São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000


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Cinemateca desenterra "Reino Sangrento", realizado quando o diretor tinha 13 anos
Do fundo do caixão - Filme de José Mojica Marins dos anos 40 é encontrado

ANDRÉ BARCINSKI
EDITOR DO FOLHATEEN

José Mojica Marins foi um diretor de cinema dos mais precoces. Em 1948, aos 12 anos de idade, o sujeito que viria a criar o personagem Zé do Caixão já andava pelas ruas de Vila Anastácio (zona oeste de São Paulo), câmera em punho, fazendo filmes amadores que exibia em circos, igrejas e parques de animação.
Entre 1948 e 1953, quando finalmente começou a rodar seu primeiro longa-metragem, "Sentença de Deus" (que seria interrompido por causa da morte -em dias diferentes- de três atrizes), Mojica fez cerca de 20 filmes.
Todo este material era considerado perdido. Até agora.
Há cerca de duas semanas, Mojica foi avisado pela Cinemateca Brasileira de que uma lata, contendo rolos de um de seus filmes, havia sido encontrada.
Quando viu a película, Mojica quase caiu de costas: ali estavam nove minutos de "Reino Sangrento", filme de aventuras rodado em 1949, quando ele tinha 13 anos de idade. É o registro mais antigo existente de um filme do diretor.
"O Carlos Alberto, da Cinemateca, me deu o maior presente que eu poderia ter recebido", diz Mojica. "Isto me deu um novo ânimo para viver."
As explicações para a origem do filme são confusas. Mojica diz que a lata havia sido deixada na Cinemateca por um "sujeito que me roubou a fita". Sobre os outros 19 filmes que rodou na infância e adolescência, ele diz: "As fitas foram surrupiadas por uns elementos que não iam com a minha cara. Tive informações, nos anos 70, de que um deles morava na Água Branca. Vou lá essa semana para ver se acho o sujeito".
Confusões à parte, o fato é que "Reino Sangrento" joga luz sobre a obra do criador mais idiossincrático e independente do cinema brasileiro. Apesar da precariedade da produção, é evidente que Mojica já tinha talento para o cinema desde criança.
O filme conta a história de um rapaz (João Andrusiac, amigo de infância de Mojica) que sonha que está num palácio na Arábia. Lá, ele participa de sangrentos combates, salva várias moçoilas indefesas das mãos de bandidos e presencia uma dança do ventre bastante ousada para a época. "Eu já havia criado a tal dança do Tchan em 1949", gaba-se Mojica, comentando a cena em que uma bailarina sacode as cadeiras à Carla Perez. O próprio Mojica atua, no papel de um dos bandidos.
A produção, claro, era paupérrima. Mesmo sem dinheiro para pagar figurantes, Mojica convenceu cerca de 70 pessoas a participarem do elenco. Ele conseguiu figurinos emprestados de uma loja de artigos para Carnaval e transportou a equipe em caminhões emprestados por feirantes.
Na época, Mojica não tinha a menor idéia de como sonorizar o filme. "Quando nós exibíamos a fita, o elenco ficava atrás da tela e nós dublávamos ao vivo, tentando sincronizar nossos diálogos com as cenas. Era dificílimo."


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