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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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ANIMA MUNDI

FILMAKADEMIE

Escola com trabalhos premiados, como o curta "Das Rad", traz ao evento know-how sobre efeitos visuais

Alemães confundem o olho em animação

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Buster Keaton, astro do cinema mudo dos anos 20, teria ficado feliz em conhecer a Filmakademie. Se, naquela época, a escola de animação alemã já existisse, teria salvado o ator -dado às situações mais arriscadas sem o uso de dublês- de uma boa parcela de arranhões e ossos fraturados. Totalmente virtuais, os cenários criados pela premiada instituição alemã dispensam seguro de vida.
Exemplo: no horário do almoço, dois operários da década de 50 disputam, a tapas, um saboroso sanduíche no topo de um arranha-céu em construção. Um terceiro -na verdade uma rãzinha asquerosa- entra na história para aumentar o riso e o perigo.
O nome do curta é "Hochbetrieb", em português, Porcas e Parafusos, e, na cena, apenas os dois atores são reais. Os prédios ao fundo, os demais operários, o céu e a rã, tudo é colocado depois, por computação gráfica, para preencher a tela azul diante da qual os atores trabalharam. E engana.
Criada como uma divisão interna da Filmakademie, a escola de animação alemã se viu recentemente obrigada a ampliar seus tentáculos para a área de efeitos visuais com a cada vez mais afinada tecnologia de composição de personagens em 3D. Em pouco tempo, já faturou prêmios nos festivais de Annecy, Sttutgart e recentemente teve o curta-metragem "Das Rad" indicado para o Oscar em sua categoria.
Já familiarizada com o Anima Mundi -que também premiou o curta "Das Rad" na edição passada-, a Filmakademie traz a São Paulo uma pequena retrospectiva de seus trabalhos, apresentada pela professora de efeitos visuais Katrin Arndt, 39. Em sua maioria realizadas por estudantes, novas produções como "Der Pilot", "Masks" e os westerns "Hessi James" e "Wo Ist Frank?" (Onde está Frank?) dão uma pequena mostra do potencial da escola.
"Nós fazemos animação de personagens em 2D, pinturas, animação de bonecos, mas também animação em 3D, criação de cenários e efeitos especiais e design de games", conta Arndt. "Os estudantes que chegam a nós vêm de diversas áreas do cinema. Alguns querem aprender animação de personagens, outros preferem aprender roteiros, direção etc."
Com experiência de já ter trabalhado para o mercado americano, Arndt, que participa de um "papo animado" hoje, no Sesc Vila Mariana, comenta que só agora as produtoras européias estão percebendo o potencial das ferramentas de criação virtual. "O primeiro "Trainspotting" foi todo filmado nas ruas de Londres. Eles trabalharam de forma tradicional. Mas agora, na sequência, os diretores estão querendo usar computação, mas ainda enfrentam resistência dos produtores. O importante é que filmes como "Hochbetrieb", que ganhou um prêmio na Alemanha três semanas atrás, estão ajudando a abrir a cabeça deles", defende.
Com todo esse "know-how" e reconhecimento internacional acumulado nos 11 anos da escola de animação, Arndt afirma que ainda depende de mais "confetes" para assegurar a continuidade de seu trabalho na Alemanha. "Nós dependemos de financiamentos do governo. É bom que eles vejam que o nosso trabalho está sendo elogiado no exterior porque só assim garantimos o dinheiro para o próximo ano." E, principalmente, um espaço digno nas televisões locais: "Só um canal, o franco-germânico Arte, exibe às vezes alguns de nossos filmes. Mas é sempre no meio da madrugada", protesta Arndt, que tem ainda um projeto de série infantil na manga.


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