São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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Filmes mostram Bush "fascista"

DO "LE MONDE"

Discípula de Michael Moore, a norte-americana Christine Rose não esconde seus objetivos: "Os cidadãos dos Estados Unidos não sabem o que está acontecendo em seu país. Fazer o filme era meu dever como cidadã".
Ela assina, com "Liberty Bound" ["Rumo à liberdade", mas também "Liberdade agrilhoada"], um violento panfleto em que análises apresentadas por especialistas se alternam com documentos autênticos, montagens de imagens de arquivo e depoimentos acusadores. Certos elementos de sua denúncia das manipulações e falsidades do governo Bush se assemelham ao trabalho de Moore, mas o que ela está tentando demonstrar é o avanço do fascismo nos EUA.
Dois levantamentos embasam o seu propósito. O primeiro envolve cidadãos norte-americanos que foram alvo de interrogatórios, detenção e prisão por defenderem propostas anti-Bush.
Esses exemplos de violação das liberdades civis são seguidos de comparação entre Bush e Hitler. Acompanhada pelo historiador Howard Zinn, Rose apresenta paralelos entre os métodos dos dois "ditadores". Se Bush, ao enumerar os males do século em um discurso de 2003, fala do hitlerismo, do comunismo e do militarismo mas não ousa pronunciar a palavra "fascista", "isso indica que seja um deles", diz a diretora.
A proposta do francês William Karel, enriquecida pelo trabalho do ensaísta Eric Laurent, é igualmente radical. Seu documentário "Le Monde Selon Bush" [O mundo segundo Bush] começa com um monólogo de Norman Mailer: "Bush é o pior presidente da história dos Estados Unidos. É ignorante, arrogante, estúpido..."
Com base em testemunhos rigorosos e em uma demonstração exaustiva, o filme oferece, acima de tudo, chaves para a compreensão dos mil dias de Presidência de Bush, dos atentados de 11 de setembro à guerra no Iraque.
"O fascismo não passa de um processo de deterioração da democracia", lastima Norman Mailer, entre as dezenas de outros analistas que falam em "porcos", "máfia" e "prostitutas dos sauditas". São declarações inquietantes que o diretor obtém sem expressar julgamento ou tomar partido, mesmo que sua opinião não esteja em dúvida. Se Michael Moore merece uma Palma de Ouro, William Karel merece três.
(JEAN-LUC DOUIN)


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