São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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GASTRONOMIA

NO CÁRCERE

"A Prisoner's Cookbook" compila receitas de presidiários

Sai nos EUA livro que "prende" pelo estômago

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Está lá, na página 67, capítulo "Coisas Estranhas - Coma por Sua Própria Conta e Risco": "Cozido de roedor". Antes que o leitor vire a página nauseado, a explicação: este é apenas um dos tópicos no mínimo polêmicos de um livro de receitas norte-americano.
Trata-se de "A Prisoner's Cookbook" (O Livro de Receitas de um Prisioneiro), que acaba de ser lançado nos Estados Unidos pela editora nanica Bluehorn Publishing, baseada em Humble, cidadezinha do Estado do Texas.
Nele, atendendo a pedidos postados em sites na internet e em publicações voltadas à população carcerária, prisioneiros de todos os Estados norte-americanos enviaram suas melhores receitas gastronômicas à editora. A única exigência era que os pratos pudessem ser preparados em celas, se fosse preciso.
Apesar de a compilação ser assinada por um misterioso "The Iron Ghetto Gourmet", a idéia é na verdade da editora Helen M. Copeland, dona da Bluehorn. Ela preferiu não colocar seu nome no livro, já que o pagamento para o autor de cada receita é um exemplar da coletânea.
Dada a origem dos pratos e o local onde eles devem ser preparados, não é estranho encontrar receitas como a citada acima ou outras envolvendo pombos e pernas de rã. Afinal, é preciso levar em conta que o prisioneiro tem de cozinhar com a matéria-prima que tem à mão.
Mas há sugestões mais afeitas ao paladar do civil em liberdade, como o "espaguete do xilindró", vegetariano, e a "sopa de linguiça do verão". O único problema é que estas dependem de uma "visita" à cozinha da prisão para que alguns ingredientes sejam "pegos emprestado".

Histórias
O livro, de 78 páginas, é dividido em 12 capítulos, cada um com um tipo de receita: café da manhã, bebidas, aperitivos etc. Entre um modo de preparo e outro, os presos contam historinhas saborosas e, às vezes, violentas, todas relacionadas a gastronomia.
Uma delas aconteceu "no verão de 1982 no Texas", segundo o relato de um anônimo. Ele e seus colegas detentos estavam limpando uma estrada perto da penitenciária quando viram um cavalo que havia acabado de morrer ao largo do caminho.
Ninguém prestou muita atenção ao caso. "Só que, naquela noite, o refeitório serviu hambúrguer pela primeira vez no ano", escreve o prisioneiro texano no livro. E, no dia seguinte, o cavalo não estava mais lá. Até hoje não sabemos se um evento está relacionado com o outro."

Gírias
No final, um glossário explica a peculiar gíria das prisões norte-americanas -você sabia, por exemplo, que "Alan Dershowitz" quer dizer "advogado branco" e "Johnny Cochran, "advogado negro", e que "lama" ("mud") significa "café"?
Contra a pena de morte, a editora Helen M. Copeland avisa que parte dos lucros obtidos com a venda dos livros vai para uma ONG que faz lobby no Congresso norte-americano pela mudança na lei da pena capital.


A PRISONER'S COOKBOOK. Autor: Helen M. Copeland (compilação). Editora: Bluehorn Publishing. Quanto: US$ 11. Para comprar: mandar um envelope com seu endereço e o valor acima em dinheiro para P.O. Box 2364, Humble, Texas, Zip Code: 77347, USA.



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