São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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MÚSICA

Guitarrada ganha versão remix em CD

O álbum duplo "Música Magneta" reúne músicas de mestres nortistas e versões de produtores, sob direção do DJ Dolores

Vieira, Aldo Sena e Curica, os Mestres da Guitarrada, tocam acompanhados por músicos da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A


RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Mestre Vieira tocou guitarra elétrica em Barcarena, no Pará, numa época em que nem luz elétrica Barcarena tinha. Improvisou o instrumento com cordas de violão, amplificador de rádio e bateria de carro, e resolveu então criar um ritmo, "mais esperto, mais bonito até" que os sons que ouvia por lá. A combinação de choro com jovem guarda e estilos da parada caribenha recebeu o nome de guitarrada, e fez de Vieira, lá pelos anos 70, uma espécie de popstar, onipresente nas AMs nortistas -um dos precursores da lambada que o grupo Kaoma tocou até cansar nos anos 80 e do tecnobrega que faz o Calypso vender milhões de CDs. Redescoberta nos últimos tempos por jovens artistas, junto com seu gênero-irmão, o carimbó (leia mais no texto ao lado), a guitarrada é o centro de "Música Magneta", álbum duplo que sai agora pelo selo independente Candeeiro, sob direção musical do DJ Dolores. Vieira está lá, assim como seus conterrâneos (e colegas de longa data) Aldo Sena e Curica, assinando 12 guitarradas e carimbós. No primeiro CD, os três tocam com integrantes da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, a cantora Isaar e o guitarrista Pio Lobato -responsável, em 2003, por reunir o trio no projeto Mestres da Guitarrada. A maior novidade, no entanto, está no segundo disco, que soma elementos estranhos ao universo dos mestres. Aqui, as 12 faixas do primeiro CD ganham versões eletrônicas de Dolores e mais oito produtores. "É uma espécie de manifesto para dar voz a uma linguagem de música brasileira que, seja o que for, não é bem MPB", diz Dolores. "O que os mestres fazem não é aquela coisa sofisticada de vários acordes. É uma cultura muito específica, criativa, mas tida como brega pelo público mais ao sul do país."

"Do jeito deles"
Gravado há cerca de três anos, em Recife, o álbum ficou na gaveta até recentemente, quando ganhou patrocínio do programa Natura Musical. "Nós não demos assistência ao trabalho todo", conta Vieira, 74. "Deixamos as músicas gravadas, e aí eles montaram lá do jeito deles, que é diferente um pouco do nosso". Se gostou? "Vou esperar que faça sucesso." Vieira desconversa uma, duas, três vezes ("Como é a pergunta?", "Não estou entendendo"), mas se rende na quinta vez em que a questão é reformulada: "Ah, nosso ritmo aqui é mais quente, mais badalado. Eles botaram uma versão pelo meio, e essa versão a gente fica em dúvida de como explicar..." Aldo Sena, 50, diz que "o povo gosta mais do original", mas ficou entusiasmado com a "batida americana". "Andei mostrando por aqui, e muita gente diz que não é a gente que está tocando. A batida incrementou muito." Gostou tanto que, diz, anda pensando em contratar um DJ para fazer "algo do tipo" nos shows que faz pelo país.

MÚSICA MAGNETA
Artistas: Mestre Vieira, Curica, Aldo Sena, DJ Dolores e outros
Gravadora: Candeeiro Records
Quanto: R$ 26, em média



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