São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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"A TV é mais importante do que o cinema", diz novelista

DO COLUNISTA DA FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando um novelista sustenta que, no Brasil, "a televisão é mais importante do que o cinema", é fácil descartar sua afirmação, como sendo a expressão de um recalque.
Mas isso não vale para Silvio de Abreu, que trocou a carreira de cineasta pelo primeiro time de autores de novela da Globo.
Nos anos 70, em que a pornochanchada dominava a produção nacional, ele dirigiu "Gente que Transa", "Elas São do Baralho", "A Árvore dos Sexos" e co-dirigiu "Cada um Dá o que Tem". Em 1980, pôs um ponto final (ao menos até aqui) na trajetória de cineasta, com o longa "Mulher Objeto".
Com a autoridade de quem conhece os dois lados da moeda, Abreu provoca: "Já disse e reitero, no Brasil, a TV é mais importante do que o cinema".
Comparando a audiência média de sua novela (60 milhões de espectadores), com os resultados dos filmes brasileiros na bilheteria, Abreu conclui que "o cinema hoje no Brasil vive de prestígio, não de público". O filme nacional mais visto neste ano é "Se Eu Fosse Você", do também diretor global Daniel Filho (3,6 milhões de espectadores), estrelado precisamente pelo par romântico de "Belíssima", Glória Pires e Tony Ramos.
Mas Abreu não poupa o colega de suas avaliações desafiadoras. Afirma que, até hoje, nada que Daniel Filho fez no cinema é melhor do que seu trabalho em televisão.
A seguir, Abreu compara cinema e TV. Sem cortes:
"Das pessoas que saem da TV para fazer cinema não vi ainda ninguém ter feito um filme melhor do que o trabalho que fazia na televisão.
"A Vida como Ela É", que Daniel Filho fazia no "Fantástico", é muito melhor do que todos os filmes que ele fez. É um primor de direção. Nelson Rodrigues feito na melhor categoria.
Se você pegar "Engraçadinha", que o [Carlos] Manga e a Denise [Saraceni] fizeram, é melhor do que qualquer versão de Nelson Rodrigues feita para cinema. É melhor do que a do Braz Chediak ["Bonitinha, Mas Ordinária", "Álbum de Família" (1980)], melhor do que o "Boca de Ouro", do Nelson Pereira dos Santos [1963].
O cinema brasileiro atualmente faz sucesso de público quando chega muito perto da TV, como "Se Eu Fosse Você".
Ele está vivendo de prestígio, não de público. Tem festival em Tupaciguara [MG], festival em não sei onde. No final, o cara diz: "Ganhei um monte de prêmio". Isso não quer dizer nada. É bom para botar na estante. Eu também tenho um monte de prêmio. É ótimo. Obrigado. Taí. Mas eu estou fazendo um trabalho que atinge 60 milhões de pessoas por dia.
Na TV, tenho uma excelente produção e o melhor elenco do país, porque, vai me desculpar, mas não existe elenco melhor do que o que tenho em "Belíssima". Trabalho com os melhores atores do país. As minhas idéias estão lá. Atinjo 60 milhões de telespectadores por dia. Por que cinema é mais importante? Não entendo". (DC e SA)


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