São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO Atores em obras
VALMIR SANTOS ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Projetados sobretudo na cena teatral brasileira dos anos 90, até alcançarem a TV e o cinema, os atores Luis Melo e Matheus Nachtergaele recuperam o rasto do trabalho de grupo em espetáculos simultâneos que estréiam no próximo mês em Curitiba e no Rio. Na semana passada, o curitibano Melo, 44, ex-primeiro-ator do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), coordenado por Antunes Filho, e o paulista Nachtergaele, 33, revelado no Teatro da Vertigem, de Antônio Araújo, foram ao Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP) para mostrar o estágio das montagens. Em 33 anos de história, 22 edições, as duas últimas internacionais, o festival tem incluído espetáculos inacabados no segmento "Processos", confiando na recepção da platéia que ajudou a formar. Deu certo. O Municipal de Rio Preto lotou todas as noites. Conferiu-se a disposição de ambos os atores em retomar a pesquisa e o risco na interpretação, dramaturgia e encenação. Melo protagoniza "Cãocoisa e a Coisa Homem", sob direção do carioca Aderbal Freire-Filho, que também alinhava o texto com os atores. É o primeiro espetáculo do núcleo de atores do Ateliê de Criação Teatral (ACT) que fundou em Curitiba há dois anos. A montagem estréia lá no dia 22 de agosto. Nachtergaele encabeça o elenco de "Woyzeck, o Brasileiro", direção de Cibele Forjaz, dramaturgia de Fernando Bonassi e participação de atores do grupo paraibano Piollin ("Vau da Sarapalha"). Pré-estréia no dia 15, no teatro Casa Grande, Leblon. "O espectador de Rio Preto pôde ver algumas passagens que provavelmente serão eliminadas ou colocadas de outra maneira. Isso só o ator tem acesso nos ensaios, momentos belos do teatro que não chegam à etapa final", diz Melo, envolvido pela perspectiva autoral: não como um "simples executor", antes, um "criador ao lado do diretor". "Cãocoisa e a Coisa Homem" traz jovens atores integrados há pouco ao ACT contracenando com outros mais experientes. Melo acena com o "processo colaborativo", chave para entendimento do teatro de pesquisa que se fez na década passada e "deságua para a corrente". "Nele, existe espaço para encenador, ator, dramaturgo, cenógrafo, figurinista. Todos saem ganhando com o diálogo." Segundo Melo, "está-se resgatando certa delicadeza, um pouco mais de cuidado com aquilo que é levado para a cena". E não é mera experimentação. Em "Woyzeck, o Brasileiro", Nachtergaele diz alcançar registro de interpretação visceral como as peças que protagonizou no Teatro da Vertigem: "O Livro de Jó" (95) e "O Paraíso Perdido" (92). "Há traços de trabalho comunitário, de grupo", diz Nachtergaele. "Esse é o teatro em que acredito, que não é acomodação, caça-níquel. Um teatro que quer mais do que divertir é sempre bem-vindo neste mundo de tanta futilidade e voyeurismo institucionalizado. Aliás, todo trabalho de vertigem é bem-vindo." Para Nachtergaele, o primeiro contato com o público em Rio Preto com a peça (então rebatizada de "Woyzeck Desmembrado", por se tratar lá de um "work in progress", com elenco de camiseta e calça jeans, interpretando cenas sorteadas ao acaso) provou que a montagem "dá gira". No festival, "Processos" apresentou ainda "Os Sertões", com o grupo Oficina, dirigido por José Celso Martinez Corrêa, e "Hamlet", produção do Popular do Sesi, por Francisco Medeiros. O repórter Valmir Santos viajou a convite da organização do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice |
|