São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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BIA ABRAMO

Humor de "Belíssim a" supera veia crítica


À falta de uma grande (ou média, vá lá) narrativa, a ironia vai quebrando um galho


"BELÍSSIMA" ESTÁ chegando ao fim com uma nota de exaustão. Não em relação a essa novela em si, mas da importância do formato para o imaginário brasileiro. Se a novela, nos anos 70, teve a possibilidade de fazer as vezes de espaço para elaboração de uma certa narrativa mais ou menos coletiva da sociedade brasileira, hoje essa possibilidade é bem menor, bem menos significativa.
Vez por outra, de forma muito parcial e precária, algumas conseguem dar voz a uma ou outra inquietação. "Belíssima" até que tentou enveredar pela discussão da ética, numa espécie de retomada desencantada de "Vale Tudo", situada em um Brasil bem mais caótico do que aquele capturado por Gilberto Braga quase 20 anos atrás. Mas o fez sem muito fôlego (não é exatamente a praia de Silvio de Abreu) e de forma um tanto desorientada (digamos que o panorama, nesse terreno, se tornou muito mais complexo).
No final, além de mais uma vilã marcante em Bia Falcão e um sedutor vil em André Santana, o interesse gerado por essa prospecção no terreno moral não foi lá muito grande.
Por outro lado, a trama policialesca perdeu bastante força com a volta de Bia. A aposta do autor foi alta e, pelo andar da carruagem, provavelmente não terá valido a pena. Renunciando ao "quem matou", já que a morta, um dia, entrou por aquela porta, o grande mistério se dissolveu de forma quase irrecuperável.
Apesar disso, resta uma série de pequenos enigmas -André é do bem ou do mal? Quem matou Valdete? E seu Quiqui, que papel tinha de fato na trama?-, dando sustentação para o enredo, e a habilidade de Silvio de Abreu em manipulá-los é mais ou menos notável. Ou, pelo menos, acima da média.
Agora, o que de fato aconteceu na novela foi a caricatura bem-feita, essa sim a especialidade de Silvio de Abreu. À diferença de outros tempos, entretanto, o lastro com algum solo sociológico quase que desapareceu. De novo, parte disso por sinal dos tempos: os espelhos se multiplicaram de tal forma que não se sabe mais de onde partiu ou para onde foi a imagem.
Mas Silvio de Abreu tem humor e isso, se não resolve exatamente, salva bastante coisa. Bom para o casal extra-erótico e meio palhaço Safira e Pascoal, bom para a veia cômica de Irene Ravache como a grega Katina, mais a de uns outros tantos coadjuvantes. À falta de uma grande (ou média, vá lá) narrativa, a ironia vai quebrando um galho. No mínimo, é melhor do que se levar muito a sério.

@ - biabramo.tv uol.com.br


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