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MÚSICA
Guitarrada ganha versão remix em CD
O álbum duplo "Música Magneta" reúne músicas de mestres nortistas e versões de produtores, sob direção do DJ Dolores
Vieira, Aldo Sena e Curica, os Mestres da Guitarrada, tocam acompanhados por músicos da Nação Zumbi
e do Mundo Livre S/A
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Mestre Vieira tocou guitarra
elétrica em Barcarena, no Pará,
numa época em que nem luz
elétrica Barcarena tinha. Improvisou o instrumento com
cordas de violão, amplificador
de rádio e bateria de carro, e resolveu então criar um ritmo,
"mais esperto, mais bonito até"
que os sons que ouvia por lá.
A combinação de choro com
jovem guarda e estilos da parada caribenha recebeu o nome
de guitarrada, e fez de Vieira, lá
pelos anos 70, uma espécie de
popstar, onipresente nas AMs
nortistas -um dos precursores
da lambada que o grupo Kaoma
tocou até cansar nos anos 80 e
do tecnobrega que faz o Calypso vender milhões de CDs.
Redescoberta nos últimos
tempos por jovens artistas, junto com seu gênero-irmão, o carimbó (leia mais no texto ao lado), a guitarrada é o centro de
"Música Magneta", álbum duplo que sai agora pelo selo independente Candeeiro, sob direção musical do DJ Dolores.
Vieira está lá, assim como
seus conterrâneos (e colegas de
longa data) Aldo Sena e Curica,
assinando 12 guitarradas e carimbós. No primeiro CD, os
três tocam com integrantes da
Nação Zumbi e do Mundo Livre
S/A, a cantora Isaar e o guitarrista Pio Lobato -responsável,
em 2003, por reunir o trio no
projeto Mestres da Guitarrada.
A maior novidade, no entanto, está no segundo disco, que
soma elementos estranhos ao
universo dos mestres. Aqui, as
12 faixas do primeiro CD ganham versões eletrônicas de
Dolores e mais oito produtores.
"É uma espécie de manifesto
para dar voz a uma linguagem
de música brasileira que, seja o
que for, não é bem MPB", diz
Dolores. "O que os mestres fazem não é aquela coisa sofisticada de vários acordes. É uma
cultura muito específica, criativa, mas tida como brega pelo
público mais ao sul do país."
"Do jeito deles"
Gravado há cerca de três
anos, em Recife, o álbum ficou
na gaveta até recentemente,
quando ganhou patrocínio do
programa Natura Musical.
"Nós não demos assistência
ao trabalho todo", conta Vieira,
74. "Deixamos as músicas gravadas, e aí eles montaram lá do
jeito deles, que é diferente um
pouco do nosso". Se gostou?
"Vou esperar que faça sucesso."
Vieira desconversa uma, duas,
três vezes ("Como é a pergunta?", "Não estou entendendo"),
mas se rende na quinta vez em
que a questão é reformulada:
"Ah, nosso ritmo aqui é mais
quente, mais badalado. Eles botaram uma versão pelo meio, e
essa versão a gente fica em dúvida de como explicar..."
Aldo Sena, 50, diz que "o povo gosta mais do original", mas
ficou entusiasmado com a "batida americana". "Andei mostrando por aqui, e muita gente
diz que não é a gente que está
tocando. A batida incrementou
muito." Gostou tanto que, diz,
anda pensando em contratar
um DJ para fazer "algo do tipo"
nos shows que faz pelo país.
MÚSICA MAGNETA
Artistas: Mestre Vieira, Curica, Aldo Sena, DJ Dolores e outros
Gravadora: Candeeiro Records
Quanto: R$ 26, em média
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