São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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CINEMA

"Faço filmes pensando no público"

Estréia hoje "Era Uma Vez...", longa-metragem de Breno Silveira seguinte ao grande sucesso de "2 Filhos de Francisco'

Filme revisita "Romeu e Julieta" ao mostrar o amor proibido entre uma menina rica e um favelado; "é uma fábula de amor", diz diretor


AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de fazer seu primeiro filme, "2 Filhos de Francisco", Breno Silveira tinha a história de "Era uma Vez..." em mente: um rapaz do morro e uma moça rica se apaixonam e lutam pelo amor contra o preconceito da família dela -uma espécie de releitura do drama do casal Romeu e Julieta.
Ocorre que "2 Filhos de Francisco" saiu primeiro do papel e, nas telas, fez o recorde de público de 2005, com 5,4 milhões de espectadores no país. O roteiro: a luta pelo sucesso de dois meninos que, sob estímulo do pai, passam a estrelas: Zezé Di Camargo e Luciano.
Agora, anos depois da idéia original, "Era uma Vez..." chega aos cinemas. O cenário da estréia pode não ser o mesmo de "2 Filhos", e o diretor o desenha: "Só 10% dos espectadores assistem a filmes nacionais, é uma pena". E lembra que "todo mundo viu um pouco disso [da história de "Era uma Vez...'] em "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite'".
Mantém, entretanto, a confiança: "Eu sei que foi um roteiro que ninguém quis fazer. Diziam que as pessoas podiam ter se cansado um pouco dessa história, que todo mundo já viu um pouco disso [...]. Mas é uma fábula, e eu filmo com emoção" -o que implica, afirma, "passar as noites se perguntando: que ponte eu criei com meu espectador?".
Fato é que o diretor diz buscar o caminho oposto ao do cinema de arte, de filmes que ele classifica como "secos". "Faço filmes pensando nele [no público]. Penso: como qualquer pessoa, de qualquer classe social, pode entender essa história?"

Fábula
O objetivo de "Era uma Vez...", diz Silveira, é que faça "o espectador olhar para o lado", ver a favela e sua população "invisível". Para isso, ele avalia ter criado uma fábula de amor que se vale de recursos como a trilha interpretada por famosos como Luiz Melodia e Marisa Monte. "Acho até bonito o purismo, mas não tem que ser aplicado a tudo. Por exemplo, vão dizer que tem música demais nesse filme. Mas é uma fábula de amor, precisa de música", argumenta o diretor.
Além de música, a fábula precisou também de um protagonista mais "carioca". O ator Thiago Martins passou por sessões semanais de bronzeamento artificial para ficar com a pele "morena e ressecada" de Dé, o protagonista que vende cachorro-quente num quiosque em Ipanema, de onde vê a rica Nina em seu prédio de luxo -que, no filme, é o outro lado da favela.
E, falando em lado, em qual deles está o diretor e seus produtores, que bancaram os R$ 6,5 milhões do "filme de favela"? "Os meus mundos estão um pouco misturados. Eu sou um pouco do Dé, me sentia estrangeiro como ele", diz Silveira. "Todo mundo sente isso. Quando meu pai [o arquiteto Cydno Silveira] acompanhava o [Oscar] Niemeyer em Brasília, no Rio ou na Argélia, eu ia junto. Depois, consegui uma bolsa de estudos na França, e continuava me sentindo estrangeiro lá."
Seja qual for o lado (do espectador e do diretor), ao fim das quase duas horas de duração, o casal protagonista termina de forma dramática na praia de Ipanema. "Os meus filmes têm essa coisa de montanha russa emocional. É um ciclo, desde a alegria até o choro, ali dentro do cinema", conclui o diretor.


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