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"A TV é mais importante do que o cinema", diz novelista
DO COLUNISTA DA FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando um novelista sustenta que, no Brasil, "a televisão é
mais importante do que o cinema", é fácil descartar sua afirmação, como sendo a expressão de um recalque.
Mas isso não vale para Silvio
de Abreu, que trocou a carreira
de cineasta pelo primeiro time
de autores de novela da Globo.
Nos anos 70, em que a pornochanchada dominava a produção nacional, ele dirigiu "Gente
que Transa", "Elas São do Baralho", "A Árvore dos Sexos" e co-dirigiu "Cada um Dá o que
Tem". Em 1980, pôs um ponto
final (ao menos até aqui) na trajetória de cineasta, com o longa
"Mulher Objeto".
Com a autoridade de quem
conhece os dois lados da moeda, Abreu provoca: "Já disse e
reitero, no Brasil, a TV é mais
importante do que o cinema".
Comparando a audiência
média de sua novela (60 milhões de espectadores), com os
resultados dos filmes brasileiros na bilheteria, Abreu conclui
que "o cinema hoje no Brasil vive de prestígio, não de público".
O filme nacional mais visto
neste ano é "Se Eu Fosse Você",
do também diretor global Daniel Filho (3,6 milhões de espectadores), estrelado precisamente pelo par romântico de
"Belíssima", Glória Pires e
Tony Ramos.
Mas Abreu não poupa o colega de suas avaliações desafiadoras. Afirma que, até hoje, nada
que Daniel Filho fez no cinema
é melhor do que seu trabalho
em televisão.
A seguir, Abreu compara cinema e TV. Sem cortes:
"Das pessoas que saem da TV
para fazer cinema não vi ainda
ninguém ter feito um filme melhor do que o trabalho que fazia
na televisão.
"A Vida como Ela É", que Daniel Filho fazia no "Fantástico",
é muito melhor do que todos os
filmes que ele fez. É um primor
de direção. Nelson Rodrigues
feito na melhor categoria.
Se você pegar "Engraçadinha", que o [Carlos] Manga e a
Denise [Saraceni] fizeram, é
melhor do que qualquer versão
de Nelson Rodrigues feita para
cinema. É melhor do que a do
Braz Chediak ["Bonitinha, Mas
Ordinária", "Álbum de Família"
(1980)], melhor do que o "Boca
de Ouro", do Nelson Pereira dos
Santos [1963].
O cinema brasileiro atualmente faz sucesso de público
quando chega muito perto da
TV, como "Se Eu Fosse Você".
Ele está vivendo de prestígio,
não de público. Tem festival em
Tupaciguara [MG], festival em
não sei onde. No final, o cara
diz: "Ganhei um monte de prêmio". Isso não quer dizer nada.
É bom para botar na estante.
Eu também tenho um monte
de prêmio. É ótimo. Obrigado.
Taí. Mas eu estou fazendo um
trabalho que atinge 60 milhões
de pessoas por dia.
Na TV, tenho uma excelente
produção e o melhor elenco do
país, porque, vai me desculpar,
mas não existe elenco melhor
do que o que tenho em "Belíssima". Trabalho com os melhores
atores do país. As minhas idéias
estão lá. Atinjo 60 milhões de
telespectadores por dia. Por
que cinema é mais importante?
Não entendo".
(DC e SA)
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