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CINEMA
"Faço filmes pensando no público"
Estréia hoje "Era Uma Vez...", longa-metragem de Breno Silveira seguinte ao grande sucesso de "2 Filhos de Francisco'
Filme revisita "Romeu e Julieta" ao mostrar o amor proibido entre uma menina rica e um favelado; "é uma fábula de amor", diz diretor
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de fazer seu primeiro
filme, "2 Filhos de Francisco",
Breno Silveira tinha a história
de "Era uma Vez..." em mente:
um rapaz do morro e uma moça
rica se apaixonam e lutam pelo
amor contra o preconceito da
família dela -uma espécie de
releitura do drama do casal Romeu e Julieta.
Ocorre que "2 Filhos de
Francisco" saiu primeiro do papel e, nas telas, fez o recorde de
público de 2005, com 5,4 milhões de espectadores no país.
O roteiro: a luta pelo sucesso de
dois meninos que, sob estímulo
do pai, passam a estrelas: Zezé
Di Camargo e Luciano.
Agora, anos depois da idéia
original, "Era uma Vez..." chega
aos cinemas. O cenário da estréia pode não ser o mesmo de
"2 Filhos", e o diretor o desenha: "Só 10% dos espectadores
assistem a filmes nacionais, é
uma pena". E lembra que "todo
mundo viu um pouco disso [da
história de "Era uma Vez...'] em
"Cidade de Deus" e "Tropa de
Elite'".
Mantém, entretanto, a confiança: "Eu sei que foi um roteiro que ninguém quis fazer. Diziam que as pessoas podiam ter
se cansado um pouco dessa história, que todo mundo já viu
um pouco disso [...]. Mas é uma
fábula, e eu filmo com emoção"
-o que implica, afirma, "passar
as noites se perguntando: que
ponte eu criei com meu espectador?".
Fato é que o diretor diz buscar o caminho oposto ao do cinema de arte, de filmes que ele
classifica como "secos". "Faço
filmes pensando nele [no público]. Penso: como qualquer pessoa, de qualquer classe social,
pode entender essa história?"
Fábula
O objetivo de "Era uma
Vez...", diz Silveira, é que faça "o
espectador olhar para o lado",
ver a favela e sua população "invisível". Para isso, ele avalia ter
criado uma fábula de amor que
se vale de recursos como a trilha interpretada por famosos
como Luiz Melodia e Marisa
Monte. "Acho até bonito o purismo, mas não tem que ser
aplicado a tudo. Por exemplo,
vão dizer que tem música demais nesse filme. Mas é uma fábula de amor, precisa de música", argumenta o diretor.
Além de música, a fábula precisou também de um protagonista mais "carioca". O ator
Thiago Martins passou por sessões semanais de bronzeamento artificial para ficar com a pele "morena e ressecada" de Dé,
o protagonista que vende cachorro-quente num quiosque
em Ipanema, de onde vê a rica
Nina em seu prédio de luxo
-que, no filme, é o outro lado
da favela.
E, falando em lado, em qual
deles está o diretor e seus produtores, que bancaram os R$
6,5 milhões do "filme de favela"? "Os meus mundos estão
um pouco misturados. Eu sou
um pouco do Dé, me sentia estrangeiro como ele", diz Silveira. "Todo mundo sente isso.
Quando meu pai [o arquiteto
Cydno Silveira] acompanhava
o [Oscar] Niemeyer em Brasília, no Rio ou na Argélia, eu ia
junto. Depois, consegui uma
bolsa de estudos na França, e
continuava me sentindo estrangeiro lá."
Seja qual for o lado (do espectador e do diretor), ao fim das
quase duas horas de duração, o
casal protagonista termina de
forma dramática na praia de
Ipanema. "Os meus filmes têm
essa coisa de montanha russa
emocional. É um ciclo, desde a
alegria até o choro, ali dentro
do cinema", conclui o diretor.
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