São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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MÚSICA

Empresa americana cria sistema em que o usuário é pago quando um arquivo é compartilhado de seu computador

Serviço "recompensa" quem troca canção

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

A princípio parece coisa duvidosa, mas o negócio está se fortalecendo e ganhando corpo. A inusitada proposta: recompensar quem disponibilize arquivos de música na internet.
A iniciativa é de uma pequena empresa de Seattle (EUA), a Shared Media Licensing, gerenciada por músicos, ex-músicos e desenvolvedores de softwares.
O programa chama-se Weed Share, e funciona mais ou menos como uma corrente. Por meio do site www.weedshare.com, pode-se fazer o download do serviço, o que habilita a abertura de uma "conta" a possibilidade de conexão com a rede de distribuição de arquivos compatíveis.
Na página da comunidade na internet, há a relação desses distribuidores (o Weed Share não disponibiliza arquivos; apenas provê a tecnologia para a distribuição de música pagando-se direitos autorais aos artistas).
"A vantagem de nosso serviço é que qualquer um pode comprar ou vender arquivos musicais, e quando você faz isso, pode colocar num website, mandar para um amigo, compartilhar em serviços "peer to peer" [de troca de arquivos]", disse à Folha, por telefone, John Beezer, presidente da companhia.
(Beezer já foi músico. Ele tocava baixo na banda The Thrown Ups no final dos anos 80, na Seattle pré-grunge. O grupo contava também com Mark Arm e Steve Turner, que depois iriam formar o Mudhoney.)
Voltando: ao baixar um arquivo, pode-se ouvi-lo por três vezes sem pagar nada. Se o usuário gostar, compra a música. Com o arquivo em seu computador, o usuário pode servir como um "servidor" para outras pessoas, e ser pago por isso.
Exemplo: o usuário A baixa um arquivo que custe US$ 1 de um distribuidor oficial. Nesta primeira compra, 50% vai para o artista (ou para a editora que detém o direito da canção), 15% vai para a Weed Share e os 35% restantes vão para o distribuidor.
Mais tarde, se um usuário B baixar o arquivo do usuário A, os valores ficam em: 50% para o artista; 15% para a Weed; 15% para o distribuidor; 20% para o usuário A.
Depois, se o usuário C comprar esse arquivo do usuário B, muda para: 50% para o artista; 15% para a Weed; 20% para o usuário B; 10% para o usuário A; 5% para o primeiro distribuidor.
E segue. Se um usuário D pega o arquivo: 50% vai para o artista; 15% para a Weed; 20% para o usuário C; 10% para o usuário B; 5% para o usuário A. Na próxima transação envolvendo este arquivo, o usuário A fica fora da conta e assim por diante.
O processo de pagamento é feito via PayPal (serviço que permite transmitir dinheiro utilizando e-mail, de propriedade da eBay).
A Weed Share consegue "rastrear" uma música por meio de um programa implantado no arquivo. "Utilizamos arquivos compatíveis com Windows Media, mas modificamos um pouquinho esse formato para introduzir um identificador", explica Beezer. "Quando alguém compra o arquivo de uma música, é gerado um desses identificadores, que acompanhará esse arquivo para onde ele for. Então sempre que alguém abrir esse arquivo nosso sistema será avisado."
A rede que trabalha com o serviço ainda é pequena se comparada a serviços como o iTunes ou Napster: possui cerca de 200 mil músicas (contra 700 mil de seus concorrentes). A maioria dos artistas é de gravadoras independentes. "Estamos em negociação com as majors. É um processo lento", diz Beezer.
Além do pagamento aos usuários, o Weed Share proclama uma maior "recompensa" aos artistas. "Ainda é um pouco complicado, pois há gravadoras entre nós e os artistas. Quando os artistas chegam para nós diretamente é mais fácil, dá para passar para eles uma porcentagem maior dos ganhos."


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