São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Joel Ryan/Associated Press
Caetano Veloso observa o cantor Roberto Carlos durante solo no show em homenagem a Tom Jobim, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na sexta-feira

>>EXCLUSIVO
"Eu tô nervoso pra c......!", diz Roberto

E Caetano Veloso chora nos bastidores do show histórico em que os dois homenageiam Tom Jobim

São 21h25 quando Roberto Carlos sai do camarim do Teatro Municipal do Rio em direção à pequena cabine com um espelho bem ao lado do palco -a mesma que é instalada especialmente para ele em todos os lugares em que se apresenta. Entra, sozinho, e fecha a cortina azul. Faz uma reza e se concentra. Cinco minutos depois, ele sai. "O baiano tá atrasado!", diz, rindo e referindo-se ao fato de Caetano Veloso ainda estar no camarim. "Baiano sempre atrasa!".

 

Caetano sai de sua sala segundos depois. Atravessa os fundos do palco ao lado de Paula Lavigne, sua ex-mulher e empresária. Vê Roberto. Tenta abraçá-lo. O rei faz um sinal com as mãos para que ele espere um pouco. Ergue os braços em direção ao palco, fazendo movimentos do reiki. Dá uma volta em torno de si mesmo. Volta a erguer as mãos. Caetano observa, em silêncio. Roberto pára. Abre os braços. Abraça Caetano. "Eu tô nervoso pra c......!", diz.

 

Os dois ficam grudados por longos segundos. "Mas nós somos "fodões". Nós somos "fodões'!". Caetano diz, rindo: "Tereza que se cuide!". Logo mais, eles interpretariam juntos a música "Tereza da Praia", de Tom Jobim, no show em homenagem ao compositor que voltam a apresentar hoje e amanhã no Auditório Ibirapuera, como parte do projeto Itaúbrasil em comemoração aos 50 anos da bossa nova. Roberto Carlos pergunta para Paula Lavigne: "Ele tá feliz?". E ela: "Tá. Felicíssimo".

 

Roberto ainda tem tempo de olhar para a roupa de Paula, em tons de dourado, e elogiar: "Hoje você acertou!". "Você acha? Fiquei nervosa por uma semana pra escolher o que ia vestir." Um dos motivos: ela acreditava que o cantor detestava preto. "Pura lenda", diz Dodi Sirena, empresário de Roberto. "Ele só não gosta muito do marrom e do roxo."

 

Caetano quase foi de roxo a um dos cinco ensaios que os dois fizeram antes dos shows. Trocou de camiseta na última hora, para não incomodar o rei. Mas, nos encontros, Roberto acabou descobrindo que Caetano é tão cheio de "manias" quanto ele. Por exemplo: os dois prestam atenção em números. Roberto, por causa do TOC, o transtorno obsessivo compulsivo de que se trata, não gosta de algumas combinações numéricas. Caetano presta atenção, por exemplo, nas placas dos carros. Faz a prova dos noves fora. Dependendo do resultado, fica incomodado.
Quando ouve uma palavra de que não gosta, Roberto faz um discreto movimento, como se "cuspisse" a palavra. Caetano bate os dedos numa superfície. E revelou a Roberto que não gosta de vestir roupas com listras horizontais. "Pensando bem, eu também não!", disse o rei. "O Roberto ficou até aliviado ao saber das manias do Caetano", diz um assessor do rei.

 

A reaproximação dos dois, que há mais de uma década não pisavam no mesmo palco e que pouco se encontraram ou falaram neste período, emocionou Caetano. Em vários momentos dos solos de Roberto no show do Rio, o cantor baiano chorou. Roberto, por seu lado, e para espanto dos que o acompanham, foi à festa que Paula e o publicitário Nizan Guanaes fizeram na casa dela para celebrar o show.

 

A recepção ao rei na festa de Caetano foi um show à parte. Poucos acreditavam que ele poderia aparecer por lá. A notícia de que seu carro estacionara na portaria do prédio, à 1h30 da madrugada, causou comoção.
Todos os convidados se viraram para a entrada do apartamento, na expectativa de ver Roberto. "As mulheres bonitas, por favor, fiquem mais à frente", brincava Paula Lavigne. O DJ Jonas Rocha pôs a música "Debaixo dos Caracóis dos Teus Cabelos", que Roberto fez em homenagem a Caetano. "Viva o rei!", gritou Paula quando o cantor desceu do elevador.

 

Roberto, flûte de champanhe rosé na mão, demorou quase meia hora para vencer o hall de entrada. De Regina Casé a Débora Bloch, Fernanda Torres e Paula Burlamaqui, todos queriam dar uma palavrinha com o rei. Paula e Caetano apresentam a ele Josefa Lima, a Zefinha, que cuida das crianças e da casa há 16 anos. Tom, filho deles, pega a máquina e faz uma foto de Roberto com Zefinha. Chorando, ela diz: "Parece que eu ganhei um carro". Fotos, por sinal, estavam proibidas na festa. "O Caetano não quer que o Roberto fique como Mickey na Disney", avisava Paula.

 

O rei beija e aperta a bochecha das mulheres, abraça os homens. Ele e Caetano vão até o canto de uma das salas para que Roberto possa jantar. Carminha, a lendária secretária que acompanha Roberto há cinco décadas, só desgruda do rei para preparar o prato dele. É a única contrariada da turma. "Festa depois de um show tão cansativo? O Roberto tem que descansar. Aqui ninguém fala coisa com coisa". Depois de saborear risoto de aspargos, Roberto conversou com a coluna:

 

FOLHA - Você está na casa de Caetano Veloso, um ícone nacional, numa festa cheia de artistas, alguns deles consagrados. Todos aqui o tratam como um ídolo. E o seu ídolo, quem é?
ROBERTO CARLOS -
[Depois de longo silêncio]: Muita gente.

FOLHA - Quem, por exemplo?
ROBERTO -
[Depois de alguns segundos] O Tom Jobim, por exemplo. E o Frank Sinatra.

FOLHA - O João Gilberto também fez show este mês e... ROBERTO - [interrompe]O João Gilberto também é um ídolo.

FOLHA - Faria um show com ele?
ROBERTO -
Ah, eu faria! [rindo] Levaria um ano para ficar pronto, porque ali é barra. Mas eu faria, sim.

FOLHA - E um CD?
ROBERTO -
Um CD meu e de João Gilberto levaria cinco anos para ficar pronto. Mas eu topo.

FOLHA - O show de SP [hoje e amanhã] vai ser igual ao do Rio?
ROBERTO -
O repertório será o mesmo. O primeiro dia é sempre muito tenso. Mas, depois, dá para fazer uma ou outra coisa diferente.

 

Eram quase 4h da madrugada quando Roberto deixa a festa. No domingo, ele embarcaria para São Paulo para passar o som do show. Caetano chega hoje, porque ontem foi ver o amigo João Gilberto cantar no Municipal do Rio.


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