São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Pondé passa a escrever às segundas

Ao assumir coluna na Ilustrada, filósofo e ensaísta afirma querer combater unanimidades intelectuais

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os pilares da minha visão filosófica foram Freud e o necrotério", afirma o escritor, filósofo e ensaísta pernambucano Luiz Felipe Pondé, 49, que começa hoje a assinar uma coluna semanal, sempre às segundas, na Ilustrada. Ele substitui o ensaísta, poeta e tradutor Nelson Ascher, que deixa de escrever no jornal a seu pedido.
Pondé, que trabalhou como estagiário em um necrotério de Salvador para se aperfeiçoar em anatomia enquanto estudava medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia), também fez formação em psicanálise, primeiro na capital baiana, depois em São Paulo.
"A visão que tenho hoje do ser humano foi se construindo já na faculdade de medicina, com a experiência da fragilidade, do determinismo da matéria, do sofrimento físico", afirma Pondé, que abandonou o curso de medicina e mais tarde se formou em filosofia na USP, onde também fez doutorado.
O novo colunista é professor do Departamento de Teologia da PUC-SP, da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da pós-graduação de ensino em ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo.
Entre os livros de Luiz Felipe Pondé, estão "O Homem Insuficiente" (publicado pela Edusp) e "Crítica e Profecia -Filosofia da Religião em Dostoiévski" (editora 34).

Desconfiança
Em síntese, sua visão é de uma "desconfiança visceral" em relação às "promessas de felicidade da modernidade", ao "otimismo moderno", às certezas iluministas de progresso, a todo projeto utópico.
Admirador do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e, cada vez mais, de Nelson Rodrigues (1912-1980), Pondé já aceitou, sem queixas, o carimbo de "conservador", mas afirma agora que isso passou a incomodá-lo, já que é usado como pecha, ele diz, "como forma de excluir a pessoa do debate".
Em entrevista à Folha, no início do ano passado, criticou a "crença na razão como instrumento suficiente para o conhecimento", e afirmou sua "desconfiança com a idéia de que você possa jogar fora a tradição religiosa" e sua "contrariedade à idéia de ruptura -de que o ser humano possa inventar tudo a partir de hoje".
Pondé declara que gostaria de se inserir na tradição jornalística "que vai do crítico Otto Maria Carpeaux e de Nelson Rodrigues a Paulo Francis". "Gostaria de fazer na coluna uma quebra da unanimidade em relação às grandes crenças, preconceitos e manipulações que dominam o mundo intelectual. E fazer uma ponte entre o mundo acadêmico e o jornalismo", afirma. "Essa é uma espécie de plano de vôo."


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