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MP quer regulamentar lei de exibição de curtas
Ministério Público dá prazo até novembro; exibidor prevê queda de público
Legislação criada em 1975
torna obrigatório que
cinemas exibam curta-metragem nacional antes
de filme estrangeiro
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de cada sessão de um
filme estrangeiro, os cinemas
brasileiros deverão exibir um
curta-metragem nacional.
A exigência consta numa lei
de 1975, que o Ministério Público Federal quer ver novamente
posta em prática, em 2006.
Segundo recomendação do
Ministério Público feita à Ancine (Agência Nacional do Cinema) neste mês, a agência tem
90 dias para regulamentar o artigo 13 da lei 6.281/75, que fixa a
obrigatoriedade da projeção de
curtas brasileiros e também de
"jornal cinematográfico", antes
dos longas estrangeiros.
O presidente da rede de salas
Cinemark, líder no Brasil, afirma que "não há como o setor
aceitar passivamente algo que
vai comprometer a atividade".
Fernandes estima que o
acréscimo compulsório de curtas à programação dos cinemas
irá "afastar a parcela do público
que não necessariamente quer
ser exposta a isso".
O exibidor diz ter a "expectativa de que a Ancine, que tem o
objetivo de proteger e desenvolver a indústria do cinema no
Brasil, não acate essa medida".
O diretor-presidente da Ancine, Gustavo Dahl, afirma que
a agência "cumpre a lei", mas
assinala que há "controvérsias
jurídicas" envolvendo questão.
A primeira delas é se, de fato,
seria competência da Ancine
regulamentar a lei. Esse aspecto está sendo analisado pela
Procuradoria Geral da agência.
"Comunicaremos o Ministério Público sobre esse exame,
imediatamente", diz Dahl.
Sobre a conveniência ou não
do retorno da obrigatoriedade
imposta durante os anos 70,
Dahl tem duas respostas -uma
institucional, outra particular.
"Se você perguntar qual é a
visão da Ancine, como agência
reguladora do mercado, eu diria que ela terá que consultar os
agentes do mercado, fundamentalmente os distribuidores
de filmes estrangeiros e os exibidores, para quem a medida
representará um ônus", diz.
Mas se a indagação for pela
opinião de Dahl a respeito do
tema, a resposta é: "É possível
que mais uma vez o radicalismo
tenha colocado em movimento
a roda da insensatez".
Do lado dos curtas-metragistas, que aplaudem a medida, o
discurso não é de radicalismo,
mas sim de negociação.
"A gente pode aplicar aquela
lei aos novos moldes do mercado. Temos que sentar e conversar, mas o público não pode ficar sem acesso ao curta", diz o
curta-metragista Marcelo Laffitte, cujo "Fúria" passa hoje no
17º Festival Internacional de
Curtas-Metragens de SP.
O diretor lembra que os curtas brasileiros (assim como os
longas) são realizados com dinheiro de incentivo fiscal e
aponta como aspecto positivo
da exigência o fato de que "ela
dá acesso ao público ao que foi
feito com recurso dele".
Zita Carvalhosa, diretora do
Festival Internacional de Curtas, julga "extremamente saudável pensar sobre esse assunto". Ela supõe que o tema dominará as discussões do festival.
"O curta antes do longa tem
uma visibilidade ótima. Mas essa regulamentação tem que ser
vista com cuidado e considerando as características atuais
da atividade", diz Carvalhosa.
Uma das características a debater é o domínio na produção
atual brasileira de títulos que
excedem a duração de 15 minutos, tempo-limite do formato.
"O curta-metragem brasileiro está mais longo do que isso.
Mas não quer dizer que não
possa ficar mais curto, se o espaço de exibição existir", diz.
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