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Artistas esvaziam arquitetura em mostra
Grupo Pino e Rafael Carneiro expõem no Maria Antonia
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
A tinta acrílica Pino está disponível só na cor cinza padrão.
Pino também vende latas com
alças de madeira sem uso definido, estruturas ajustáveis à cobertura de espaços externos e
utilitários para facilitar a elevação de um fardo, aliviar o esforço de tração ou assegurar uma
transmissão de movimento.
No espaço que a firma ocupa
no Centro Universitário Maria
Antonia, há mostruários de seu
piso de papelão que imita os
veios da madeira -na mesma
dimensão dos tacos originais
do espaço expositivo- e um
display de madeirite curvado,
que acompanha o semicírculo
da parede do prédio.
Não querem ter os nomes revelados os sócios-artistas por
trás da Pino. Na mesma escala
rebaixada da obra, preferem diluir a autoria no anonimato da
firma, na estética padrão, regular que domina espaços corporativos e, sem dó, expositivos.
Não descrevem seu pastiche
de piso como ironia à arquitetura. Falam em técnicas de peletização e armazenagem de
volumes genéricos ou específicos. Num ato de arte, acabaram
por acobertar ela mesma, que
some do espaço. Fica um showroom de frieza estarrecedora.
"É a arquitetura que a gente
usa para construir essa dificuldade", diz um representante da
Pino. "A empresa é como se
apresenta, não é ficção", diz outro. "Não é fictício nem real."
É nada. Esvaziar a arquitetura de objetivos, uso definido é a
meta. Na sala ao lado, Rafael
Carneiro reproduz em pinturas
espaços ambíguos que encontrou na internet. Também se
preocupa com a ausência de
funções determinadas, jogando
para as margens seus parcos
pontos de interesse.
Parece usar o mesmo cinza
padrão da Pino em obras quase
sem contraste, paisagens diluídas num limbo entre ficção e
realidade, afogadas na luz fria e
fluorescente das corporações.
"Todos os elementos dos
quadros trabalham em função
da ambiguidade", diz Carneiro,
24. "E a ambiguidade depende
da ausência de contraste, tinta,
cor. Não pode ser colorida."
Nessa frequência cromática
subzero, Pino e Rafael Carneiro
arquitetam suas realidades paralelas. Encontram força no
desparecimento, na obra marginal, refém e ao mesmo tempo
algoz do espaço. Pintam tudo
de cinza na tentativa utilitária
de elevar um fardo, aliviar o esforço de tração e assegurar uma
transmissão de movimento.
PINO, RAFAEL CARNEIRO
Quando: abertura hoje, às 20h; ter. a
sex., 10h às 21h; sáb. e dom., 10h às
18h; até 16/8
Onde: Centro Universitário Maria
Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel.
0/xx/11/3255-7182)
Quanto: entrada franca
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