|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GASTRONOMIA
NO CÁRCERE
"A Prisoner's Cookbook" compila receitas de presidiários
Sai nos EUA livro que "prende" pelo estômago
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Está lá, na página 67, capítulo
"Coisas Estranhas - Coma por Sua
Própria Conta e Risco": "Cozido
de roedor". Antes que o leitor vire
a página nauseado, a explicação:
este é apenas um dos tópicos no
mínimo polêmicos de um livro de
receitas norte-americano.
Trata-se de "A Prisoner's Cookbook" (O Livro de Receitas de um
Prisioneiro), que acaba de ser lançado nos Estados Unidos pela editora nanica Bluehorn Publishing,
baseada em Humble, cidadezinha
do Estado do Texas.
Nele, atendendo a pedidos postados em sites na internet e em
publicações voltadas à população
carcerária, prisioneiros de todos
os Estados norte-americanos enviaram suas melhores receitas
gastronômicas à editora. A única
exigência era que os pratos pudessem ser preparados em celas, se
fosse preciso.
Apesar de a compilação ser assinada por um misterioso "The
Iron Ghetto Gourmet", a idéia é
na verdade da editora Helen M.
Copeland, dona da Bluehorn. Ela
preferiu não colocar seu nome no
livro, já que o pagamento para o
autor de cada receita é um exemplar da coletânea.
Dada a origem dos pratos e o local onde eles devem ser preparados, não é estranho encontrar receitas como a citada acima ou outras envolvendo pombos e pernas
de rã. Afinal, é preciso levar em
conta que o prisioneiro tem de cozinhar com a matéria-prima que
tem à mão.
Mas há sugestões mais afeitas ao
paladar do civil em liberdade, como o "espaguete do xilindró", vegetariano, e a "sopa de linguiça do
verão". O único problema é que
estas dependem de uma "visita" à
cozinha da prisão para que alguns
ingredientes sejam "pegos emprestado".
Histórias
O livro, de 78 páginas, é dividido
em 12 capítulos, cada um com um
tipo de receita: café da manhã, bebidas, aperitivos etc. Entre um
modo de preparo e outro, os presos contam historinhas saborosas
e, às vezes, violentas, todas relacionadas a gastronomia.
Uma delas aconteceu "no verão
de 1982 no Texas", segundo o relato de um anônimo. Ele e seus
colegas detentos estavam limpando uma estrada perto da penitenciária quando viram um cavalo
que havia acabado de morrer ao
largo do caminho.
Ninguém prestou muita atenção ao caso. "Só que, naquela noite, o refeitório serviu hambúrguer
pela primeira vez no ano", escreve
o prisioneiro texano no livro. E,
no dia seguinte, o cavalo não estava mais lá. Até hoje não sabemos
se um evento está relacionado
com o outro."
Gírias
No final, um glossário explica a
peculiar gíria das prisões norte-americanas -você sabia, por
exemplo, que "Alan Dershowitz"
quer dizer "advogado branco" e
"Johnny Cochran, "advogado negro", e que "lama" ("mud") significa "café"?
Contra a pena de morte, a editora Helen M. Copeland avisa que
parte dos lucros obtidos com a
venda dos livros vai para uma
ONG que faz lobby no Congresso
norte-americano pela mudança
na lei da pena capital.
A PRISONER'S COOKBOOK. Autor:
Helen M. Copeland (compilação).
Editora: Bluehorn Publishing. Quanto:
US$ 11. Para comprar: mandar um
envelope com seu endereço e o valor
acima em dinheiro para P.O. Box 2364,
Humble, Texas, Zip Code: 77347, USA.
Texto Anterior: Seleção: Cultura Inglesa faz teste para "Grease" Próximo Texto: No Carandiru, ratos e pombos não vão à panela Índice
|