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Pondé passa a escrever às segundas
Ao assumir coluna na Ilustrada, filósofo e ensaísta afirma querer combater unanimidades intelectuais
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Os pilares da minha visão filosófica foram Freud e o necrotério", afirma o escritor, filósofo e ensaísta pernambucano
Luiz Felipe Pondé, 49, que começa hoje a assinar uma coluna
semanal, sempre às segundas,
na Ilustrada. Ele substitui o
ensaísta, poeta e tradutor Nelson Ascher, que deixa de escrever no jornal a seu pedido.
Pondé, que trabalhou como
estagiário em um necrotério de
Salvador para se aperfeiçoar
em anatomia enquanto estudava medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia), também fez formação em psicanálise, primeiro na capital baiana,
depois em São Paulo.
"A visão que tenho hoje do
ser humano foi se construindo
já na faculdade de medicina,
com a experiência da fragilidade, do determinismo da matéria, do sofrimento físico", afirma Pondé, que abandonou o
curso de medicina e mais tarde
se formou em filosofia na USP,
onde também fez doutorado.
O novo colunista é professor
do Departamento de Teologia
da PUC-SP, da Faculdade de
Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da
pós-graduação de ensino em
ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo.
Entre os livros de Luiz Felipe
Pondé, estão "O Homem Insuficiente" (publicado pela
Edusp) e "Crítica e Profecia -Filosofia da Religião em Dostoiévski" (editora 34).
Desconfiança
Em síntese, sua visão é de
uma "desconfiança visceral"
em relação às "promessas de felicidade da modernidade", ao
"otimismo moderno", às certezas iluministas de progresso, a
todo projeto utópico.
Admirador do russo Fiódor
Dostoiévski (1821-1881) e, cada
vez mais, de Nelson Rodrigues
(1912-1980), Pondé já aceitou,
sem queixas, o carimbo de
"conservador", mas afirma agora que isso passou a incomodá-lo, já que é usado como pecha,
ele diz, "como forma de excluir
a pessoa do debate".
Em entrevista à Folha, no
início do ano passado, criticou
a "crença na razão como instrumento suficiente para o conhecimento", e afirmou sua
"desconfiança com a idéia de
que você possa jogar fora a tradição religiosa" e sua "contrariedade à idéia de ruptura -de
que o ser humano possa inventar tudo a partir de hoje".
Pondé declara que gostaria
de se inserir na tradição jornalística "que vai do crítico Otto
Maria Carpeaux e de Nelson
Rodrigues a Paulo Francis".
"Gostaria de fazer na coluna
uma quebra da unanimidade
em relação às grandes crenças,
preconceitos e manipulações
que dominam o mundo intelectual. E fazer uma ponte entre o mundo acadêmico e o jornalismo", afirma. "Essa é uma
espécie de plano de vôo."
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