São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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Crítica

Documentário apresenta de maneira sóbria a indiferença que cerca o suicídio

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Não é uma experiência agradável, ao menos para os mais sensíveis à dor alheia. "A Ponte" tem a mesma objetividade -terrivelmente impactante- do livro "Suicídio - Testemunhos de Adeus", de Maria Luiza Dias, que analisa mensagens de despedida de suicidas em busca do que os levou à morte.
O diretor Eric Steel faz isso também, mas vai alguns passos adiante, ao capturar e exibir imagens dos últimos momentos de pessoas que se jogaram da Golden Gate. São flagrantes ainda mais perturbadores porque parecem, em sua mórbida coreografia, pertencer ao terreno da ficção. A sobriedade de "A Ponte" dispensa narração em "off".
Depoimentos de parentes e amigos de suicidas misturam-se a imagens da ponte sob diferentes ângulos -ora como o mais famoso cartão postal de São Francisco, ora como o local onde qualquer observador paciente verá o fim de alguém. Esse contraste, essencial para o filme, é abordado em alguns depoimentos. De um lado, o ar de "falsa promessa romântica" oferecido pela Golden Gate; de outro, a desesperada solidão de quem acredita encerrar ali a sua dor (ou encontrar quem a impeça de prosseguir, como também se registra).
Não se trata apenas de uma ponte, mas de um símbolo da indiferença na sociedade de consumo. As câmeras vigilantes mostram que, depois de cada salto, a vida continua, exceto para a família e amigos do suicida, e para os profissionais que tentarão encontrar o corpo. O trânsito flui, os turistas tiram suas fotos, os ciclistas atravessam a baía. O cotidiano de quem fica, em "A Ponte", também adquire tonalidade cinzenta.


A PONTE
Produção:
EUA, 2005
Direção: Eric Steel
Quando: em cartaz no Unibanco Arteplex
Avaliação: bom


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