nele, o que você faz
não diz nada sobre quem você é.
Cristo foi o homem mais importante, mas sempre foi um carpinteiro. O cristianismo legitima os
que são incapazes ou não querem
seguir as noções dominantes de
status, mas que ainda assim merecem não ser caracterizados como
perdedores ou um zé ninguém.
Desejo de Status
Autor: Alain de Botton
Tradução: Ryta Vinagre
Editora: Rocco
Quanto: R$ 39,50 (304 págs.)
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