São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Artistas esvaziam arquitetura em mostra

Grupo Pino e Rafael Carneiro expõem no Maria Antonia

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

A tinta acrílica Pino está disponível só na cor cinza padrão. Pino também vende latas com alças de madeira sem uso definido, estruturas ajustáveis à cobertura de espaços externos e utilitários para facilitar a elevação de um fardo, aliviar o esforço de tração ou assegurar uma transmissão de movimento. No espaço que a firma ocupa no Centro Universitário Maria Antonia, há mostruários de seu piso de papelão que imita os veios da madeira -na mesma dimensão dos tacos originais do espaço expositivo- e um display de madeirite curvado, que acompanha o semicírculo da parede do prédio.
Não querem ter os nomes revelados os sócios-artistas por trás da Pino. Na mesma escala rebaixada da obra, preferem diluir a autoria no anonimato da firma, na estética padrão, regular que domina espaços corporativos e, sem dó, expositivos. Não descrevem seu pastiche de piso como ironia à arquitetura. Falam em técnicas de peletização e armazenagem de volumes genéricos ou específicos. Num ato de arte, acabaram por acobertar ela mesma, que some do espaço. Fica um showroom de frieza estarrecedora. "É a arquitetura que a gente usa para construir essa dificuldade", diz um representante da Pino. "A empresa é como se apresenta, não é ficção", diz outro. "Não é fictício nem real."
É nada. Esvaziar a arquitetura de objetivos, uso definido é a meta. Na sala ao lado, Rafael Carneiro reproduz em pinturas espaços ambíguos que encontrou na internet. Também se preocupa com a ausência de funções determinadas, jogando para as margens seus parcos pontos de interesse.
Parece usar o mesmo cinza padrão da Pino em obras quase sem contraste, paisagens diluídas num limbo entre ficção e realidade, afogadas na luz fria e fluorescente das corporações. "Todos os elementos dos quadros trabalham em função da ambiguidade", diz Carneiro, 24. "E a ambiguidade depende da ausência de contraste, tinta, cor. Não pode ser colorida."
Nessa frequência cromática subzero, Pino e Rafael Carneiro arquitetam suas realidades paralelas. Encontram força no desparecimento, na obra marginal, refém e ao mesmo tempo algoz do espaço. Pintam tudo de cinza na tentativa utilitária de elevar um fardo, aliviar o esforço de tração e assegurar uma transmissão de movimento.


PINO, RAFAEL CARNEIRO

Quando: abertura hoje, às 20h; ter. a sex., 10h às 21h; sáb. e dom., 10h às 18h; até 16/8
Onde: Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3255-7182)
Quanto: entrada franca




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