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ANIMA MUNDI
FILMAKADEMIE
Escola com trabalhos premiados, como o curta "Das Rad", traz ao evento know-how sobre efeitos visuais
Alemães confundem o olho em animação
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Buster Keaton, astro do cinema
mudo dos anos 20, teria ficado feliz em conhecer a Filmakademie.
Se, naquela época, a escola de animação alemã já existisse, teria salvado o ator -dado às situações
mais arriscadas sem o uso de dublês- de uma boa parcela de arranhões e ossos fraturados. Totalmente virtuais, os cenários criados pela premiada instituição alemã dispensam seguro de vida.
Exemplo: no horário do almoço, dois operários da década de 50
disputam, a tapas, um saboroso
sanduíche no topo de um arranha-céu em construção. Um terceiro -na verdade uma rãzinha
asquerosa- entra na história para aumentar o riso e o perigo.
O nome do curta é "Hochbetrieb", em português, Porcas e Parafusos, e, na cena, apenas os dois
atores são reais. Os prédios ao
fundo, os demais operários, o céu
e a rã, tudo é colocado depois, por
computação gráfica, para preencher a tela azul diante da qual os
atores trabalharam. E engana.
Criada como uma divisão interna da Filmakademie, a escola de
animação alemã se viu recentemente obrigada a ampliar seus
tentáculos para a área de efeitos
visuais com a cada vez mais afinada tecnologia de composição de
personagens em 3D. Em pouco
tempo, já faturou prêmios nos
festivais de Annecy, Sttutgart e recentemente teve o curta-metragem "Das Rad" indicado para o
Oscar em sua categoria.
Já familiarizada com o Anima
Mundi -que também premiou o
curta "Das Rad" na edição passada-, a Filmakademie traz a São
Paulo uma pequena retrospectiva
de seus trabalhos, apresentada
pela professora de efeitos visuais
Katrin Arndt, 39. Em sua maioria
realizadas por estudantes, novas
produções como "Der Pilot",
"Masks" e os westerns "Hessi James" e "Wo Ist Frank?" (Onde está Frank?) dão uma pequena
mostra do potencial da escola.
"Nós fazemos animação de personagens em 2D, pinturas, animação de bonecos, mas também
animação em 3D, criação de cenários e efeitos especiais e design de
games", conta Arndt. "Os estudantes que chegam a nós vêm de
diversas áreas do cinema. Alguns
querem aprender animação de
personagens, outros preferem
aprender roteiros, direção etc."
Com experiência de já ter trabalhado para o mercado americano,
Arndt, que participa de um "papo
animado" hoje, no Sesc Vila Mariana, comenta que só agora as
produtoras européias estão percebendo o potencial das ferramentas de criação virtual. "O primeiro "Trainspotting" foi todo filmado nas ruas de Londres. Eles
trabalharam de forma tradicional.
Mas agora, na sequência, os diretores estão querendo usar computação, mas ainda enfrentam resistência dos produtores. O importante é que filmes como
"Hochbetrieb", que ganhou um
prêmio na Alemanha três semanas atrás, estão ajudando a abrir a
cabeça deles", defende.
Com todo esse "know-how" e
reconhecimento internacional
acumulado nos 11 anos da escola
de animação, Arndt afirma que
ainda depende de mais "confetes"
para assegurar a continuidade de
seu trabalho na Alemanha. "Nós
dependemos de financiamentos
do governo. É bom que eles vejam
que o nosso trabalho está sendo
elogiado no exterior porque só assim garantimos o dinheiro para o
próximo ano." E, principalmente,
um espaço digno nas televisões
locais: "Só um canal, o franco-germânico Arte, exibe às vezes alguns de nossos filmes. Mas é sempre no meio da madrugada", protesta Arndt, que tem ainda um
projeto de série infantil na manga.
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