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Crítica
Documentário apresenta de maneira sóbria a indiferença que cerca o suicídio
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Não é uma experiência
agradável, ao menos
para os mais sensíveis
à dor alheia. "A Ponte" tem a
mesma objetividade -terrivelmente impactante- do livro
"Suicídio - Testemunhos de
Adeus", de Maria Luiza Dias,
que analisa mensagens de despedida de suicidas em busca do
que os levou à morte.
O diretor Eric Steel faz isso
também, mas vai alguns passos
adiante, ao capturar e exibir
imagens dos últimos momentos de pessoas que se jogaram
da Golden Gate. São flagrantes
ainda mais perturbadores porque parecem, em sua mórbida
coreografia, pertencer ao terreno da ficção.
A sobriedade de "A Ponte"
dispensa narração em "off".
Depoimentos de parentes e
amigos de suicidas misturam-se a imagens da ponte sob diferentes ângulos -ora como o
mais famoso cartão postal de
São Francisco, ora como o local
onde qualquer observador paciente verá o fim de alguém.
Esse contraste, essencial para o filme, é abordado em alguns depoimentos. De um lado,
o ar de "falsa promessa romântica" oferecido pela Golden Gate; de outro, a desesperada solidão de quem acredita encerrar
ali a sua dor (ou encontrar
quem a impeça de prosseguir,
como também se registra).
Não se trata apenas de uma
ponte, mas de um símbolo da
indiferença na sociedade de
consumo. As câmeras vigilantes mostram que, depois de cada salto, a vida continua, exceto
para a família e amigos do suicida, e para os profissionais que
tentarão encontrar o corpo.
O trânsito flui, os turistas tiram suas fotos, os ciclistas atravessam a baía. O cotidiano de
quem fica, em "A Ponte", também adquire tonalidade cinzenta.
A PONTE
Produção: EUA, 2005
Direção: Eric Steel
Quando: em cartaz no Unibanco Arteplex
Avaliação: bom
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