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MÚSICA
Diretor da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo receberá em reais, e não mais em dólar
Governo reduz salário de Neschling
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo paulista decidiu reduzir os ganhos do maestro John
Neschling, diretor da Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo.
Ele receberá cerca de R$ 800 mil
este ano do Estado. O contrato será em reais, e não mais em dólar,
como ocorria desde 1997.
A mudança foi negociada depois que a Folha mostrou que
Neschling mantinha um contrato
sigiloso com a Fundação Padre
Anchieta, pelo qual ganhava cerca
de US$ 400 mil por ano (o correspondente hoje a R$ 1,16 milhão).
A reportagem, de 21 de maio,
apontava também que o pagamento em dólar era irregular, já
que a empresa criada por Neschling para ser contratado pela
fundação, a Colcheia, é brasileira.
Como o contrato era em dólar, a
perda de Neschling varia conforme o ano com o qual é comparado o ganho atual. Em 2000, por
exemplo, Neschling recebeu US$
472.286. Naquele ano, o valor correspondia a R$ 864.473,07, quando corrigido pelo valor médio
anual do dólar. Nessa comparação, a perda que ele tem com o salário de R$ 800 mil seria pequena
-pouco mais de R$ 64 mil.
Mas, quando se corrige o ganho
daquele ano pelo dólar atual (cerca de R$ 2,90), como previam os
contratos assinados entre 1997 e
2001, as perdas do maestro este
ano chegam a R$ 569.629,40.
O secretário estadual de Cultura, Marcos Mendonça, primeiramente negou as mudanças. Na semana passada, ele disse à Folha
que não sabia de nada sobre o novo documento que ele próprio negociou: "Não tenho nada a ver
com esse contrato, não sou parte
nele. Fale com as partes".
Mendonça tentou se esquivar
de explicar porque a decisão de
rebaixar os ganhos de Neschling
não partiu dele -partiu do governador Geraldo Alckmin
(PSDB), candidato à reeleição.
A versão da parte pagadora do
contrato, a Fundação Padre Anchieta, contradiz a idéia de que
Mendonça não sabia de nada. "O
contrato está sendo discutido na
Secretaria da Cultura. A única coisa que sei é que está sendo feito
em reais. Nós não entramos no
mérito do conteúdo [do contrato". Só formalizamos as tratativas", diz Manoel Luciano Viana,
superintendente da Fundação Padre Anchieta. Só assim Mendonça
aceitou falar sobre o novo contrato. "Não há redução. Há um ajuste entre as partes", disse.
Diferentemente dos contratos
que assinou entre 1997 e 2001, o
maestro não receberá mais por
concertos. Nos dois primeiros
anos, Neschling ganhava US$ 230
mil por ano, divididos em 12 parcelas, US$ 15 mil por concerto e
US$ 7,5 mil quando for um programa (com o estouro do dólar
nos anos seguintes, o ganho anual
baixou para US$ 224 mil e os cachês por concerto para US$ 12 mil
e US$ 6.000). Somados, esses valores atingiam cerca de US$ 400
mil por ano. Agora, receberá R$
800 mil (US$ 276 mil) para reger
21 concertos em São Paulo.
Por esse ajuste, a secretaria não
pagará os 15 concertos que Neschling regerá com a Osesp nos
EUA, entre 25 de outubro e 21 de
novembro, segundo o secretário.
O contrato foi feito em reais, diz
o secretário, porque Neschling
agora vive no Brasil (até 1997, ele
vivia na Suíça).
Não se sabe quanto Neschling
receberá nos EUA. Segundo o
maestro Júlio Medaglia, não é
praxe uma casa pagar o maestro
em excursão. "Quando uma orquestra viaja, o maestro e os músicos só recebem uma pequena
ajuda de custo. Quem recebe pela
excursão é a instituição, a orquestra, ou a Fundação Padre Anchieta, que paga a orquestra", diz.
A Folha procurou Neschling 12
vezes na última semana. Em todas
as ocasiões, sua secretária informou que ele ligaria para a Folha, o
que não ocorreu.
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