|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cinemateca desenterra "Reino Sangrento", realizado quando o diretor tinha 13 anos
Do fundo do caixão - Filme de José Mojica Marins dos anos 40 é encontrado
ANDRÉ BARCINSKI
EDITOR DO FOLHATEEN
José Mojica Marins foi um diretor de cinema dos mais precoces.
Em 1948, aos 12 anos de idade, o
sujeito que viria a criar o personagem Zé do Caixão já andava pelas
ruas de Vila Anastácio (zona oeste
de São Paulo), câmera em punho,
fazendo filmes amadores que exibia em circos, igrejas e parques de
animação.
Entre 1948 e 1953, quando finalmente começou a rodar seu primeiro longa-metragem, "Sentença de Deus" (que seria interrompido por causa da morte -em
dias diferentes- de três atrizes),
Mojica fez cerca de 20 filmes.
Todo este material era considerado perdido. Até agora.
Há cerca de duas semanas, Mojica foi avisado pela Cinemateca
Brasileira de que uma lata, contendo rolos de um de seus filmes,
havia sido encontrada.
Quando viu a película, Mojica
quase caiu de costas: ali estavam
nove minutos de "Reino Sangrento", filme de aventuras rodado em
1949, quando ele tinha 13 anos de
idade. É o registro mais antigo
existente de um filme do diretor.
"O Carlos Alberto, da Cinemateca, me deu o maior presente que
eu poderia ter recebido", diz Mojica. "Isto me deu um novo ânimo
para viver."
As explicações para a origem do
filme são confusas. Mojica diz que
a lata havia sido deixada na Cinemateca por um "sujeito que me
roubou a fita". Sobre os outros 19
filmes que rodou na infância e
adolescência, ele diz: "As fitas foram surrupiadas por uns elementos que não iam com a minha cara. Tive informações, nos anos 70,
de que um deles morava na Água
Branca. Vou lá essa semana para
ver se acho o sujeito".
Confusões à parte, o fato é que
"Reino Sangrento" joga luz sobre
a obra do criador mais idiossincrático e independente do cinema
brasileiro. Apesar da precariedade da produção, é evidente que
Mojica já tinha talento para o cinema desde criança.
O filme conta a história de um
rapaz (João Andrusiac, amigo de
infância de Mojica) que sonha
que está num palácio na Arábia.
Lá, ele participa de sangrentos
combates, salva várias moçoilas
indefesas das mãos de bandidos e
presencia uma dança do ventre
bastante ousada para a época. "Eu
já havia criado a tal dança do
Tchan em 1949", gaba-se Mojica,
comentando a cena em que uma
bailarina sacode as cadeiras à Carla Perez. O próprio Mojica atua,
no papel de um dos bandidos.
A produção, claro, era paupérrima. Mesmo sem dinheiro para
pagar figurantes, Mojica convenceu cerca de 70 pessoas a participarem do elenco. Ele conseguiu
figurinos emprestados de uma loja de artigos para Carnaval e
transportou a equipe em caminhões emprestados por feirantes.
Na época, Mojica não tinha a
menor idéia de como sonorizar o
filme. "Quando nós exibíamos a
fita, o elenco ficava atrás da tela e
nós dublávamos ao vivo, tentando sincronizar nossos diálogos
com as cenas. Era dificílimo."
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Três filmes ganham versão em DVD Índice
|